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Projetos de Max e Andreas mostram que reunião do Sepultura não faz sentido

Combate Rock

28/08/2014 06h42

Marcelo Moreira

O mundo precisa realmente do retorno da formação clássica do Sepultura, com a volta dos irmãos Cavalera? A julgar pelos mais recentes trabalhos das duas facções, o desejo de boa parte dos fãs e de muitos jornalistas não faz sentido.

"Estou satisfeitíssimo com a parceria com meu irmão Iggor no Cavalera Conspiracy e adorei fazer o álbum do Killer Be Killed", declarou Max Cavalera ao site UOL em julho passado. "A qualidade do último álbum do Seultura, e os muios elogios que recebemos, mostram que estamos no caminho certo", diz Andreas Kisser, hoje o lider do Sepultura.

O Cavalera Conspiracy toca no Brasil em setembro com um show poderoso e mito pesado, mas sem as constantes experimentações do Soulfly, o grupo principal de Max Cavalera. "Inlikted" e "Blunt for Trauma" soam modernos e furiosos, o que, de alguma forma poderia dar alguma ideia de como poderia soar o Sepultura caso a dupla fundadora ainda estivesse na banda.

Já o Killer Be Killed é um projeto interessante que reúne alguns dos nomes alguns dos nomes mais estrelados do metal extremo baseado nos Estados Unidos. Max Cavalera, sem o irmão Iggor, se juntou a Greg Puciato (The Dillinger Escape Plan), David Elitch (ex-The Mars Volta) e Troy Sanders (Mastodon) para criar um thrash metal mais melódico e com raízes mais progressivas (cortesia de Elitch e Sanders), mas ainda assim brutal e violento (infuência direta de Max).

O álbum do projeto, auto-intitulado, tem uma produção cuidadosa e uma parede de guitarras ensurdecedora, feito na medida para agradar aos mais radicais e também aos que gostam de uma novidade. O grande mérito do quarteto é concilicar de forma interessante a violência e a melodia, formando um casamento quase perfeito, temperado com bastante velocidade e uma pegada de thrash californiano oitentista.

max killed

Já o Sepultura de Andreas hoje é mais audacioso e ousado, o que irrita cada vez mais os puristas – quase todos partidários da volta da formação clássica. "Kairos", de 2011, aprofundava a busca por elementos mais obscuros e experimentais, flertando abertamente com o metal progressivo. O resultado foi excelente, empurrando o quarteto brasileiro para um terreno pantanoso, mas que foi dominado com competência.

"The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart", o álbum do ano passado, segue na mesma linha, ainda que não tenha tanta novidade enquanto conceito. Entretanto, restabelece o Sepultura como força importante do metal internacional, já que o lançamento coincidiu com a volta das turnês pela Europa e o aparecimento em diversos festivais em 2014.

A ousadia também é a marca de um projeto paralelo de Kisser na América Latina. O guitarrista brasileiro se juntou aos argentinos Sr. Flavio (baixista dos Fabulosos Cadillcacs) e Andrés Gimenes (vocalista e guitarrista do A.N.I.M.A.L.) e ao mexicano Alex González (baterista do Maná) para criar um thrash cantado em espanhol na banda De La Tierra, com evidentes toques latinos e muito groove. Lembra em muitas passagens o Pantera e o Down.

Surpreendente, o álbum foi muito bem recebido na Argentina, no Chile, no México e no Peru, mas teve desempenho mais discreto no Brasil, demonstrando como ainda persiste o preconceito dos roqueiros brasileiros com música pesada cantada em outras línguas que não sejam o inglês e o português.

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O estilo cadenciado torna o som um pouco mais acessível e menos violento do que a música do Brujeria, mas ainda assim é muito pesado. "San Asesino", com letra de Kisser, e "Somos Uno" dão o tom do álbum, que consegue dosar muito bem as partes melódicas com o peso distrocido que lembra muito os melhores momentos do Fear Factory e do Deftones.

"Maldita Historia" resvala no metalcore, mas é instigante, enquanto que "Cosmonauta Quechua" e "Reducidores de Cabezas" são puro thrash metal, com linhas de baixo precisas e rápidas, com destaque para González, um autêntico demolidor de tambores e uma maquininha de ritmo alucinante – uma surpresa vindo de alguém que toca no Jota Quest ou Skank do México.

De La Tierra desde já é um marco no heavy metal latino-americano, mas tem potencial para melhorar ainda mais, desde que consiga se manter como uma banda orgânica, e não um simples projeto paralelo de seus membros.

Com tanta coisa boa rolando, será que precisamos mesmo da volta do Sepultura clássico?

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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