Iron Maiden: livro ilustrado acerta ao apostar na contextualização
Combate Rock
29/11/2019 06h31
Marcelo Moreira
Banda de metal mais destrinchada por escritores, o Iron Maiden ganhou uma biografia diferente há alguns anos graças ao talento do canadense Martin Popoff, um dos maiores especialistas internacionais em heavy metal.
Biografias ilustradas costumam não atrair tanta atenção por serem consideradas superficiais – a informação em texto geralmente fica em segundo plano por conta das fotos.
Popoff decidiu mudar a percepção deste tipo de produto e escolheu em 2013 o Iron Maiden para um projeto gráfico ousado para contar a mesma história de sempre e exaustivamente explorada por outros tantos jornalistas, músicos e historiadxores.
"2 Minutes to Midnight – Atlas Ilustrado do Iron Maiden", escrito em formato de guia, ganhou finalmente a sua versão brasileira por iniciativa da editora Valentina. Os dias mais importantes mereem destaque especial, como o 11 de janeiro de 1985, a estreia da banda no Brasil na primeira edição do Rock in Rio.
É um livro em edição caprichada, onde Popoff foi bem-sucedido ao contextualizar historicamente a obra do grupo inglês com cada época de sua carreira, tudo entremeado por notas explicativas e declarações dos membros, tiradas das milhares de entrevistas feitas pelo autor.
Como existem farta referências históricas nas letras do grupo, o autor mergulha no mundo fantástico dos verdadeiros contos elaborados sobretudo pelo vocalista Bruce Dickinson, que quase se formou em história em Londres, e pelo baixista Steve Harris.
É o caso, por exemplo, da Batalha de Paschendaele, um dos pontos altos dos combates na I Guerra Mundial, que mereceu uma música de mesmo nome gravada no álbum "Dance of Death", de 2003.
A batalha ocorreu em 1916, em um lugarejo da Bélgica, onde ingleses, escoceses e franceses combateram os alemães em uma das batalhas mais violentas do conflito.
As várias referências ganharam um capítulo inteiro, o primeiro, onde Popoff dá uma aula de história digna das performances da banda.
O rigor informativo está lá, como é a característica do autor e de outros nomes importantes da literatura do rock, como Mick Wall e Joel McIver, que são ingleses.
O detalhe é que o formal e até sisudo (em alguns momentos) canadense se rendeu à descpontração e cometeu um texto leve, que flui bem e fácil. A tradução ajuda a manter o clima em relação às ironias e às boas sacadas.
E quem diria que o lado headbanger de Popoff aflorou com a farta distribuição de pancadas aos punks e à podre música pop dos anos 1979, 1980 e 1981, em uma ode ao maravilhoso heavy metal" como nenhum outro escritor do gênero havia feito.
"Há algumas outras coisas em cena também que fizeram do Maiden o icônico exército que ele se tornou. Há uma uniformidade no merchandising, há uma galeria de verdadeiros hinos e hits que a banda colecionou ao longo dos anos, e há a energia inspiradora que o grupo emana em suas apresentações ao vivo, ao ponto de ficar fácil perceber que a banda e seus fãs fiéis estão juntos, lutando a mesma guerra cultural lado a lado. E quem são os vilões nessa guerra? Bem, no fundo, os mesmos valores defendidos pelo NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), em apoio à musicalidade, contra o punk; só que agora é contra a sintética e patética música feita por computadores e eletrônicos, e não apenas a porcaria de ficar castigando um único acorde que impedia que cabeludos de jeans conseguissem fazer shows em pubs em 1976", escreveu o jornalista canadense.
De leitura rápida e divertida, é um trabalho sério e diversificado entre os livros que tratam do Iron Maiden. Claro que não é o melhor nem o mais profundo sobre o tema, mas é uma obra tipo almanaque que cumpre o seu papel.
As principais informações estão lá. E a contextualização das letras e dos 44 anos de banda com a história da humanidade são o grande diferencial de "2 Minutos to Midnight", um dos livros recentes de rock mais legais editados no Brasil.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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