Projetos de Max e Andreas mostram que reunião do Sepultura não faz sentido
Marcelo Moreira
O mundo precisa realmente do retorno da formação clássica do Sepultura, com a volta dos irmãos Cavalera? A julgar pelos mais recentes trabalhos das duas facções, o desejo de boa parte dos fãs e de muitos jornalistas não faz sentido.
"Estou satisfeitíssimo com a parceria com meu irmão Iggor no Cavalera Conspiracy e adorei fazer o álbum do Killer Be Killed", declarou Max Cavalera ao site UOL em julho passado. "A qualidade do último álbum do Seultura, e os muios elogios que recebemos, mostram que estamos no caminho certo", diz Andreas Kisser, hoje o lider do Sepultura.
O Cavalera Conspiracy toca no Brasil em setembro com um show poderoso e mito pesado, mas sem as constantes experimentações do Soulfly, o grupo principal de Max Cavalera. "Inlikted" e "Blunt for Trauma" soam modernos e furiosos, o que, de alguma forma poderia dar alguma ideia de como poderia soar o Sepultura caso a dupla fundadora ainda estivesse na banda.
Já o Killer Be Killed é um projeto interessante que reúne alguns dos nomes alguns dos nomes mais estrelados do metal extremo baseado nos Estados Unidos. Max Cavalera, sem o irmão Iggor, se juntou a Greg Puciato (The Dillinger Escape Plan), David Elitch (ex-The Mars Volta) e Troy Sanders (Mastodon) para criar um thrash metal mais melódico e com raízes mais progressivas (cortesia de Elitch e Sanders), mas ainda assim brutal e violento (infuência direta de Max).
O álbum do projeto, auto-intitulado, tem uma produção cuidadosa e uma parede de guitarras ensurdecedora, feito na medida para agradar aos mais radicais e também aos que gostam de uma novidade. O grande mérito do quarteto é concilicar de forma interessante a violência e a melodia, formando um casamento quase perfeito, temperado com bastante velocidade e uma pegada de thrash californiano oitentista.
Já o Sepultura de Andreas hoje é mais audacioso e ousado, o que irrita cada vez mais os puristas – quase todos partidários da volta da formação clássica. "Kairos", de 2011, aprofundava a busca por elementos mais obscuros e experimentais, flertando abertamente com o metal progressivo. O resultado foi excelente, empurrando o quarteto brasileiro para um terreno pantanoso, mas que foi dominado com competência.
"The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart", o álbum do ano passado, segue na mesma linha, ainda que não tenha tanta novidade enquanto conceito. Entretanto, restabelece o Sepultura como força importante do metal internacional, já que o lançamento coincidiu com a volta das turnês pela Europa e o aparecimento em diversos festivais em 2014.
A ousadia também é a marca de um projeto paralelo de Kisser na América Latina. O guitarrista brasileiro se juntou aos argentinos Sr. Flavio (baixista dos Fabulosos Cadillcacs) e Andrés Gimenes (vocalista e guitarrista do A.N.I.M.A.L.) e ao mexicano Alex González (baterista do Maná) para criar um thrash cantado em espanhol na banda De La Tierra, com evidentes toques latinos e muito groove. Lembra em muitas passagens o Pantera e o Down.
Surpreendente, o álbum foi muito bem recebido na Argentina, no Chile, no México e no Peru, mas teve desempenho mais discreto no Brasil, demonstrando como ainda persiste o preconceito dos roqueiros brasileiros com música pesada cantada em outras línguas que não sejam o inglês e o português.
O estilo cadenciado torna o som um pouco mais acessível e menos violento do que a música do Brujeria, mas ainda assim é muito pesado. "San Asesino", com letra de Kisser, e "Somos Uno" dão o tom do álbum, que consegue dosar muito bem as partes melódicas com o peso distrocido que lembra muito os melhores momentos do Fear Factory e do Deftones.
"Maldita Historia" resvala no metalcore, mas é instigante, enquanto que "Cosmonauta Quechua" e "Reducidores de Cabezas" são puro thrash metal, com linhas de baixo precisas e rápidas, com destaque para González, um autêntico demolidor de tambores e uma maquininha de ritmo alucinante – uma surpresa vindo de alguém que toca no Jota Quest ou Skank do México.
De La Tierra desde já é um marco no heavy metal latino-americano, mas tem potencial para melhorar ainda mais, desde que consiga se manter como uma banda orgânica, e não um simples projeto paralelo de seus membros.
Com tanta coisa boa rolando, será que precisamos mesmo da volta do Sepultura clássico?
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