Marcelo Moreira

De terno, gravata, colete e um semblante sério e sóbrio, Robert Fripp parece tudo, menos um dos guitarristas mais influentes da história. Já faz tempo que toca sentado e, de preferência, atrás dos amplificadores e cercado por laptops, coo ocorreu no ano passado em São Paulo e no Rock in Rio.

Cruze com ele na rua e teremos a sensação de que é um advogado, lobista ou diretor comercial de empresa de cosmético – sem falar que é avesso a entrevistas.

O que dizer então de ver esse mesmo senhor de 73 anos correndo pela cozinha de casa e dançando rockabilly ao lado na mulher em plea quarentena?

Fripp e Toyah, uma cantora popular nos anos 80 na Inglaterra, fizeram uma versão correta e bacana, em uma live, de "Heroes", de David Bowie, na sala de casa, em uma interpretação reverente e sarcástica, ao mesmo tempo. Fripp é o guitarrista da versão original, registrada nos anos 70.

Surpreendentemente, os dois divulgaram em seguida um vídeo em que saem correndo pela casa e passam a dançar rockabilly, como dois adolescentes, sendo que o guitarrista esta terno e gravata pretos, parecendo um agente funerário. É bem engraçado.

Mais hilário ainda é o casal dançando o balé do cisne negro em um gramado, perto de um lago (ao que parece, é bem recente, já que há poucas informações no vídeo, que apenas cita o lockdown na Inglaterra) com Fripp vestido de bailarina, em um vestidinho negro, e desajeitadamente tentando "bailar"…

Que a quarentena está sendo pesada e difícil para todos, não há dúvidas. Entretanto, propicia momentos impagáveis, como o "air drum" de Charlie Watts, dos Rolling Stones, e o vetusto "professor de química" Robert Fripp, sempre impassível e de olhar feroz, rebolando e dançando com a patroa na cozinha de casa, sorridente como um moleque.

Até mesmo o King Crimson se despe de sua formalidade para aliviar tensões e deixar a vida um pouquinho mais leve nestes tempos difíceis.