AC/DC vence de novo e atropela os obstáculos em 'Rock or Bust'
Marcelo Moreira
Eles não decepcionam. Passam por cima, atropelam, seguem em frente, e ninguém ousa atrapalhar. Foram 30 anos de relativa paz, sem grandes turbulências – talvez só o rápido período de reabilitação do álcool de Malcolm Young entre 1988 e 1989 -, e a máquina devastadora do AC/DC seguiu seu curso de forma valente e segura.
Mas eis que a realidade resolveu dar uns pontapés na banda novamente – a morte do cantor Bon Scott, em 1980, não fui suficiente? Sem Malcolm Young, que caiu doente e não volta mais, o quinteto (ou quarteto?) lança seu novo álbum na próxima semana envlto em névoas: "Rock or Bust" vai honrar a tradição?
Sim, honra e mito bem. Havia o temos de que a banda poderia perder o rumo sem o "patrão" Malcolm Young, mas segurou a onda no novo trabalho. É o AC/DC de sempre: forte, vigoroso, animado, afiado, cortante. Melhor do que o ótimo "Black Ice", de 2008, o CD anterior? Talvez não, mas apenas por muito pouco.
As duas músicas liberadas para audição em outubro, "Rock or Bust" e "Play Ball", que se tornaram singles, mostraram como o álbum novo soaria: leve, acelerando, penetrante e para cima, rock de bom gosto, sempre injetando frescor a um mercado que parece engessado em um pop insosso e sem inspiração, como observamos nos mais recentes trabalhos de U2 e Foo Fighters.
As duas músicas, que abrem "Rock or Bust", introduzem a festa de forma soberana. sempre lembrando que o AC/DC hiberna por anos, mas quando ressurge, vem com força e inteligência, injetando frescor e motivação, ainda que fazendo o "mesmo de sempre".
Um álbum do AC/DC precisa ser entendido de uma forma diferente, quando evoluir não significa inovar, mudar ou enfiar algo diferente. No todo, o álbim não difere muito do climão de "Ballbreaker" (1995), "Stiff Upper Lip" (2000) e "Black Ice" (2008). Muitas ideias são bastante semelhantes, os temas se repetem, a estrututa melódica é a mesma. Onde está a graça e a qualidade?
"É só rock, simples assim. Gostamos de tocar e de sair por aí. Fazemos o que gostamos e somos bem pagos por isso", disse em entrevista recente o vocalista Brian Johnson a ma emissora inglesa de TV. Mesmo se levando bastante a sério, o AC/DC é despojado e simples, sem truques ou invenções, embora dê uma atenção obsessiva à qualidade das execuções, tanto em estúdio como no palco.
E é na execução das músicas que o AC/DC se diferencia, seja nos hits ou nas novas. O talento e a qualidade instrumental fazem toda a diferença, mesmo em canções aparentemente iguais e aparentemente mecânicas.
É o caso da ótima "Rock the Blues Away", um boogie que poderia muito bem estar nos ábuns dos anos 80, com sua linha melódica cativante e bom duelo de guitarras. "Miss Adventure" é mais básica, reta, sem grandes arroubos, mas agrada por ser dançante e sem audácia.
"Dogs of War", por sua vez, resgata o clima mais denso de "War Machine", do álbum anterior, com doses maciças de guitarras dobradas e solos matadores de Angus Young, agora o novo "chefão". A música e pesada, sólida como um muro de concreto, desafiadora e ameaçadora.
Na sequência, uma trinca para tremer as paredes da festa. Rock'n'roll puro, sem firulas e que vão direto ao ponto. "Got Some Rock'n'Roll & Thunder" e "Hard Times" remetem, até certo ponto, aos momentos mais gloriosos de álbuns como "Powerage" e "Highway to Hell", formando aquela cama sonora perfeita para segurar o clima e manter o alto astral com peso, velocidade, ironia e humor. Não são memoráveis, mas são boas o bastante para mostrar que "Rock or Bust" é alo diferente do qu temos no mercado hoje.
"Baptism of Fire" é um pouco superior graças aos solos de Angus, assim como a faixa seguinte, a suingada "Rock the House", que parece emergir diretamente de "Flick and the Switch" (1983), som uma sonoridade aparentemente datada, mas bastante eficiente.
O suingue e o boogie dão o tom na lasciva e sensual "Sweet Candy", com a bateria marcial e firme marcando os floreios guitarrísticos. O falso clima de sofisticação de arranjos e soluções melódicas é um dos exemplos de como se pode fazer algo diferente mesmo em algo que é a mesma coisa de sempre.
O hard blues carregado "Emission Control" encerra o trabalho de forma saisfatória, embora sem brilho, lembrando os momentos menos inspirados do bom álbum "Stiff Upper Lip". Somente aqui (ainda bem) fica a sensação de que é mais do mesmo, soando quase desnecessária.
O AC/DC é, ao lado do Motorhead e do Ramones, a banda por excelência que consegue fazer "sempre a mesma coisa" e fazer com que o resultado fiquem bom, sempre.
As três fazem (ou faziam, no caso dos Ramones) de forma interessante, com qualidade, boas doses de inteligência e, dependendo do grau de exigência, acrescentando aqui e ali algum elemento surpreendente ou inovador (no caso do Motorhead, principalmente).
O AC/DC venceu de novo, ainda que "Rock or Bust" não se torne clássico – como "Black Ice", que é um pouco superior, não se tornou. É AC/DC, e isso já diz muito, mas muito mesmo.
O álbum deve ser lançado oficialmente nos próximos dias, mas desde já pode ser considerado um dos melhores de 2014, não só pela qualidade do álbum, que é muito bom, mas pela falta de concorrentes à altura.
Steve Young, sobrinho de Malcolm e Angus, assume de vez lugar do guitarrista ex-líder afastado, acometido por um derrame cerebral ou demência, depndendo da fonte da informação. Nem de longe de compromete, mas é evidente que não tem uma gota do carisma e a força rítmica de Malcolm.
Phil Rudd (bateria) participou de boa parte das gravações no Canadá, no meio deste ano, senão de sua totalidade, mas sua permanência é incerta na banda por conta de problemas com a Justiça da Nova Zelândia, onde mora. Está sendo acusado de contratar pistoleiros para tentar assassinar a menos uma pessoa.
Nas fotos promocionais de "Rock or Bust", o AC/DC aparece como um quarteto e, no clipe de "Play Ball", quem está nas baquetas é Bob Richards, da banda solo do guitarrista Adrian Smith (Iron Maiden), embora quase não seja focalizado. A banda ainda não informou se Rudd permanece ou se ao menos participará da turnê mundial de 2015.
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