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Nostalgia e rock de qualidade nos sons de Ameslari e Fabiano Negri

Combate Rock

31/10/2019 06h37

Marcelo Moreira

Em algum ponto de uma dobra temporal bem ao estilo "Star Trek", Elton John e David Bowie passearam pelo interior de São Paulo e até podem ter se cruzado nos bares e palcos municipais. E eis então que temos os anos 80 em trabalhos de artistas de qualidade como Ameslari e Fabiano Negri.

"City Stories" é o primeiro álbum de Ameslari, tecladista e cantor baseado em Ribeirão Preto. Fã de Elton John e de música pop mais elaborada, mergulhou de cabeça em uma sonoridade meio classuda, mas ao mesmo tempo rica em melodias.

Difícil não lembrar de coisas como Spandau Ballet, Tears for Fears, Classic Noveaux, Marc Almond e Communards, ícones pop dos anos 80, principalmente na duas primeiras músicas, "The Fire" e "Neon Love", com todo o esplendor de teclados em profusão e elementos eletrônicos.

Ameslari (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Elton John foi o que me inspirou a tocar piano, eçle é fantástico. Entretanto, o que me levou a buscar a sonoridade que está no 'City Stories', além da influência oitentista, é algo presente no trabalho, pro exemplo, de  The Killers, U2, Rush da fase 'Counterparts' [álbum de 1994], Ghost. Gosto muito também de rock japonês, sou bastante eclético, eu acho", diz o músico.

O ambiente urbano predomina entre os temas abordados pelo músico paulista, que é um aficionado da noite e de suas imagens que evoca. De certa forma, é algo um pouco incomum para artistas que não vivem em grandes metrópoles, por mais mais Ribeirão Preto não seja uma cidade pequena.

"Essa estética me fascina, esse ambiente lúgubre, com cores mais escuras, o roxo, o azul, creio que isso me remete a uma vida diferente, a uma vida diferente. Esse ambiente noir me inspira bastante", revela Ameslari.

Seu trabalho é bastante agradável até porque soa meio "vintage". São raríssimos os artistas hije em dia que mergulham em uma sonoridade que remeta quase que fielmente à primeira metade dos anos 80, tanto no clima como nos arranjos e na estética.

Mesmo assim, é um trabalho moderno e eficiente, que é acessível e dinâmico. A opção pelo idioma inglês foi uma coisa natural para ele. "Eu me sinto mais confortável nesta língua. Já fiz poemas em português, mas não gostei do resultado, ao menos para ser musicado. Não é o objetivo inicial, mas é claro que dessa forma 'City Stories' pode ser melhor apreciado fora do Brasil."

Fabiano Negri, por sua vez, é um velho conhecido dos roqueiros paulistas. Professor de música requsitado em Campinas e ótimo compositor, fez d seu trabalho solo um espelho de suas influências diversas, que vão do classic rock ao folk, do blues à soul music, passando pela música eletrônica mais dark.

Inquieto e com energia de sobra, acaba de lançar mais um single, "Home Work Vol. 1", com duas músicas inéditas. "Ugly Days" e "Dead Prayers" resgatam as influências setentistas do multi-instrumentista e cantor, com violões folk e guitarras sutis e delicadas, realçando a melancolia que lhe característica.

O inglês é a sua ferramenta desde sempre, o que ressalta o clima mais soturno, transformando-o em um bardo. "Ugly Days" é uma balada simples, singela, mas muito bonita. Negri consegue transmitir na dose certa tristeza e desespero, lembrando as trovas de Ronnie Lane (ex-Faces e Small Faces) em sua carreira solo.

"Dead Prayers" é outra balada, mas é mais hard rock, com sua guitarra pesada ladeando a melodia bela executada no piano. Os arranjos de corda e teclados são muito interessantes, lembrando os melhores trabalhos de David Bowie na primeira metade dos anos 70.

A letra imagética é Bowie puro, com mais doses de melancolia em desespero em uma performance mais arrastada na primeira parte. Na segunda, mais rápida e mais dinâmica, Negri avança e mostra qualidade no encadeamento melódico com o intenso solo de guitarra.

Enquanto aguardamos a conclusão de sua ópera-rock, iniciada em 2017, fiquemos com essas suas duas canções de inspiração folk calcada no rock inglês, que tornam Negri um artista diferenciado dentro do espectro nacional.

Fabiano Negri (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Em paralelo, ele continua divulgando a coletânea que fez englobando a carreira da banda Rei Lagarto, "The Rei Lagarto Years", nome importante do rock paulista no final dos anos 90 e começo dos 2000. Existiu entre 1991 e 2001.

Como vocalista e um dos compositores, Negri praticamente moldou o conceito do grupo, que teve sucesso ao misturar o classic rock setentista com sons mais modernos.

Foram cinco álbuns de estúdio, um álbum ao vivo e dois EPs.  Nós éramos meio que um fenômeno local. Fazíamos uma média de cento e vinte shows por ano, algo que hoje em dia parece utópico. 

"Éramos um fenômeno local. Chegamos a fazer 120 shows por ano. Como faltava matrial online da banda, decidi lançar uma coletânea para que os antigos fãs possam recordar e para que uma nova geração de pessoas possa ter contato com a nossa música", escreveu Negri nas redes sociais.

Ele não descarta outro retorno para shows comemorativos – um deles foi realizado recentemente -, o que seria uma ótima notícia. Assim como a carreira solo de Negri é diferenciada, o Rei Lagarto destoava do que se fazia na época, com uma variedade sonora e muita competência nas composições.

Dois são os destaques entre as 18 faixas remasterizadas: "Dancing In the Moonlight ", com a participação do baterista Aquiles Priester (ex-Angra, Shaman e Noturnall), com sua melodia robusta e guitarras densas, e "Wer Will Somebody", que é um rock prazeroso que certamente foi precursor do que Negri viria fazer na carreira solo.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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