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Discurso embolorado e arcaico turva o futuro da cultura

Combate Rock

01/02/2020 12h00

Marcelo Moreira

Regina Duarte como a personagem Viúva Porcina, da novela 'Roque Santeiro' (foto: divulgação/Globoplay)

Há imensas dúvidas na maioria das pessoas que se interessam por cultura sobre o que esperar da atriz Regina Duarte no comando da área no governo federal. Será que espantará os espíritos nazistas de seu antecessor? Que tipo de fomento será implantado? O ultraconservadorismo bolsonarista vai predominar?

Agora que finalmente a atriz aceitou o cargo de secretária de Cultura do Ministério do Turismo, essas e outras milhares de perguntas surgem a cada minuto.

Se parte da classe artística condena a sua adesão ao bolsonarismo de forma integral – especialmente suas posições controversas e retrógradas -, há uma parcela de seus colegas que vibram com a sua nomeação, como os atores Luiz Fernando Guimarães, Maitê Proença e Carlos Vereza.

Entre a "oposição", a cantora Zélia Duncan foi a mais contundente. Uma ácida crítica do governo Jair Bolsonaro, ela lembrou, em vídeo recente, que Regina encarnou a personagem "Malu Mulher" na série de mesmo nome nos anos 80, que era um libelo a favor da mulher moderna e empoderada, que defendia um feminismo coerente e necessário diante de um mundo em mudanças e profundamente machista.

Em nenhum momento Zélia Duncan ou qualquer crítico atacou o direito constitucional e democrático de Regina Duarte ser o que quiser e apoiar quem quiser.

As críticas são pela opção de participar de um governo incompetente e de inspiração autoritária, cujo aparelhamento ideológico coloca em risco políticas culturais importantes, para ficar apenas na cultura. Não bastasse isso, é um governo que celebra a censura e vive ameaçando usá-la.

Regina Duarte está sendo atacada, entre outros motivos, por ser uma para-quedista em um governo sem rumo, numa tentativa de dar respeitabilidade em um segmento vilipendiado, desmobilizado e depredado pelo próprio governo.

Ela concordou em ser um boneco ao emprestar sua imagem para que Jair Bolsonaro tente esterilizar uma área contaminada pela inação, ideologização e paralisia, tudo ao som de uma ópera de Richard Wagner e de ideias nazistas que empesteiam o ambiente.

A atriz (ou ex-atriz) está sendo cobrada pela absoluta falta de ideias para assumir um cargo importante na administração federal. Sua inexperiência na gestão pública é total. Não tem planejamento algum e sequer sabe o que o presidente Bolsonaro quer para a área da cultura.

As expectativas são as piores possíveis. Ela já demonstrou, ao longo dos anos, que apoia variantes diversas de censura e de desenvolvimento de um certo apoio a uma "arte que promova bons valores", seja lá o que isso signifique. Será mesmo que algumas das novelas que protagonizou na TV Globo disseminavam os tais "bons valores" que ela preconiza?

Pouco disposta a debater e sem condições para argumentar, a nova secretária de Cultura parece desconhecer os rudimentos básicos da administração pública e crê que suas ideias, se é que têm algumas, serão fácil e plenamente implementadas.

O que podemos imaginar é que o básico da cartilha bolsonarista continuará a ser implantada, com preconceito a certos tipos de obras, discriminação de trabalhos que não estejam em "conformidade com os ideais e conservadores" e censura por motivos ideológicos e morais.

Portanto, as chances de que nada vai mudar na política oficial de cultura são enormes.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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