Novas caras do pop rock: a urgência de Frateschi e o refinamento do Lítera
Marcelo Moreira
Falta público, faltam consumidores e faltam lugares para tocar música autoral. Porém, poderia estar pior, mas ainda restam artistas criativos no pop rock nacional que, movidos por idealismo ou mesmo necessidade artística, insistem em trabalhar com música e mexer um pouco com um mercado quase morto no Brasil. O pop rock está na UTI, mas tem gente que se recusa a acreditar nisso.
O ator e cantor André Frateschi, baseado em São Paulo, decidiu tardiamente que deveria registrar as suas músicas em CD e não economizou na ousadia. O CD é duplo, com embalagem digipack e excelente acabamento, e traz uma música que mistura várias tendências sem abandonar a temática urbana. Experiente nos palcos – mantém projetos tributos dedicados a David Bowie e Amy Winhouse ao lado da mulher, a cantora Miranda Kassin -, Frateschi consegue se destacar fazendo um rock simples, com tempero altamente pop, mas com letras bem sacadas, que acabam se tornando o diferencial de seu "Maximalista", o nome do álbum de estreia.
Hábil com as palavras, mesmo abusando das ironias e do sarcasmo, canta em ritmo de sátira, mas com bons recursos vocais. Não tão escrachado quanto outro paulistano, Aletrix, Frateschi exercita seu lado cronista na interessante "Todo Mundo é Uma Ilha", que tem algum parentesco temático com "Sonífera Ilha", dos Titãs, e com"A Máquina Preenche". Tudo é muito urgente, intenso, com respiração acelerada, com determinadas partes bastante hipnóticas, realçando o bom trabalho de guitarras de Mauro Motoki.
A influência do rock britânico está no DNA do cantor, em especial o setentismo explícito de David Bowie e o britpop dos anos 80 – há referências do som som de Smiths, The Cure e, com um pouquinho de boa vontade, de Big Country. "Gosto da Raiva" e "Isso é Coisa pra Homem" são mais intimistas, e são destaques, junto com "A Queda", com letras mais orgânicas e mais fortes. Representam de cara o que é e a que vem "Maximalista".
O álbum não é inovador, mas é uma opção interessante e diferente dentro do pop rock nacional, um músico experiente e com olhar mais fresco a respeito do gênero. Não criou hits radiofônicos, seu álbum tem uma certa ligação entre as faixas, recomendando uma audição completa e direta.
"Maximalista foi produzido no estúdio 12 Dólares em São Paulo, por Fábio Pinczowski e Mauro Motoki, que também se apresentam no teclado e guitarra respectivamente, "Maximalista" conta ainda com André Abujamra (Karnak) nas guitarras; Loco Sosa (Agridoce) e Luis Andre Gigante na bateria, Dudinha Lima (Lobão) e Zé Mazzei (Forgotten Boys) no baixo.
O álbum ainda traz a participação do pianista Mike Garson (David Bowie, Nine Inch Nails e Smashing Pumpkins) em 6 faixas; "Tudo vai dar Tempo", "Eu Não Tenho Saco", "Gosto da Raiva", "Isso é Coisa pra Homem", "É Tudo Nosso" e "Queda". Fora isso, compôs e gravou especialmente para André Frateschi "Soul Searching", que fecha o disco.
Do Rio Grande do Sul vem uma experiência pop no mínimo inusitada. A banda Lítera foi fundo na ousadia ao buscar não inspiração na história do Brasil, mas transpô-la de forma coerente e sem cometer exageros. "EP 1 -A Marquesa",o primeiro EP, assim como o segundo, "EP 2 – O Imperador", têm como base a época da independência nacional, contando a vida de algumas figuras, como o Imperador Dom Pedro I, a Marquesa de Santos e algumas das mulheres que foram amantes do monarca.
O som, na primeira audição, soa datado: somos transportados por harmonias e arranjos típicos dos anos 80, com guitarras melódicas, mas sem peso. O trabalho vocal é bem feito, sem ser primoroso, mas feito na medida parra contar historietas com doses certas de humor e ironia. As letras são o ponto alto, construídas de forma a lembrar cantigas, mas sem pieguices. "Domitila", o primeiro single, é dançável e tem refrões ganchudos, e é uma boa amostra do que o Lítera pretende.
Outras boas ideias estão em "Sofá" e em "Amantes", esta última já do segundo EP. "Vai Passar", também do segundo, é mais oitentista ainda, mas com a guitarra assumindo o protagonismo com toques de MPB e solos que remetem a momentos de bossa nova. Os arranjos são de bom gosto, com toques de Dexys Midnight Runners, com a linha de guitarra viajante e expressiva sendo o fio condutor da música.
A combinação do pop refinado com temas históricos pode ser considerada uma novidade, já que se trata de um trabalho conceitual – algum bastante comum no rock pesado brasileiro. Por se tratar de um trabalho um pouco mais sofisticado, talvez os dois EPs da Lítera tenham um pouco mais de dificuldade para atingir algo além de um público específico, mas é inegável que há potencial para voos mais altos. Criatividade e inventividade existem na iniciativa dos garotos mostrar ao menso algo diferente em um panorama de terra arrasada.
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