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Manic Street Preachers, o lado subversivo do britpop - parte 1

Combate Rock

18/04/2015 21h37

Caio de Mello Martins – publicado originalmente no site Roque Reverso

Uma das bandas mais hypadas e polêmicas no cenário musical britânico dos Anos 90, aqui no Brasil, os Manic Street Preachers, se muito, encaixam uma ou duas músicas entre os clássicos de Britpop mais celebrados. É comum notar que mesmo fãs mais ardorosos do estilo, que costumam contar a história da própria vida por meio de versos de Oasis

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, Blur e Pulp, não conhecem a fundo a obra da banda.

Conta bastante para isso o fato de que os Manics (como são apelidados) são a ovelha negra do Britpop. A começar pela origem – a banda nasceu no País de Gales e se infiltrou no circuito londrino e cosmopolita do gênero. E, enquanto os grupos mais conhecidos bebiam do inventário musical inglês acumulado ao longo de 30 anos de tradição, os Manics tinham – ao menos no início – uma sonoridade decididamente americana.

Pode-se dizer que eles percorreram o caminho contrário da linha evolutiva do rock – uma banda punk a princípio, gritando palavras de ordem contra uma engessada parede de quatro acordes e se apresentando com trajes de guerrilha adornados com slogans em stencil, a banda posteriormente firmou suas raízes estéticas no glam rock, um dos pais do punk.

A mudança foi operada no final dos Anos 80, quando seus integrantes piraram o cabeção com "Appettite for Destruction", do Guns N' Roses, e outras bandas hair metal mais dadas a escândalos, como o Hanoi Rocks. A partir daí, o compositor principal e guitarra solo James Dean Bradfield se converteu numa máquina incontrolável de riffs de hard rock, temperados com solos memoráveis (daqueles que você canta nota por nota) cheios de licks espertos. Enquanto isso, seus companheiros Richey Edwards (guitarra base), Nicky Wire (baixo) e, em menor medida, Sean Moore (batera) trocaram o look Clash 77' por batons, delineadores, peles e muito glamour, meu bem.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Riffeira de hard rock e visual andrógino formam uma receita pra lá de manjada desde os Stones, e que produziu uma profusão de bandas-clones na época. James Dean Bradfield podia ser (e é) um ótimo compositor, mas o que diferenciava mesmo o grupo era Richey Edwards, uma das figuras mais enigmáticas do rock.

Debaixo de toda a frivolidade juvenil de seu visual, jazia um devorador de livros calcado na mais niilista, amarga e inquietante filosofia política do pós guerra. Aderindo à estratégia de sabotagem cultural extraída de pensadores situacionistas como Raoul Vaneigem e Guy Debord, Richie sabia que a crítica ao sistema só poderia alcançar as massas se feita dentro da lógica da sociedade do espetáculo.

Sua diversão era montar uma espécie de "oxímoro hard rock": contrapostas à viril e vibrante sonoridade, estavam imagens de holocausto, bombas atômicas, anorexia, suicídio e outros sintomas de barbárie presentes no inconsciente da frágil civilização ocidental, montada em cima de anos de guerra, violência e exploração de desigualdade social. Os batons e o olhar cheio de fatigue dos seus membros ganhavam contornos subversivos, quando usados para cantar a banalidade cotidiana de uma sociedade que só se realiza por meio do consumo e, estéril do ponto de vista da práxis, depende de figuras públicas fabricadas pelo marketing politico e pela indústria cultural para se ver representada. Sacou?

Claro que nada disso era expressado de modo muito explícito. Como porta voz da banda, Richey gostava de manipular a imprensa musical (que naquela época ainda era "O" grande filtro cultural e comportamental para jovens britânicos) com declarações jocosas e escândalos que geravam polarização do publico — a favor ou contra, o importante era ter exposição. Hoje isso seria impensável, mas em 1991 Richey resolveu mutilar seu braço com um canivete para escrever a frase "4REAL", em resposta a um crítico da NME que questionou sua sinceridade.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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