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Little Richard incomodou e mostrou ao mundo que o rock é oposição

Combate Rock

10/05/2020 11h53

Marcelo Moreira

Little Richard (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Little Richard nunca passou de uma "bicha afetada". O comentário de um lixo humano nas redes sociais recebeu uma salva de palmas e apoio de uma série de vagabundos, 90% deles dejetos que votaram no ser execrável que ocupa a presidência da República – os outros 10% também votaram, certamente, mas não consegui confirmar.

O cantor norte-americano, morto ontem aos 87 anos de idade, recebeu uma série de impropérios racistas, preconceituosos e homofóbicos em pleno século XXI. Imagine então como foi em 1956, nos Estados Unidos medievais onde o racismo era fortíssimo e a luta pelos direitos civis ainda engatinhava.

Não para dizer que ele abriu a rota para que o rock se tornasse a voz dos subversivos e rebeldes. Chuck Berry era mais radical do que ele, em todos os sentidos. Era mais transgressor e mais perigoso. Era mais agressivo. O mesmo pode ser dito de Ike Turner, por exemplo, ou de Robert Johnson, o blueseiro do diabo.

No entanto, Little Richard era subversivo, mas era mais odiado porque era debochado. Chuck Berry e Elvis Presley eram levados a sério, mas o pianista homossexual e gozador incomodava porque não dava a mínima para o establishment.

Irresponsável e confrontador, queria chamar a atenção e mostrar como a sociedade branca era estúpida e desonrosa. Era perigoso não pelo representava (e representava muito), mas pela maneira como afrontava e sacaneava tendo coo fundo musical uma série de hits.

Era odiado porque descortinava a hipocrisia branquela norte-americana e porque jogava na cara o quanto a moral e os bons costumes, seja lá o que isso tenha significado, não valiam centavos.

Resumindo, era o Pablo Vittar da época, em uma época em que o simples fato de ser negro podia levar à morte sem motivo algum. Imagine então um artista negro, folgado, homossexual e afrontador, tirando sarro da família bela norte-americana? Em pleno ano de 1956, 1957, 1958…

Seria um prato cheio para o lixo bolsonarista da atualidade, que dissemina ódio e preconceito contra minorias e contra qualquer um que não compactue com a sua burrice.

Assim como outros artistas importantes e rompedores da normalidade dos perigosos anos 50 e 60, Little Richard mostrou ao mundo que havia outro mundo e outros padrões de sociais e de comportamento.

Foi crucial para mostrar que havia outras vidas e que mundo não se resumia ao conservadorismo dos subúrbios de class média assépticos, inodoros e incolores das metrópoles norte-americanas.

Ou seja, era tudo o que os bolsonaristas e ultraconservadores nojentos detestam e detestariam. Pela importância que adquiriu no mundo pop, é uma pena que não tenha surgido no Brasil e adquirido a importância que teve, já que, infelizmente, artistas artificiais como Pablo Vittar, Liniker, Lynn não conseguem incomodar o status quo atual como Richard conseguiu há mais de 60 anos.

Little Richard foi mais punk do que muitos punks de verdade e encarou "broncas" muito mais pesadas. É exemplo para todas as gerações de contestadores e artistas que supostamente se dizem engajados e de protesto.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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