Topo

Lollapalooza entregou bem mais do que prometeu

Combate Rock

07/04/2014 12h00

Marcelo Moreira

O sol quente presenteou os espectadores do Lollapalooza 2014 em São Paulo e coroou um evento que teve um saldo bastante positivo no geral, inclusive na área musical, onde o risco era grande de tédio e de apresentações insípidas – um evento que reúne no mesmo palco popices risíveis como Lorde e Ellie Goulding corre o risco de naufragar na área artística.

Se não havia grandes novidades, o Lolla 2014 tinha de ganhar a plateia pela qualidade de seus shows, e isso ocorreu graças especialmente aos veteranos. Soundgarden, Pixies e Johnny Marr foram bem, sem invenções ou presepadas. Rock honesto e bem feito, com um punhado de hits e um público disposto a venerá-los. Não tinha como dar errado.

Arcade Fire não comprometeu, embora tenha sido relativamente decepcionante, e o New Order, como o esperado, fez uma apresentação insossa e tediosa. Muse foi o ótimo espetáculo que se esperava, assim como o Nine Inch Nails, enquanto que o Imagine Dragons surpreendeu ao agitar bastante o público, ainda que a toques de músicas fracas e execução idem.

Em um evento que reuniu 160 mil pessoas em dois dias, as reclamações são mais do que esperadas. No primeiro dia, com cerca de 90 mil pessoas se aglomerando no autódromo, houve pouca margem de manobra para transitar entre os palcos. No domingo havia menos gente e a circulação foi mais fácil. O som também desagradou parte do público, principalmente para quem ficou mais longe dos palcos. Em alguns shows, houve falhas na equalização, deixando o som abafado.

Foi bom ver os Pixies na batalha de novo, com dignidade e qualidade, mesmo sem Kim Deal, a baixista que agora se dedica somente às Breeders. Todos os clássicos estavam lá, com um concentrado Frank Black mandando ver com fúria e certa arrogância, mostrando completo domínio do palco.

O Soundgarden também impressionou com a postura digna e extremamente profissional. Dava para ver que a banda tinha plena consciência que tinha ganho nova chance e se esmerou e mostrar que a mereciam. Mais clássicos foram despejados, mas ninguém se incomodou. Chris Cornell é mais do que um vocalista, é um dos grandes frontmen da atualidade.

Chris Cornell mandou bem à frente do Soundgarden 9FOTO: DIVULGAÇÃO)

Chris Cornell mandou bem à frente do Soundgarden 9FOTO: DIVULGAÇÃO)

Johnny Marr foi outro que não quis inventar, e acertou. Com o baixista Andy Rourke na banda, meio Smiths subiu ao palco de Interlagos e a receptividade foi muito boa, mas o público claramente esperava pelos hits de sua ex-banda. E eles vieram, de forma leve, sem atropelos e com inteligência.

O Muse apostou no seu rock de arena e não se arrependeu, chacoalhando o autódromo com um repertório menos pesado e menos viajante. É uma banda moderna, inteligente e com bons argumentos musicais, transitando sem dificuldades pelo pop e pelo rock. Os mais exigentes clamaram por mais vigor e sangue no palco, diante do que consideraram um shows morno.

Descontado o fato de o vocalista e guitarrista Matt Bellamy estar com laringite – e cancelado o show da sexta-feira em São Paulo -, o grupo teve uma performance aceitável, sem ser contagiante ou esfuziante. Não comprometeu e agradou bastante.

 

O que ocorre é que talvez a expectativas fossem muito altas, já que a banda fez um bom shows no Rock in Rio 2013. Suas performances em DVD – tanto o HAARP como o mais, recente, gravado em Roma – podem ter induzido os fãs e o público em geral de que o trio é uma potência sonora e de apelo irresistível no palco, o que claramente não é.

Coisa semelhante parece acometer o canadense Arcade Fire, claramente superestimado, embora não seja ruim. A questão é que, como banda principal da noite, tinha de ter mostrado mais do que um pop dançante e acessível, mas pouco inovador e ousado. O grupo era acima da média quando surgiu, e parecia mostrar algo além de canções pop com arranjos diferenciados. Será que a banda na verdade é só isso mesmo ou estava em um dia não tão inspirado?

Merece uma menção honrosa os Raimundos, provavelmente o artista brasileiro que mais se destacou e que melhor aproveitou sua participação, ainda que o horário fosse péssimo – no comecinho da tarde, abrindo os trabalhos do domingo, com um público menor e com um calor insuportável. Dentro das condições impostas, fizeram um shows muito bom, divulgando o seu mais recente álbum, "Cantigas de Roda".

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock