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AC/DC vence de novo e atropela os obstáculos em 'Rock or Bust'

Combate Rock

25/11/2014 14h24

Marcelo Moreira

Eles não decepcionam. Passam por cima, atropelam, seguem em frente, e ninguém ousa atrapalhar. Foram 30 anos de relativa paz, sem grandes turbulências – talvez só o rápido período de reabilitação do álcool de Malcolm Young entre 1988 e 1989 -, e a máquina devastadora do AC/DC seguiu seu curso de forma valente e segura.

Mas eis que a realidade resolveu dar uns pontapés na banda novamente – a morte do cantor Bon Scott, em 1980, não fui suficiente? Sem Malcolm Young, que caiu doente e não volta mais, o quinteto (ou quarteto?) lança seu novo álbum na próxima semana envlto em névoas: "Rock or Bust" vai honrar a tradição?

Sim, honra e mito bem. Havia o temos de que a banda poderia perder o rumo sem o "patrão" Malcolm Young, mas segurou a onda no novo trabalho. É o AC/DC de sempre: forte, vigoroso, animado, afiado, cortante. Melhor do que o ótimo "Black Ice", de 2008, o CD anterior? Talvez não, mas apenas por muito pouco.

As duas músicas liberadas para audição em outubro, "Rock or Bust" e "Play Ball", que se tornaram singles, mostraram como o álbum novo soaria: leve, acelerando, penetrante e para cima, rock de bom gosto, sempre injetando frescor a um mercado que parece engessado em um pop insosso e sem inspiração, como observamos nos mais recentes trabalhos de U2 e Foo Fighters.

As duas músicas, que abrem "Rock or Bust", introduzem a festa de forma soberana. sempre lembrando que o AC/DC hiberna por anos, mas quando ressurge, vem com força e inteligência, injetando frescor e motivação, ainda que fazendo o "mesmo de sempre".

Foto promocional do AC/DC divulgada como um quarteto, sem Phil Rudd. Stevie Young, sobrinho de Malcolm e Angus, e substituto do primeiro, é o segundo da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Foto promocional do AC/DC divulgada como um quarteto, sem Phil Rudd. Stevie Young, sobrinho de Malcolm e Angus, e substituto do primeiro, é o segundo da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Um álbum do AC/DC precisa ser entendido de uma forma diferente, quando evoluir não significa inovar, mudar ou enfiar algo diferente. No todo, o álbim não difere muito do climão de "Ballbreaker" (1995), "Stiff Upper Lip" (2000) e "Black Ice" (2008). Muitas ideias são bastante semelhantes, os temas se repetem, a estrututa melódica é a mesma. Onde está a graça e a qualidade?

"É só rock, simples assim. Gostamos de tocar e de sair por aí. Fazemos o que gostamos e somos bem pagos por isso", disse em entrevista recente o vocalista Brian Johnson a ma emissora inglesa de TV. Mesmo se levando bastante a sério, o AC/DC é despojado e simples, sem truques ou invenções, embora dê uma atenção obsessiva à qualidade das execuções, tanto em estúdio como no palco.

E é na execução das músicas que o AC/DC se diferencia, seja nos hits ou nas novas. O talento e a qualidade instrumental fazem toda a diferença, mesmo em canções aparentemente iguais e aparentemente mecânicas.

É o caso da ótima "Rock the Blues Away", um boogie que poderia muito bem estar nos ábuns dos anos 80, com sua linha melódica cativante e bom duelo de guitarras. "Miss Adventure" é mais básica, reta, sem grandes arroubos, mas agrada por ser dançante e sem audácia.

"Dogs of War", por sua vez, resgata o clima mais denso de "War Machine", do álbum anterior, com doses maciças de guitarras dobradas e solos matadores de Angus Young, agora o novo "chefão". A música e pesada, sólida como um muro de concreto, desafiadora e ameaçadora.

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Na sequência, uma trinca para tremer as paredes da festa. Rock'n'roll puro, sem firulas e que vão direto ao ponto. "Got Some Rock'n'Roll & Thunder" e "Hard Times" remetem, até certo ponto, aos momentos mais gloriosos de álbuns como "Powerage" e "Highway to Hell", formando aquela cama sonora perfeita para segurar o clima e manter o alto astral com peso, velocidade, ironia e humor. Não são memoráveis, mas são boas o bastante para mostrar que "Rock or Bust" é alo diferente do qu temos no mercado hoje.

"Baptism of Fire" é um pouco superior graças aos solos de Angus, assim como a faixa seguinte, a suingada "Rock the House", que parece emergir diretamente de "Flick and the Switch" (1983), som uma sonoridade aparentemente datada, mas bastante eficiente.

O suingue e o boogie dão o tom na lasciva e sensual "Sweet Candy", com a bateria marcial e firme marcando os floreios guitarrísticos. O falso clima de sofisticação de arranjos e soluções melódicas é um dos exemplos de como se pode fazer algo diferente mesmo em algo que é a mesma coisa de sempre.

O hard blues carregado "Emission Control" encerra o trabalho de forma saisfatória, embora sem brilho, lembrando os momentos menos inspirados do bom álbum "Stiff Upper Lip". Somente aqui (ainda bem) fica a sensação de que é mais do mesmo, soando quase desnecessária.

O AC/DC é, ao lado do Motorhead e do Ramones, a banda por excelência que consegue fazer "sempre a mesma coisa" e fazer com que o resultado fiquem bom, sempre.

As três fazem (ou faziam, no caso dos Ramones) de forma interessante, com qualidade, boas doses de inteligência e, dependendo do grau de exigência, acrescentando aqui e ali algum elemento surpreendente ou inovador (no caso do Motorhead, principalmente).

O AC/DC venceu de novo, ainda que "Rock or Bust" não se torne clássico – como "Black Ice", que é um pouco superior, não se tornou. É AC/DC, e isso já diz muito, mas muito mesmo.

O álbum deve ser lançado oficialmente nos próximos dias, mas desde já pode ser considerado um dos melhores de 2014, não só pela qualidade do álbum, que é muito bom, mas pela falta de concorrentes à altura.

Steve Young, sobrinho de Malcolm e Angus, assume de vez lugar do guitarrista ex-líder afastado, acometido por um derrame cerebral ou demência, depndendo da fonte da informação. Nem de longe de compromete, mas é evidente que não tem uma gota do carisma e a força rítmica de Malcolm.

Phil Rudd (bateria) participou de boa parte das gravações no Canadá, no meio deste ano, senão de sua totalidade, mas sua permanência é incerta na banda por conta de problemas com a Justiça da Nova Zelândia, onde mora. Está sendo acusado de contratar pistoleiros para tentar assassinar a menos uma pessoa.

Nas fotos promocionais de "Rock or Bust", o AC/DC aparece como um quarteto e, no clipe de "Play Ball", quem está nas baquetas é Bob Richards, da banda solo do guitarrista Adrian Smith (Iron Maiden), embora quase não seja focalizado. A banda ainda não informou se Rudd permanece ou se ao menos participará da turnê mundial de 2015.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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