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O marcante e esfuziante baixo de Chris Squire está calado há cinco anos

Combate Rock

29/06/2020 16h37

Marcelo Moreira

Chris Squire (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A maior preocupação de Chris Squire quando foi diagnosticado com leucemia linfoide, em 2015, era com o fato de que teria de cancelar ou mesmo não participar de shows do seu Yes. "Nunca perdi um show na minha vida. Sou o único membro da banda que tocou em todos e que fez parte de todas as formações."

Infelizmente a preocupação durou pouco e ele acabou morrendo em junho daquele mesmo ano, aos 67 anos. Seus temores e previsões se concretizaram e nunca mais subiu ao palco com o Yes, a sua banda – era de sua sua propriedade, já que sempre deteve os direitos sobre o nome.

Um dos grandes baixistas do rock, estilista e virtuoso, foi o grande suporte do Yes por 48 anos. Chefão implacável e impiedoso – não hesitou em substituir e demitir o amigo e cofundador Jon Anderson quando este ficou doente, às vésperas da turnê de 40 anos, em 2008.

Ao lado de gigantes, como Anderson, o guitarrista Steve Howe, o tecladista Rick Wakeman e o baterista Bill Bruford, entre outros, transformou o quinteto de rock progressivo em uma referência de música de qualidade e excelência, ainda que os detratores apontem – com certa dose de razão – que a obra da banda descambou para a autoindulgência, para o cinismo, para a egolatria e até para a presunção e arrogância.

Squire nunca levou essas críticas a sério. Empurrou o Yes para o sucesso, a despeito das brigas com os amigos e com constantes trocas de integrantes. Sempre teve diferenças grandes com Wakeman, que adorava dizer que o Yes era uma "corporação", no pior sentido da palavra. No entanto, isso nunca os impediu de tocar juntos e compor clássicos.

Poucos grupos de rock trocaram tanto de integrantes como o Yes. A banda inglesa de rock progressivo, famosa pelo som complexo e refinado e pelas composições quilométricas, jamais emendou quatro anos com a mesma formação até 2015. E, no entanto, poucos grupos conseguiram reunir tamanha integridade e qualidade em sua trajetória, menos em seus trabalhos menos expressivos.

Esse, talvez, seja o maior legado de Chris Squire. Reconhecido como um dos baixistas fundamentais da história do rock – como John Entwistle (Who) e Jack Bruce (Cream), entre outros.

O baixista do Yes estabeleceu um conceito rigoroso de padrão musical, assim como de ética no trabalho, a despeito dos excessos de tudo nas vidas pessoais dos integrantes.

Eram muitas as divergências e discussões, mas eram qualidades que Jon Anderson, o vocalista cofundador do Yes, em 1968, admirava no companheiro.

Pragmático e exigente, Squire sempre foi um instrumentista focado e um gestor consciente das potencialidades da banda e de suas imensas possibilidades artísticas e empresariais. Segurou o Yes na ativa nos altos e nos baixos, transformando-o em uma instituição do rock progressivo.

Não bastasse o seu pragmatismo bem-sucedido, tinha uma visão ampla do negócio da música e nunca perdeu uma boa oportunidade de fazer avançar o status de sua banda ou mesmo de arrecadar um pouco mais de dinheiro – que significou, muitas vezes, convidar seguidas vezes outrora desafetos para retornar à banda – Jon Anderson em 1983, Steve Howe em 1994 e Rick Wakeman em 1996, entre outros.

Uma de suas boas sacadas foi acatar a ideia de Anderson de juntar os "dois Yes" em 1990, em uma formação com oito músicos que durou quase dois anos, entre 1990 e 1992. T

Todos os oito tiveram com passagens anteriores pela banda, mas com carreiras solo empacadas ou em recesso à época. Este período foi retratado oficialmente em um DVD e um CD ao vivo, em 2011.

A chamada "Yes Union Tour" começou em 1991 e terminou no início de 1992. Surgiu de forma "improvisada", se é que podemos chamar assim.

Hábil negociador

Quando o Yes terminou em 1981, após o fracassado do álbum "Drama", sem Jon Anderson, e da turnê subsequente, o baixista Chris Squire e o baterista Alan White tentaram formar uma banda com Jimmy Page e Robert Plant, ambos ex-Led Zeppelin.

O XYZ, nome do projeto, começou a ensaiar no final de 1981 em Los Angeles, mas Plant logo abandonou o projeto na primeira semana. Page desistiu um mês depois.

Sem saber o que fazer, Squire e White foram apresentados ao guitarrista sul-africano Trevor Rabin, que aceitou trabalhar com os dois. O ex-Yes Tony Kaye foi recrutado para o que viria a ser o Cinema.

No fim de 1982, durante as gravações do primeiro CD do Cinema, Jon Anderson visitou Squire no estúdio e adorou o que estavam fazendo. Convenceu os quatro de que seria interessante ele entrar na banda e renomeá-la como Yes. O álbum, "90125″, de 1983, estourou com o megahit "Owner of a Lonely Heart" e o grupo viveu seus maiores dias de glória.

Entretanto, as tensões entre os membros surgiram quatro anos depois, na turnê do álbum "Big Generator". A orientação mais pop irritou Anderson, que saiu do grupo novamente (como fizera em 1980). O Yes seguiu em frente com Rabin como vocalista.

Última formação do Yes com Squire: da esq. para a dir., Chris Squire (baixo), Alan White (bateria), Geoff Downes (teclados), Steve Howe (guitarra) e Jon Davidson (vocais) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Para fazer "pirraça" para o então ex-amigo Squire, Anderson, de brincadeira, reuniu três outros ex-Yes em sua casa para uma jam session e espalhou que seria um novo Yes.

Ele, Rick Wakeman (teclados), Steve Howe (guitarra) e Bill Bruford (bateria) se reuniram mais de uma vez e acabaram compondo algumas músicas. O que era brincadeira ficou sério e empresários correram para viabilizar a gravação de um novo álbum.

A ideia era que o grupo se chamasse Yes, mas Chris Squire, claro, não permitiu, primeiro porque ele detinha os direitos sobre o nome, e segundo porque ainda existia um Yes em atividade.

Com o nome de Anderson, Bruford, Wakeman and Howe, os quatro, mais o baixista Tony Levin (King Crimson) gravaram um CD, com o nome da banda apenas, e saíram em turnê mundial.

Enquanto isso, o Yes hibernava e muito lentamente começava os trabalhos para um novo álbum. A fome de bola do Yes alternativo era tanta que, ao final da turnê mundial, voltaram ao estúdio para gravar novo CD.

E eis então que Jon Anderson reata a amizade com Squire e Rabin em 1990, ao mesmo tempo em que a gravadora recusa algumas das ideias musicais do "Yes alternativo". Anderson pede a Rabin que ceda algumas músicas para reiniciar os trabalhos com o Anderson, Bruford, Wakeman and Howe.

O Yes como um octeto, em plena turnê (FOTO: DIVULGAÇÃO)

As músicas caem em cheio no gosto do "Yes alternativo" e então um empresário tem a ideia de remontar o Yes juntando os quatro músicos do Yes original e os quatro do alternativo, algo que já estava na cabeça de Squire. Cada um dos grupos já havia composto, gravado e mixado quatro músicas cada. Isso não foi impedimento, já que todas aparecem no CD "Union", lançado em 1991.

Pela primeira vez o Yes aparecia em CD como um octeto – vocal, baixo, duas guitarras, dois teclados e duas baterias. Essa formação saiu em turnê pelos Estados Unidos e Europa – o registro em DVD/CD que saiu em 2011 é desta turnê.

É claro que os egos inflados e enormes eram muito maiores do que o espaço no palco. Houve insatisfações, resmungos, mas nenhuma discussão grave. A turnê foi bem-sucedida, mas ao final cada músico seguiu seu caminho.

O Yes só retornaria em 1994 com o CD "Talk", com a formação que gravou "90125″ – Jon Anderson, Chris Squire, Tony Kaye, Trevor Rabin e Alan White. A turnê deste álbum passou pelo Brasil em 1995.

Quem assistiu aos shows na época ficou admirado ao constatar a qualidade técnica e o profissionalismo dos músicos em apresentações impecáveis, embora já sem a mesma empolgação dos anos 70.

Anúncio da Union Tour, em 1991: da esq. para a dir., Tony Kaye (teclados), Trevor Rabin (guitarra e vocais), Rick Wakeman (teclados), Alan White (bateria, com a camisa do Flamengo), Chris Squire (baixo), Jon Anderson (vocais), Bill Bruford (bateria) e Steve Howe (guitarra) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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