EM – "High Cost To Low Living" e "Lucky Guy" são dois trabalhos poderosos em parceria com Dennis Gruenling. Gostaria que falasse sobre esses dois trabalhos.
NM – Sim, um grande ponto de virada na minha carreira. Minha escalada à popularidade é diretamente atribuída a esses dois trabalhos. Principalmente porque tive uma exposição e distribuição muito boa, por passar a integrar a Alligator Records, uma das mais antigas gravadoras, estritamente de blues e com uma das maiores reputações do mercado no mundo inteiro. O fato de ter o nome Alligator Records associado a você passa muita credibilidade. De fato, foi um marco ter assinado com eles depois de muitos anos lançando meus discos pela minha própria gravadora. Nossa banda foi relativamente bem sucedida com a nossa própria gravadora, mas nada comparado com as conquistas que tive fazendo parte da Alligator Records nesses últimos três anos. "High Cost of Low Living" teve um processo de criação muito legal e nosso recente CD, o "Lucky Guy!", obviamente superou todas as expectativas. Acabamos de ganhar o Blues Music Awards em três categorias, melhor álbum tradicional do ano; melhor banda do ano; melhor música tradicional do ano, Lucky Guy. Atribuo todo esse sucesso não apenas por estar na Alligator Records, mas também ao momento em que Dennis Gruenling se juntou à banda. Foi um grande negócio. Michael (Leadbetter) fez parte da minha banda por quase sete anos e foi incrível, fizemos várias coisas incríveis, vários estilos diferentes de música e quando ele se foi eu não tinha muita certeza do que iria fzer. Se iria voltar ao Blues tradicional, que tinha feito antes de Michael ou se iria continuar num estilo mais moderno.
EM – Período bem complicado.
NM –Estava preocupado em ter que resolver essa questão e aconteceu por acaso. Naquele momento Dennis me ligou e disse: "Ei cara, recebi uma oferta de um show no Centro-Oeste, perto de você, e preciso de uma banda, você gostaria de ser minha banda de apoio?". Era um concerto beneficente e ele ia fazer uma homenagem a William Clark. Fazia algum tempo desde a ultima vez que havia apoiado um gaitista durante todo um show, mas eu amo esse estilo, o swing, o blues tradicional de Chicago. É onde meu coração sempre esteve. Então, imediatamente disse que sim. E quando finalmente começamos a fazer o show percebi o quanto sentia falta de tocar esse estilo de música e me lembro que durante o intervalo disse para Dennis que ele não estava mais tocando com o Doug Deming e se estaria interessado em fazer algo comigo. E ele respondeu que amava o som da minha banda e que poderia fazer parte dela. Eu disse ok, vamos ver se funciona. Fizemos a próxima turnê juntos. Mike ainda estava na banda, mas o Dennis se juntou a nós. Foi muito legal e divertido, a turnê com Dennis. Mike deixou a banda no mês seguinte, em janeiro e a transição foi fácil. Estávamos na verdade no Blues Cruise quando Mike fez seu último show conosco e o Dennis também estava no cruzeiro. Foi uma amostra de como a banda soaria sem Mike. Aliás, muitas pessoas vieram me dizer que sentiam falta de me ver tocando blues tradicional. Então foi bom voltar a isso e foi bom ver os fãs se lembrarem da minha trajetória tocando blues tradicional antes do Mike estar na banda. Dennis fazendo parte da banda, você sabe, seu entusiasmo, seu conhecimento na música, ele é um dos melhores do mundo e isso é incontestável. Ele têm uma presença de palco incontestável. É uma dessas pessoas que fazem o público querer olhar para o palco. Eu nunca fui uma dessas pessoas, nunca fui um tipo excêntrico e às vezes você precisa desse tipo de pessoa para fazer um contraste no palco. Acho que o Dennis contrasta comigo no palco, pois sou mais reservado. Escuto muitas pessoas falarem que gostam desse contraponto, essa harmonização e equilíbrio no palco. Não somente na parte musical, mas na parte cômica e esse complemento das personalidades juntas, isso é ótimo.
EM – Otis Rush, James Cotton, Magic Slim, Lonnie Brooks já se foram. Buddy Guy está com 85 anos. Como vê a cena de Chicago hoje?
NM – É verdade, todos os dias perdemos nosso passado. Mas o futuro é inevitável e sempre vai se desenvolver. Há muitos músicos na cena do Blues de Chicago que continuarão a levá-lo à próxima fase. Vai existir novamente a mesma qualidade dessa "realeza" dos bluseiros que temos aqui em Chicago, como Buddy Guy? Não sei. Acho que no país há outras pessoas que podem usar esse manto, assumir esse papel. Mas enquanto o Blues de Chicago estiver por aí eu certamente farei minha parte. Há caras da cidade que estão fazendo o que podem, Mike Wheeler é um dos caras que gosto, um pouco mais moderno, mas acho que ele é um cara que pode ganhar mais impulso e notoriedade com os fãs pois ele não agrada somente o público que gosta de blues tradicional. Há muitos caras por aí, gosto do Omar Coleman e ele ainda é jovem suficiente para ser influente fazendo música pelos próximos 15 ou 20 anos. É um grande gaitista e cantor. Temos o Corey Dennison, Gerry Hundt, esses caras estão fazendo o som deles. Existe uma banda jovem nos arredores de Chicago chamada The Kilborn Alley Blues Band, com quem eu tenho uma associação há algum tempo, que é jovem o suficiente para fazer bastante coisa. Andy Duncanson é o vocalista dessa banda. Acho que existem muitos músicos fora de Chicago também. E na verdade eu tenho ajudado lentamente a mostrar alguns jovens talentos do blues em todo o país e sinto que o futuro do blues está em boas mãos se esses esses caras continuarem. Mas nunca mais vai haver outro Buddy Guy, BB King ou outro Son House. Sempre haverá alguém que terá identidade própria e levará as coisas para a próxima grande etapa. E essa é a única coisa que podemos fazer. Olhar para frente e que as pessoas consigam ser elas mesmas e levar o blues para outro patamar, trazendo mais visibilidade e notoriedade para esse estilo musical.