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Militância e credibilidade, as armas de Bono ao completar 60 anos

Combate Rock

11/05/2020 11h15

Marcelo Moreira

Bono, do U2 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Eu queria montar ma banda punk, ou algo parecido, e reuni os candidatos na cozinha da minha casa. Fiquei feliz porque eu seria o líder, mesmo senso baterista. Fui líder por cinco minutos, até que Paul chegasse."

A declaração é conhecida. É a versão de Larry Mullen Jr, o baterista do U2, sobre como a banda se formou, em 1977, em um bairro remediado de Dublin, na Irlanda, em 1977.

Paul, no caso, era Paul Hewson, candidato a vocalista e já carismático aos 17 anos, mesmo que forçasse a barra para parecer punk e rebelde. Assim como os demais membros do grupo, estava longe de ser um músico, mas isso não foi problema para quem se transformaria em Bono Vox, e depois somente Bono.

Mesmo que negue peremptoriamente, Bono, que chega aos 60 anos de idade, tornou-se a cara do monstro U2, que hoje só rivaliza com os Rolling Stones na capacidade de fazer turnês monstruosas em estádios pelo mundo.

Sexagenário e ativista mundial, a ponto de ser recebido a qualquer hora por chefes de estádio, o cantor irlandês se tornou uma referência dentro da música, pra bem e para o mal, em termos políticos. Se a música autoral anda meio enferrujada e sem impacto, a atuação como ativista o transformou um oráculo.

Nada mal para um candidato a delinquente que deu o norte para o quarteto de inspiração punk, que saiu das letras adolescentes de "Boy" (1980) para temais pesados e politizados nos álbuns seguintes – guerra fria, possibilidade de guerra nuclear, tributo a Martin Luther King, apoio aos direitos civis, terrorismo, guerra civil irlandesa e muito mais.

Quando o U2 se tornou uma máquina de fazer dinheiro e decidiu se tornar cada vez mais pop, nos aos 9o, Bono mostrou inteligência e habilidade para liderara a banda em momentos de transição e mantê-la relevante.

Tornou-se a voz de uma geração, mas também a de um gênero musical que passava por mudanças rápidas e extremas. O menino que queria ser punk virou um sacerdote da arte e dos negócios; virou celebridade e um dos homens mais influentes de seu tempo.

O messianismo e a vocação para as pregações chateiam, mas não obscurecem a sua tenacidade em buscar algum tipo de transformação social.

Claro, ser bilionário facilita as coisas, mas não se contenta com coisas fáceis. Poderia ser o ativista vegano discreto, como Paul McCartney, ou mesmo ser histriônico de esquerda, como Roger Waters (Pink Floyd).

Ambicioso, quer exercer o "poder" que lhe foi conferido, o de ser uma espécie de mediador e conciliador. E daí que erre mais do que acerte?

Bono é um produto do nosso tempo, necessário enquanto ativista pela paz e pela preservação ambiental e enquanto voz ativa de uma geração que ainda não se acostumou com as mudanças rápidas da vida.

Mesmo que sua banda, artisticamente, não seja mais tão relevante a caminho dos 45 anos de existência, o cantor continua mostrando vitalidade e deixando clara a sua palavra.

O moleque aspirante a punk que tomou as rédeas da própria vida na cozinha do amigo baterista jamais sonhou em provocar líderes mundiais. O sonho virou realidade e um fardo, em determinados momentos, mas isso é o de menos.

Bono ainda consegue dar credibilidade, aos 60 anos, a hinos aparentemente embolorados como "Sunday Bloody Sunday" e "Pride", enquanto bandas ainda mais veteranas raramente escapam de ser paródias de si mesmas cantando hits com meio século de existência. É essa credibilidade que sustenta o U2 e seu cantor na busca por dias melhores.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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