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Morto aos 67 anos, Neil Peart era gênio na bateria e na literatura

Combate Rock

10/01/2020 20h16

Marcelo Moreira

Neil Peart (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Nunca gostei muito de Rush, mas fiz questão de comprar um ingresso caro e chegar de manhã pra ver o show da banda que seria mais à noite. Queria estar na grade. Fiquei hipnotizado pela performance de Neil Peart. Não curto o show. Nem lembro o nome de uma única música tocada. Tinha olhos só para o monstro. Que concentração absurda, que noção de ritmo. Sozinho ele era uma banda".

O depoimento é do baterista brasileiro Marcos Vinny, que viu o show que o Rush fez no estádio do Morumbi em 2001, em São Paulo. Ex-integrante do Kavla e de uma série de outras banda de rock de São Paulo, ele considera o show como fundamental em sua formação musical.

Neil Peart era um personagem diferente do baterista de rock tradicional. Morto aos 67 anos de idade, vítima de câncer no cérebro, tinha noção de outros instrumentos, mas sua predileção era o ritmo, mas encarava a música de forma diferente.

Fanático por jazz, devorava discos e métodos dos principais nomes do gênero, como Buddy Rich, Gene Krupa, Art Blakey, Max Roach e Tony Williams, mas teve a sua atenção voltada para alguns instrumentistas do rock. Era uma época em que ele descobriu, aos 17 anos, gente como Ginger Baker (Cream), Mitch Mitchell (Jimi Hendrix Experience), Carl Palmer (Atomic Rooster e Emerson, Lake and Palmetr, tão jovem quanto ele) e muuitos outros.

A migração para o rock não o fez abandonar os estudos de bateria, mas o levou de Toronto, no Canadá, para Londres. Se não rendeu nada profissionalmente, mostrou a ele um outro lado do negóvcio entretrenimento, fudamental para a retomada da carreira no Canadá.

E a oportunidade veio em 1974, quando uma banda de jovens, mas veterana no circuito, precisaca de alguém para expandir o som, já que o limitrado John Rutsey penava para acompanhar os dois amigos no trio Rush – o baixista, tecladista e vocalista Geddy Lee e o guitarrista Alex Lifeson.

O grupo emulava o som do Led Zeppelin no primeiro álbum, daquele ano, e decidiu mudar para expandir as possibilidades. Acertaram, em cheio, recrutando Peart para tentar explodir no Estados Unidos.

Deu certo. Deu muito certo. Deu certo demais, pois o baterista não só era um exímio instrumentista como tnha um ouvido para melodia diferenciado.

O pacote fechava com o fato de o cara escrever muto bem, tanto prosa, como poemas e letras. E o segundo disco, "Fly By Night", mostrou uma outra banda, ainda fazendo rock pesado, mas migrando para o rock progressivo.

A carreira ascendente do trio foi um foguete, misturando hard reock e progressico em uma série de álbyuns consagrados até 1982 – de "Caress of Steel" até "Signals".

Aliviado, Lee, o vocalista, repassou a tarefa das letras ao baterista literato, que escreveu quase todas desde sempre. Aficoonado de ficção científica – como podemos observar  em "2112", de 1976 -, Peart migrou para os temas mais filosóficos e existencialistas, que se tornaram a marca das música da banda a partir de "Power Windows", de 1985, embora ele já tenha flertado com temas correlatos em músicas maravilhosas como "The Trees", "Natural Science" e "Cygnus X-1".

Neil Peart chega a uma praia do Oceano Pacífico, no México (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O Rush virou um supergrupo, um monstro, daquele tipo de banda mega, do tipo Rolling Stones, Kiss, Metallica, U2, Van Halen, Paul McCartney e mais algumas.

As músicas e as letras se tornaram tão cultuadas que quase fizeram de Neil Peart um conferencista. Isso não ocorreu, mas o levou definitivamente à literatura, com seu primeiros escritos sendo publicados. Mas a tragédia que o atingiu e que quase acabou com o Rush foi a responsável por aflorar o escritor que ele sempre foi.

A filha de 19 anos, Selena, saiu de casa no começo do inverno de 1999 para voltar às aulas em Toronto, na faculdade. Na estrada gelada e com forte nevasca, ela perdeu o controle do carro e caiu em um barranco, morrendo na hora. Meses depois, morreira a mulher de Peart, Jackie, consumida pela depressão e por um câncer fulminante.

Já reclamando muito das cansativas turnês mundiais de dois ou três anos de duração, o baterista chegou a anunciar para os dois companheiros que se aposentadoria. Rico, pegou uma moto possante e cruzou os Estados Unidos, Canadá e México nos próximos 18 meses, viagem com amigos que resultou no livro bem bacana chamado "A Estrada da Cura", que tem um aversão em português.

O Rush continuou, mas com menos intensidade. Peart se refugiou no jazz e cismou que precisava de aulas de bateria  de música para "melhorar". Foi o que fez, impondo hiatos mais longos na carreira do Rush.

O resultado foram dois CDs maravilhosos chamados "Burning For Hell – A Tribute to Buddy Rich", um de seus ídolos, onde reuniu uma finíssima banda para acompanhar amigos músicos de rock e jazz, bateristas, para registrar standards que marcaram a carreira do ídolo.

Quando tocou pela primeira vez no Brasil com a abnda, em 2001, em shows em São Paulo e no Rio, não deu entrevistas e se manteve recluso por parte do tempo. Entretanto, no encarte do DVD e do CD "Rush in Rio", extrapolou ao mencionar o quando a experiência brasileira marcou o trio e o quanto ele se identificou com o público e o povo de nosso país.

DEsde essa época ele já ameaçava se aposentar e curtir a vida nas motocicletas e barcos, e a coisa ficou mais séria quando casou de novo, com uma jornalista, e teve , já mais velho, mais uma filha, que hoje é adolescente. Ele não viu Selena crescer, e decidiu que tinha de dar atenção à família no século XXI.

DA esq. para a dir;: Neil Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson, o Rush em foto promocional de 2008 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Quando o Rush terminou a turnê mundial de 2014-2015, ninguém sabia, mas era o fim da banda. Peart anunciou aos amigos e empresários que não voltaria aos palcos e aos estúdios, fato que só foi ventilado por Lee no começo de 2016 e confirmado por Lifeson no começo de 2017.

Neil Peart foi gigante, o melhor do rock desde as mortes de Keith Moon (The Who), John Bonham (Led Zeppelin), Ginger Baker (Cream), Tony Williams e e mais uma série de gente fora de série.

É um daqueles "one man band", que empurram todo o conjunto e que sobressaem em qualquer circunstância. Era um mestre do ritmo que conseguia incorporar a melodia como ninguém a sua música e a sua performance. É impossível medir o tamanho de sdua perda.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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