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'Burn' e 'Stormbringer', os 40 anos de uma grande mudança no Deep Purple

Combate Rock

27/01/2015 07h00

Marcelo Moreira

Deep_Purple_-_Burn

Nova formação, mudança parcial de estilo e dois álbuns de alta qualidade – e tudo isso passando por turbulências e com um líder genioso e genial colocando tensão ambiente. Poucos artistas conseguiram isso na história do rock de forma tão magistral quanto o Deep Purple . O grupo é um modelo de perseverança e tenacidade quando analisamos os álbuns "Burn" e "Stormbringer", lançados em 1974 com a terceira formação.

Os dois álbuns excelentes surgiram depois da segunda reformulação radical da formação, fruto principalmente da convivência complicada entre o guitarrista Ritchie Blackmore, que assumiu as rédeas da banda em 1969, e vocalista Ian Gillan.

O cantor e o baixista Roger Glover deram um novo ânimo ao Purple em julho de 1969, quando substituíra, Rod Evans e Nick Simper, respectivamente. Fundado no ano anterior, e com três álbuns, o quinteto parecia perdido e sem futuro. Os novos integrantes salvaram a lavoura.

O auge veio logo: depois do conceitual/erudito "Concert for Group and Orchestra", emendaram álbuns fantásticos como "In Rock" (1970), "Fireball (1971) e "Machine Head" (1972), as coisas começaram a ficar estranhas com o bom "Who Do We Think We Are" (1973). Gillan e Blackmore entraram em choque e o vocalista saiu, junto com Glover.

Aparentemente, estavam em um beco escuro e sem esperança, até que alguém sugeriu que Glenn Hughes, baixista e vocalista do Trapeze, excelente cantor. Convencê-lo a entrar no Deep Purple não nada difícil, mas Blackmore queria um cantor para dividir os vocais com o baixista que evitar que este recebesse quase toda a atenção.

A primeira opção era Paul Rodgers, que estava saindo do Free e criando o Bad Company. Surpreso com a sondagem, ele questionou: "Por que me querem, ou outro cantor, se vocês têm um talento nato como Glenn?" Rodgers, de qualquer forma, queria criar um projeto novo e descartou.

Várias opções foram consideradas, até que um ex-balconista de loja de roupas leu um anúncio em um jornal de música oferecendo audição para uma banda importante. David Coverdale apareceu e surpreendeu, após seis horas de um teste rigoroso. Mal sabiam todos os integrantes que o peso do hard rock/heavy rock do Deep Purple ganharia um acento funk/soul que se tornaria um marco do estilo.

Deep Purple-Stormbringer

"Burn" foi lançado no primeiro semestre de 1974, e foi um estouro. "Burn", a música, e "Mistreated" fizeram parte da trilha sonora necessária dos anos 70, além de coisas excelentes como "Might Just Take Your Life", "Lay Down, Stay Down" e "You Fool No One". Não poderia ser melhor o renascimento de um dos gigantes do rock.

A nova formação deu tão certo que a agenda de shows lotou, mas Ritchie Blackmore não quis perder tempo: levou a banda para o estúdio meses depois para manter a chama. "Stormbringer" foi gravado bem rapidamente e chegou ao mercado no finalzinho do ano. Não é um álbum tão impressionante quanto o anterior, mas ainda assim é muito bom, puxando pela faixa-título e pelas bombásticas "Lady Double Dealer" e "High Ball Shooter", além da mencionar as belas "Holy Man", cantada por Hughes, e "Soldier of Fortune", grande balada emocional na voz de Coverdale.

Blackmore acertou em levar todo mundo para o estúdio rápido, porque já havia rachaduras na formação. O ano de 1975 começou com muitos shows, e muita rabugice do guitarrista egocêntrico e genial. O problema é que ele perdia apoio com a apatia e omissão do tecladista Jon Lord e do baterista Ian Paice. Coverdale e Hughes puxavam a banda cada vez mais para o funk, o blues e o soul. "O sonho de Glenn sempre foi ser Stevie Wonder", ironizou Lord em uma entrevista a uma revista brasileira de música em 2000.

Infeliz e raivoso, Blackmore deixou o Deep Purple em maio de 1975, após o fim da turnê europeia, deixando o caminho livre para mudanças ainda mais radicais na banda. A tendência com mais groove e suingue necessitava de um guitarrista de acordo, e o norte-americano Tommy Bolin foi a escolha mágica. Tão mágica que, infelizmente durou pouco, já que os excessos dele e de Hughes com drogas e álcool implodiram o quinteto em 1976.

Apesar da trajetória acidentada entre 1973 e 1976, o Deep Purple teve coragem suficiente para fazer alterações bastante arriscadas, que podem certamente estar entre as mudanças mais bem-sucedidas do rock. Ainda que um pouco tardiamente, os 40 anos de "Burn" e "Strmbringer" devem ser celebrados.

A terceira formação do Deep Purple: em pé, da esq. para a dir., Ritchie Blackmore, Glenn Hughes e David Coverdale; agachado, Ian Paice; sentado, Jon Lord (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A terceira formação do Deep Purple: em pé, da esq. para a dir., Ritchie Blackmore, Glenn Hughes e David Coverdale; agachado, Ian Paice; sentado, Jon Lord (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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