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Panzer e Lothloryen, retornos mais do que esperados

Combate Rock

12/02/2014 07h04

Marcelo Moreira

As dificuldades cada vez maiores para tocar e lançar algum trabalho autoral não anda assustando artistas do rock nacional, em que pese as reclamações costumeiras – e que muitas vezes são pertinentes. O ano de 2013 registrou retornos importantes, como o do Dark Avenger, banda de metal tradicional de Brasília, e o ressurgimento de alguns pioneiros do rock pesado nacional, como Centúrias, Stress, Metalmorphose e outros. Uma dessas voltas foi a da banda paulistana Panzer, que teve alguma repercussão no início deste século.

"Honor" foi lançado no final do ano passado e mostra uma banda sedenta por violência e pancadaria. Hoje em dia qualquer banda consegue uma qualidade de produção no mínimo razoável, mas o Panzer acertou em cheio ao apostar na simplicidade e na crueza de seu thrash metal old school. Datado em alguns momentos? Sim, mas muito interessante ao resgatar timbres e um clima oitentista que remete aos primórdios do som extremo no Brasil. Qualquer semelhança com a Dorsal Atlântica não é mera coincidência – a influência da banda carioca é bem nítida.

Depois de mais de dez anos de hiato, a banda retorna com a formação original. "Honor" não tem firulas, invencionices ou barulhinhos: é porrada atrás de porrada, com solos cortantes e riffs muito pesados e contagiantes. As linhas de baixo das duas primeiras músicas oficiais – a primeira é uma vinheta de introdução -, "The Last Man on Earth" e "Heretic", são bem construídas, formando uma base pesadíssima na linha de Slayer e Anthrax, com muita variação e ataques precisos.

Entretanto, são as guitarras o destaque do álbum. Coesas, precisas e instigantes, garantem peso de sobra, mas também inteligência na elaboração de arranjos. Muita simplicidade com atenta observação ao encaixar bons solos e bases melódicas e rápidas, como em "Rising", "Savior" e "''Hastening To Death". Como novidade, "Alma Escancarada" fechando o álbum, com uma atmosfera apocalíptica em português, lembrando os melhores momentos de bandas ótimas como Project 46 e Confronto. Infelizmente o Panzer demorou para voltar.

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Quem também mostra um clima de retorno é a banda mineiro-paulistana de folk metal Lothloryen. Neste caso, os integrantes resolveram revisitar uma obra importante do metal nacional, "Some Ways Back No More", lançado em 2008 pela Die Hard Records no Brasil. Assim como outras bandas brasileiras, o grupo assinou contrato com a emergente gravadora/selo alemã Power Prog para distribuição de seus álbuns na Europa, e decidiu que a regravação do álbum seria a peça de trabalho para aquele continente.

Mais experiente e com gás renovado, o Lothloryen lapidou o bom álbum de seis anos atrás. A produção está mais encorpada, com uma mixagem mais adequada e trabalhada. Os teclados ganharam evidência e as guitarras estão bem mais nítidas, com detalhes de arranjos realçados e fraseados mais intensos destacados. Não para dizer que a regravação "melhorou" aquilo que era um álbum muito bom, mas não dá para negar que a "modernização" do som – ou atualização, como queiram – tornou o resultado bem mais interessante, agora com produção melhor e mais tempo para trabalhar.

Os habituais jogos de vozes continuam sendo prazerosos de ouvir, bem ao estilo do Savatage, como na ótima faixa de abertura "My Mind in Mordor". os solos de guitarra também são muito legais e bem feitos. A segunda faixa, "We Will Never Be the Same", ganhou um climão à la Blind Guardian, com equilíbrio interessante entre peso do metal e as harmonias características do folk. Novamente os vocais de apoio no estilo "jogral" mostram um grande diferencial, remetendo aos melhores momentos dos mineiros do Tuatha de Dannan.

"Hobbit's Song", o primeiro single, retoma a tradição do folk metal de mergulhar na obra do escritor inglês J. R. R. Tolkien ("Senhor dos Anéis"). A faixa destoa um pouco do peso do restante do álbum, com influências claras de Jethro Tull e Skyclad, abusando do blues na segunda metade da música, especialmente nos dois solos inspirados e totalmente setentistas.

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"White Lies" resgata uma sonoridade power metal dos anos 90 (Stratovarius?), mas sem grandes novidades, exceto pela ótima base de teclados. No entanto, tudo volta ao normal na ótima "Some Ways Back No More", um tremendo rockão oitentista, misturando o melhor do hard rock e do heavy metal, com remissões à banda solo de Ozzy Osbourne, ao Deep Purple e ao Judas Priest da fase anterior ao criticado "Turbo". A nova produção deixou a faixa mais poderosa, um baixo gordo e pesado dando o tom para que a guitarra passeie em solos afiados e técnicos.

A balada "Secret Time" ficou melhor na nova versão, com o piano mais destacado, enquanto que a pesada "The Grimoire" lembra os melhores dias de Dio e Saxon, com excelente trabalho de guitarras. O Lothloryen trilhou um caminho arriscado ao regravar uma obra lançada recentemente, e passou no teste ao apostar no potencial das canções, que ganharam força com a nova produção e as partes novamente gravadas.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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