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Thiago Bianchi: 'Pandemia acabará, e as artes serão mais valorizadas'

Combate Rock

22/06/2020 06h50

Marcelo Moreira

O melhor momento veio e foi interrompido na decolagem, mas não importa: tudo vai ser diferente e tem tudo para ser bom ou até melhor.

E assim o cantor Thiago Bianchi, da banda Noturnall, mantém o foco e a cabeça fora da água neste tsunami chamado coronavírus, que já matou quase 50 mil pessoas no Brasil e devastou setores inteiros da economia, em especial a área de de entretenimento, artes e cultura – fez o que o (des)governo Jair Bolsonaro tentou e não conseguiu.

O otimismo do cantor paulistano contrasta com demonstrações de desalento e desespero na área musical, ainda atordoada com o fim dos shows ao vivo e as dificuldades financeiras que afetam bandas, artistas e toda a cadeira de infraestrutura.

"É claro que todo mundo foi afetado e tudo está parado. Afetou a mim, com os problemas financeiros que vieram com a pandemia. Só que eu percebo claramente o que muita gente sente e anda verbalizando pouco: não dá para viver sem arte, sem cultura e sem música. Está claro que essas coisas são essenciais para suportar tempos como esses. Quando as coisas começarem a voltar tenho certeza que a arte será bem mais valorizada", diz esperançoso.

Bianchi é uma usina de projetos e planos, o que às vezes dificulta a vida de alguns a sua volta. Costuma pensar bem à frente, como um jogador de xadrez, e muitos de seus movimentos estranham. Às vezes fica difícil acompanhar, como já reclamaram alguns ex-companheiros de banda e músicos que forma produzidos por ele. Não se tratam de desavenças. É questão de estilo de timing.

O músico lamentou demais a mudança de planos por conta da pandemia. A turnê europeia ao lado da banda Sons of Apollo, do dínamo Make Portnoy (ex-baterista do Dream Theater), foi interrompida no  meio pela pandemia. Foram apenas dois shows.

Depois da bem-sucedida turnê russa com o Disturbed, em 2019, seria o auge dos sete anos de existência da Noturnall. "É evidente que foi um baque, mas não teve jeito, né? O mundo não parou e trabalho não falta no Brasil."

Será que falta foco? O músico está finalizando o novo álbum da banda, o quarto, tratando do lançamento do DVD ao vivo gravado na Rússia (já foi lançado por lá), editando um novo DVD que pode sair até dezembro, com imagens e músicas registradas em todos os continentes ("Noturnall Around the World"), terminando a edição de clipes para sua banda e produzindo os CDs de outros 47 artistas, entre outras peripécias.

O novo álbum promete ser o melhor que o músico já fez em quase 25 anos, ao menos em sua própria visão. duas das músicas já são conhecidas e tocadas ao vivo – "Scream !!! For Me!!!", com participação de Mike Portnoy na bateria, e "Cosmic Redemption".

Portnoy, aliás, tornou-se mais do que um mentor para o quarteto paulistano. "Tenho orgulho de dizer que é um amigo. Tocou conosco em uma turnê brasileira, agora estamos juntos em turnê Noturnall-Sons of Apollo e gravou uma música conosco. Seu conhecimento de música e de negócios é absurdo e tem nos ajudando bastante com dicas e métodos. É profissional demais. Tanto no Brasil como no exterior ele, na boa, faz uma reunião com a gente ao final dos shows e fala do que viu, do que gostou e do que pode melhorar. Ele filma os shows!!!!!!"

Faz sentido que Bianchi e Portnoy se deem tão bem. São acelerados e projetam planos o tempo todo – algo que pode explicar o porquê do baterista ter saído do Dream Theater em 2010, quando queria tempo para seus inúmeros projetos paralelos – ajudou o Avenged Sevenfold na época e criou as bandas Transatlantic, Adrenaline Mob, Winery Dogs, Flying Circus e Sons of Apollo. Só não continua no Adrenaline Mob, onde conheceu o guitarrista Mike Orlando, atual membro do Noturnall.

Dois caras bem parecidos, mas muito atarefados. Dá para vislumbrar alguma nova colaboração? "A proximidade a amizade sugerem que sim", diz Bianchi empolgado. "Ele realmente gostou da Noturnall e de nossa parceria. As possibilidades são imensas, mas o mundo precisa voltar a ter alguma normalidade e perspetiva."

Se o volume de trabalho é grande, assim como os problemas advindos das consequências da covid-19, o cantor acredita estar vivendo um período muito interessante de sua vinda.

"É meio estranho isso, mas tenho muito mais trabalho e coisas para resolver, mas a pandemia me deu algo que raramente tive, que é mais tempo para desfrutar o convívio com a família, acompanhar meu filho pequeno na escola e perceber algumas coisas que sempre pareciam secundárias. Em meio a tanta incerteza, a pandemia forçou todo mundo a parar e pensar um pouco em outras coisas. Na vida, digamos assim. É o que estou fazendo", analisa.

Para quem superou um câncer e uma grave pancreatite, a covid-19 talvez não assustasse, mas o acelerado Bianchi nem pensa em se arriscar.

Morando em uma propriedade região oeste da Grande São Paulo, onde construiu o seu estúdio, o Fusão (um dos raros a oferecer acomodações para estadia de bandas e artistas), é rigoroso nos protocolos de proteção e higiene, a ponto de quase não ter contato com os artistas que grava e produz por lá. "Há até uma entrada separada na propriedade. Não dá para facilitar."

Thiago Bianchi (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

Enquanto projeta o futuro e tenta desacelerar um pouco no presente, Bianchi analisa o impacto que os últimos 12 meses de sua vida tiveram na sua vida e na sua carreira, com nova formação do Noturnall, novas perspectivas para a banda e como produtor, consolidação de uma carreira internacional e a chegada de um novo mentor/amigo. "Foi intenso e de tirar o fôlego, prova de que estamos no caminho certo. Esta formação está junta há um ano e o Henrique Pucci (bateria) e o Xakol (baixo) se encaixaram perfeitamente, e nem preciso falar da importância do Mike Orlando. Vou abusar do clichê e acho que a banda está em um momento extraordinário, talvez o seu melhor e creio ser possível esticar bastante esse momento."

A situação é tão diferente e suscita ótimos presságios que Bianchi admitiu até algo quase impensável tempos atrás: mudanças, ainda que sutis, no som do grupo, algo que certamente tem a ver com a parceria artística com Orlando, que também é produtor, e com as incansáveis conversas com Portnoy.

O Noturnall, segundo o cantor, deve soar, no novo disco, menos power metal e mais hard rock, mas no sentido norte-americano (muito menos farofa e bem mais próximo do heavy metal tradicional) do termo, algo que talvez guarde mais semelhanças com Adrenaline Mob, Dream Theater, Sons of Apollo e, quem sabe, derivando um pouco pra Symphony X, quem sabe…

"Uma de nossas novas músicas tem mais de dez minutos de duração. Nunca fiz isso em minha carreira. A banda cresceu muito e nosso leque foi bastante ampliado. Estou muito confiante e empolgado", conclui o cantor.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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