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Raul Seixas, 75 anos: sua ironia e inteligência continuam fazendo falta

Combate Rock

28/06/2020 14h19

Marcelo Moreira

Raul Seixas (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A morte lhe caiu bem. A expressão macabra, mas sintomática, foi proferida por um bom amigo que frequentou bastante o a de Raul Seixas no ano de sua morte.

Estudávamos jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e ele realizou um trabalho universitário entrevistando o roqueiro. Ficaram mito amigos até o fatídico dia 21 de agosto de 1989, quando Raulzito foi encontrado morto pela empregada no quarto. A rua Frei Caneca, pertinho da avenida Paulista, foi a última morada do baiano em São Paulo.

O mesmo amigo, após o velório e já no funeral, se saiu com outra pérola, roubada de Pete Townshewnd, o líder do Who, proferida 50 anos antes quando da morte do rolling stone Brian Jones: "Nos últimos tempos, o Raul praticamente morria todos os dias."

Controverso, polêmico, debochado, irônico e muitas vezes genial, Raul Seixas faria 75 anos de idade neste final de semana se estivesse vivo. Foi o mais perspicaz observador moderno da sociedade brasileira. Mais do que qualquer outro artista, tornou-se a cara  e a essência do rock brasileiro.

Lamentavelmente, muita gente vai dizer que o seu maior legado foi o indefectível e insuportável "Toca Raul!!!", que já causou brigas variadas em bares e shows diversos.

Mal sabia o cantor que, mais de 30 anos após sua morte, o vazio de sua partida cresceria exponencialmente ano a ano, principalmente em tempos bolsonaros, onde o humor e a inteligência no rock sumiram, provavelmente afugentados pelas constantes ameaças de censura e intimidações diversas de cunho fascista.

Sim, Raul Seixas faz falta, tenho de admitir, por mais que eu esteja longe de ser fã – e muito longe de considerá-lo gênio. Entretanto, seu inegável carisma o transformou na personificação do rock nacional em todos os aspectos.

Músico razoável, compositor inspirado e cantor único, teve o grande mérito de cair de cabeça no rock and roll primeiro do que todo mundo neste país tropical e de avançar até onde nenhum artista brasileiro na época ousou.

Seixas era radical e culto, tinha estofo para se mostrar contestador sem ser revolucionário. Tinha jeito e coragem (ou inconsequência) para ser provocador como Chico Buarque foi em algumas de suas letras.

Se os Secos & Molhados chocavam e posavam de transgressores por conta das maquiagens e posturas de palco, Seixas e seu jeitão de hippie deslocado mostrava que ia muito mais além na transgressão com o mergulho fundo no rock e nos aditivos ilícitos – em vários momentos ao lado do amigo doidão e letrista ocasional Paulo Coelho.

E o músico baiano teve a sorte grande de ter sido o único a fazer isso de forma tão intensa, e usou o rock, o melhor instrumento para esse tipo de transgressão (ou suposta transgressão).

Não como negar: o mito Raul, como muitos outros na história da música, foi extremamente beneficiado com a morte. Uma tragédia para o rock a sua morte aos 44 anos, mas, realmente, a morte lhe caiu bem.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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