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Protestos e repressão no carnaval: uma aula de civismo e resistência

Combate Rock

24/02/2020 12h00

Marcelo Moreira

Passada a fase de testes do governo fascista de Jair Bolsonaro, em que ações autoritárias esporádicas procuravam estabelecer até onde a escalada de absurdos e arbitrariedades poderia avançar, o carnaval revela que as forças repressivas contra os foliões e artistas estão mais atuantes e provocativas.

Em Belo Horizonte, a Polícia Militar, de forma inconstitucional e nojenta, tentou impedir um bloco carnavalesco de "protestar" contra quem quer que seja no ano passado e voltou à carga neste ano, embora com um plouco mais de discrição.

Em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, um oficial da PM decidiu impor um toque de recolher por conta própria e acabar com as festas de carnaval noturnas. Ameaça os desobedientes com prisão e agressões.

Em São Paulo, em uma outra ação abjeta, mas no sentido contrário, o governo estadual decidiu não enviar policiais para área dos blocos onde a principal atração era o cantor e ator Seu Jorge.

O bloco teve de encerrar uma hora e meia mais cedo a sua folia por conta de várias confusões e brigas premeditadas, segundo testemunhas. Estas contaram que as brigas ocorreram envolvendo grupos que estavam no local exatamente para criar confusão por conta da falta de policiamento. Qual o objetivo disso?

E o que dizer da denúncia que um carnavalesco fez também em Belo Horizonte? A Polícia Militar "pediu" uma reunião com o cidadão, foi até a casa dele e "sugeriu", na base da intimidação, não fazer qualquer tipo de protesto e "elogiar" a corporação no bloco. Muito importante esta preocupação policial, não é mesmo?

No carnaval mais político e contestatório dos últimos anos, as forças conservadoras tentaram confrontar os críticos do repulsivo governo Bolsonaro. Não conseguiram.

Capitão impõe toque de recolher em Guaratinguetá e faz ameaças (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)

Coube às Polícias Militares passarem o "recado" de que o embate vai ficar mais tenso e conflituoso a partir de agora, quando o desespero começa a bater nas hostes ultraconservadoras.

A incompetência bolsonarista paralisou o governo, queimou pontes com o Congresso Nacional e está afundando a administração federal, levando a economia junto.

O que sobra para gente desprezível? O autoritarismo e o ataque aos costumes, ao comportamento, à liberdade de expressão, às artes, à cultura, ao entretenimento e à educação.

Já se fala abertamente no meio político e em vários ambientes da sociedade a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro, por mais que, neste momento, tal possibilidade soe improvável.

Motivos não faltam, mas dificilmente o Congresso oportunista e fisiológico apoiará tal coisa antes de tentar sangrar o governo e chantageá-lo de todas as formas.

Aliás, é um governo que merece tudo o que de pior lhe atingir, e a chantagem política é mais do que merecida diante da falta de interlocução, de competência e de caráter de seus integrantes

A ação truculenta de PMs contra foliões em Porto Alegre e as demonstrações milicianas e criminosas de policiais em greve em Fortaleza (CE) só reforçam a sensação de que estamos no caminho de uma ruptura institucional generalizada patrocinada pelo militarismo que domina as forças de repressão estaduais.

Faz sentido que a comunidade do rock se recolha em época de carnaval para recarregar as baterias. O que não dá para entender é a letargia que contamina os roqueiros desde o ao passado, passivos e apenas observadores do descalabro político-cultural que atingiu o país.

Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e outros artefatos para dispersar foliões em Porto Alegre (FOTO: REPRODUÇÃO TV RECORD RS)

Enquanto o rap e até a conservadora MPB assumem a linha de frente nos protestos contra o vergonhoso governo Bolsonaro e seus ataques constantes à civilização, o rock fingi-se de morto e faz companhia no silêncio criminoso do mundo sertanejo a respeito das porcarias despejadas elos ultraconservadores contra a sociedade.

As escolas de samba e blocos de carnaval dão um show de civismo e resistência ao protestar veementemente contra os desmandos e os ataques contra a liberdade de expressão e de imprensa.

Parece que não aprendemos a lição do Rock in Rio, onde a banda Nervosa mostrou a sua indignação contra o machismo, a misoginia, o feminicídio e as ações autoritárias contra a cultura, a educação e políticos de tendências progressistas.

De forma isolada, outros artistas mandaram recados de protestos, mas que não reverberaram o suficiente para engajar outros artistas de rock a se posicionarem diante do lixo que paira sobre nossas cabeças.

Essa gente acredita que o rock está a salvo, que não entrará na mira dos ultraconservadores e dos fascistas, ignorando a série de ataques sofridos por banda de rock e produtores de shows em festivais no interior de São Paulo, em Belém (PA), em Brasília (DF) e em vários outros lugares.

Como é possível que esse pessoal se engane a esse ponto? É sério mesmo que a galera do rock acha que está a salvo? Que basta ficar quieto no canto, fazendo covers de bandas inofensivas, para não chamar a atenção dos cães hidrófobos fascistas que odeiam tudo o que não esteja em suas cartilhas asquerosas?

Com a PM na linha de frente para tentar "coibir" manifestações contrárias a Bolsonaro ou "fora da ordem", seja lá o que entendam por isso, a tendência é haver uma piora sensível no ambiente político do país.

E não vai adiantar o roqueiro tirar o corpo fora, pois vai sobrar para todos, o que requererá, queiramos ou não, o engajamento no combate, seja qual for a forma, a toda essa gente repugnante e repulsiva que está comandando este país.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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