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Jornalismo serve para garantir a democracia - mas o rock ainda não percebeu

Combate Rock

13/02/2020 06h48

Marcelo Moreira

A colisão de dois mundos execráveis é capaz de produzir pérolas engraçadas, de tão estapafúrdias, mas, na maioria dos casos, a burrice extrapola os limites do tolerável.

Quando o bolsonarismo/ultraconservadorismo burro (redundância, ou pleonasmo) e os roqueiros estúpidos e acéfalos se encontram, a colisão produz excrementos de todos os tipos.

O horrível episódio de um criminoso virtual ofendendo uma jornalista das mais premiadas do mundo na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News, no Congresso Nacional reacendeu a ira dos dejetos humanos que atacam a imprensa e o jornalismo, com um sórdido apoio entre os roqueiros degenerados que sonham com ditaduras militares e controle absoluto das informações.

A jornalista atacada no Congresso é Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, ex-correspondente internacional e respeitada no mundo inteiro, sendo citada até pela revista Time como uma das personalidades de imprensa do ano em 2018.

Foi responsável por uma importante reportagem que mostrava como funcionava a máquina nojenta de disseminação de informações falsas que que a extrema-direita criou nas eleições de 2018, fisgando milhões de eleitores burros que votaram em Jair Bolsonaro. Por isso atraiu a ira de criminosos virtuais e bandidos de todos os calibres que apoiam a excrescência que foi eleita presidente.

Reprodução da capa da edição brasileira do livro "Liberdade de Expressão: Dez Princípios para Um Mundo Interligado", de Timothy Garton Ash

Lamentavelmente, a quantidade de roqueiros imbecis é muito maior do que gostaríamos que fosse. O episódio com a jornalista serviu para atiçar os demônios destes cães hidrófobos do rock, que apoiam o depoimento do lixo humano que esteve no Congresso. Não perderam a oportunidade de qualificar Patrícia como prostituta, entre os "adjetivos" mais brandos.

Supostamente o rock é considerado, por muita gente, como um meio diferenciado e com pessoas com um nível de educação e informação mais elevado do que a média da população. Não sei quem inventou tal coisa. Não só não é verdade como é bem provável que seja o oposto.

Em vários grupos de "discussão" envolvendo músicos de rock e metal, jornalistas musicais e alguns aficionados, há pérolas do tipo "jornalismo não serve para nada"; "jornalista é tudo bandido, é tudo corrupto"; "mulheres jornalistas são vadias e putas"; "jornalistas são todos vendidos e estão a serviço do capital internacional e da Globo comunista (????) que quer destruir a família e Bolsonaro".

Os lixos descritos acima foram escritos por dois jornalistas que também são músicos, um deles razoavelmente conhecido na cena do rock no circuito São Paulo-Rio de Janeiro.

Quando ao músico que escreveu "jornalismo não serve para nada", o imbecil só não percebe que é justamente por causa do jornalismo e da democracia que ele pode escrever e bradar publicamente lixos como esse.

É justamente o fato de ser um músico com acesso a meios de informação e comunicação que permite que ele possa tentar escapar do ostracismo do fracasso artístico chamando a atenção para si vomitando esse tipo de esgoto, já que musicalmente nem aceito é pelo underground.

É terrível observar que artistas, ainda que conservadores, sejam incapazes de perceber o quão importante é a democracia e o quão vital é a liberdade de expressão, ainda que esta "liberdade" seja usada para depredá-la e defender controle na difusão de informações e limitar o acesso a trabalhos artísticos. Ou seja, esse idiota defende políticas, ideologias e medidas que se voltam contra ele, mais cedo ou mais tarde.

O jornalismo serve também para que idiotas como estes passem vergonha e possam vomitar todo o tipo de esgoto. Eles têm esse direito, como a sociedade tem o direito de execrá-los e neutralizá-los, isolando-os no cercadinho dos lunáticos e da chacota para que não causem danos à democracia.

Infelizmente, com os ataques à educação e a defesa de seu sucateamento, esses dejetos humanos que dizem gostar de rock – e de tentarem até tocar rock – contribuem para  enfraquecimento da democracia.

João Gordo (FOTO: RUI MENDES/DIVULGAÇÃO)

São os mesmos dejetos que reclamarão, lá na frente, que não sobrou ninguém para defendê-los quando o monstro fascista se voltar contra eles e obrigá-los a tocar um espectro restrito de músicas, isso se ainda tiverem permissão para tocá-las.

Como bem ressaltou João Gordo, vocalista dos Ratos de Porão recentemente, do jeito que a coisa está progredindo os fascistas e ultraconservadores vão proibir ouvir e tocar heavy metal, entre outros gêneros.

Os cães hidrófobos e burros do metal e do rock que atacam a jornalista Patrícia Campos Mello e defendem os criminosos das fake news que agem pra favorecer Bolsonaro e os políticos lamentáveis que o seguem são os mesmos que aplaudem projetos e tentativas de criminalização do funk carioca e dos bailes funks de periferia.

Esses mesmos estúpidos são os que silenciam, fazendo "coro" com os sertanejos, quando um nazista se manifesta ocupando o cargo de secretário de Cultura do governo federal.

São os mesmos que minimizam os episódios de censura e de perseguição a artistas críticos das administrações ultraconservadoras fascistas de inspiração evangélica.

Também são s mesmos músicos e fãs de rock reacionários que fazem chacota com a morte da ex-vereadora carioca Marielle Franco e fazem troça quando favelas pegam fogo e moradores de rua são queimados e espancados.

São os mesmos que adoram fazer piadas racistas contra nordestinos, negros e judeu e que desdenham das constantes e frequentes agressões a homossexuais, transexuais e LGBTs, que quase sempre acabam em morte.

São quase sempre os mesmos empesteiam os ambientes musicais que frequentamos e que até chegam a conviver um pouco conosco, mas que são incapazes de conter seus ímpetos irracionais de demonstração de ódio, discriminação e preconceitos dos mais diversos.

O jornalismo, ainda bem, também serve para dar voz para esse tipo de gente asquerosa, principalmente para mostrar que eles existem, a fim de que sejam expostos para serem execrados e neutralizados.

É triste constatar que, antes de qualquer movimento de resistência pela preservação da democracia, será preciso sanear o ambiente do rock e do heavy metal, locais onde deveria perseverar ideologias libertárias e de valorização da liberdade, sobretudo a de expressão, em contraposição a seres deploráveis que advogam pela imposição da censura e de restrições comportamentais de qualquer tipo.

É para isso que o jornalismo serve, entre outras milhões de coisas: para manter e solidificar a democracia e permitir que a liberdade de expressão, de opinião e de imprensa existam, mesmo que seja para dejetos humanos vomitarem contra a própria democracia.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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