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Um ano sem André Matos, um cronista do nosso tempo

Combate Rock

07/06/2020 12h00

Marcelo Moreira

O cantor André Matos gostava quando a imprensa o qualificava de um cronista do nosso tempo. Suas letras delicadas e as melodias intensas que imprimia em suas composições realçavam o que os álbuns "denunciavam": um observador atento da realidade ao seu redor e um obstinado artista em busca de respostas, ainda que desse a impressão de viver em um mundo paralelo.

Faz um ano que sua morte devastou o meio musical do rock e deixou um vazio para fãs e apreciadores tinham no cantor um porto seguro dentro de uma vida acelerada e incerta.

Muita gente recorria às músicas do maestro paulistano em busca de uma sintonia em tempos de polarização, divisão e de quase nenhum entendimento sobre o que está acontecendo.

Aliás, André certamente recorreria a um título de livro do historiador inglês Eric Hobsbawn na observação dos dias atuais: tempos interessantes, como fez em 2013 a respeito das manifestações de junho daquele ano em entrevista ao Combate Rock.

Astuto, inteligente e bem informado, o artista cuja voz que ficou eternizada no Viper, no Angra e no Shaman era cordial e generoso, mas também ansioso e com pressa para mostrar que ainda havia muito a ser feito. Ele parecia vislumbrar que talvez não teria tanto tempo assim…

É particularmente esse personagem fascinante que deverá emergir de um esperado documentário sobre sua carreira e obra dirigido e montado pelo jornalista Anderson Bellini, com a preciosa colaboração de outro jornalista, Thiago Rahal Mauro.

Autorizado por ele em vida, "Maestro do Rock" irá mostrar momentos inéditos do vocalista desde a infância até alcançar sucesso mundial. As redes sociais do projeto serão abastecidas de acordo com o cronograma oficial. 

Em homenagem ao cantor, e equipe preparou um videoclipe da música "I Will Return", faixa do álbum "Mentalize", de 2009, com cenas inéditas da época. Assista "I Will Return": https://youtu.be/SRYyG_TKxXk.

"Estou muito ansioso pelo filme. Gravei mais de quatro horas de depoimento do André abordando todos os assuntos, sem censura ou pudor. Não tenho dúvidas de que será o material mais intenso e completo a respeito de sua carreira", disse Bellini um pouco antes da morte do cantor, em meados de 2019, durante conversa com este jornalista no lançamento de um CD da banda Doctor Pheabes, em 2019.

Talvez o jornalista mais próximo e de confiança de André Matos, Anderson Bellini garante que conseguiu extrair um lado humano e descontraído do artista, conhecido por sua generosidade, mas também por ser bastante reservado. Músicos que conviveram com ele dize até que era quase paranoico a respeito de sua privacidade.

"André Matos era uma pessoa muito rara, de uma sensibilidade artística extraordinária. O tipo de artista que empurra a gente, desenvolve o tempo todo e torna melhor qualquer obra, qualquer ambiente", afirma o tecladista e maestro Corciolli, um dos últimos parceiros musicais.

Um ano sem André Matos só escancara o grande vazio que ele deixou, que cresce exponencialmente em tempos de pandemia de coronavírus e de paralisação total das atividades musicais.

Inquieto, ele daria um jeito de criar algum pandemônio e movimentar o rock, estivesse aqui ou na Europa, onde passava uma parte do ano.

O sorriso fácil esconderia o sangue nos olhos, não disfarçaria o perfeccionismo que incomodava os mais afoitos e menos impacientes. Alguma coisa aconteceria, e tudo evoluiria. Faria tudo dar certo, ainda que de seu jeito, sempre tendo ao fundo um de seus clássicos, "Make Believe", do Angra, uma ode ao pensamento positivo e, de certa forma, à força de vontade.

Embalado pelo esperado documentário, certamente André Matos ficaria orgulhoso pelo legado que deixou e pela inspiração que proporcionou a amigos e fãs. Nada mau para um garoto paulistano de classe média ue sonha um dia em abraçar o mundo.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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