Bossa nova, blues e muita mistura com BossaCucaNova e Lucas Ray Exp
Combate Rock
07/01/2020 06h18
Marcelo Moreira
Bossa nova com blues; rock com jazz e com música regional, com um pouco de blues como tempero. A música instrumental brasileira cotinua surpreendendo nas mãos de artistas que procuram inovar nas notas mais simples e nos arranjos mais inusitados.
O grupo Bossacucanova não economiza na ousadia ao brincar com ideias e melodias e fundir blues e bossa, com o jazz no fundo e muita descontração no estúdio. Quando o trio encontra Roberto Menescal, o admirado violonista e compositor da bossa nova, a química produz uma explosão dançante, hipnótica e exuberante.
"Bossa Got the Blues" é o resultado da parceria, um CD delicioso que tem muito de psicodelia, mas também uma quantidade extraordinária de blues e jazz.
A viagem é tipicamente tropical, mas encharcada de arranjos inusitados e uma guitarra etérea e suave, com riffs intrincados e flamejantes.
"1937" abre a festa com grandiosidade, transbordando alegria e excitação, que segue na faixa seguinte, "Mandacaru", que mistura tudo o que eles já faziam com pitadas de regionalismo, melhorando aquilo que já era bom.
Ao contrário do que possa parecer, o disco não é um mero suporte para Menescal se divertir e produzir seu som característico. É uma massa sonora que tem vida e que dialoga no mesmo nível com o mestre da bossa nova, como é possível observar nas intensas "Bossa Got the Blues", "Vou Nessa" e "Kalunga Rocket".
Menescal brilha "Galeria Menescal", feita sob medida para seu violão característico e sua guitarra suave, enquanto que "Train to Ipanema" tenta recriar um clima mais intimista e nostálgico.
Quem teve a ideia de reunir os dois mundos está de parabéns. "Bossa Got the Blues" pode ser comparado à explosão sonora do Bixiga70 diante da qualidade e da maestria e da qualidade do que foi elaborado. É um trilha sonora deliciosa para tardes deliciosas de descanso e contemplação.
De uma forma um pouco mais esplendorosdsa, no sentido de sintetizar uma massa sonora aparentemente desconexa, o guitarrista Lucas Ray mostra qualidades e aponta caminhos diferentes na música instrumental.
O primeiro single de seu projeto, Lucas Ray Exp, é "Counting Colors", onde técnica e feeling aparecem esquilibrados em meio a fraseados rápidos e envolventes.
Claro que as referências são muitas, em especial aos magos Joe Satriani e também Steve Vai. Mas são muitas notas por segundo, né? São, mas que não comprometem a qualidade do produto final. Tem rock pesado, mas também tem blues e jazz, com alguns sotaques regionais.
Maranhense radicado em São Paulo, Ray tem ótimo domínio do instrumento e consegue aliar vários movimentos em uma mesma canção. Por mais que soe como muita informação, é um recurso que apenas ótimos instrumentistas conseguem exibir.
Lucas Ray Exp não é um projeto instrumental, mas a música chamou bastante a atenção. "Senti que essa música teve uma expressividade muito grande. Cerca de 90% do meu material tem os meus vocais, mas esse som demonstra bem o que é possível explorar na guitarra."
O músico admite que sentiu saudade de uma firula tipo shred (fritação), mas que a melodia é uma parte fundamental da música que produz.
"Como fã de rock progressivo e trilhas sonoras, eu gosto muito dessa coisa de contar histórias apenas de frma melódica e nem sempre tenho necessidade de palavras para me expressar. Peguei muita coisa do jazz fusion e do intrumental progressivo pra criar as linhas melódicas da música", diz o guitarrista.
Na música brasileira, Lucas Ray bebe bastante nos trabalhos de Paulo Belinatti, Tom Jobim e Dori Caymmi, além de jazzistas como Joe Pass e Pat Metheny. "O uso da guitarra de sete cordas é algo que faço bastante e que remete ao meu interesse pela música regional e por choro, que me fascinam. Acho que essa mistura toda está sendo importante para formatar o meu som e imprimir um DNA próprio no meu trabalho."
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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