A maravilhosa história do King Crimson completa 50 anos
Combate Rock
03/10/2019 06h54
Marcelo Moreira
Era jazz, mas era punk. Era meio erudito, mas também muito pesado. Nem mesmo os músicos que tocaram sabiam exatamente o que estavam fazendo. E o líder, o nerd Robert Fripp, sabia o que estava acontecendo?
Foi nesse clima de incerteza – mas de intensa criatividade e liberdade – que o King Crimson gravou o seu álbum de estreia, em 1969, já mirando um evento muito importante: a abertura do show gratuito dos Rolling Stones no Hyde Park, em Londres, em 5 de julho daquele ano, que até então ninguém sabia que seria uma homenagem ao ex-integrante Brian Jones, morto dois dias antes.
Era a estreia os palcos do grupo, que já se formou com a ideia de radicalizar na forma de fazer rock e música pop. O público, como era de se imaginar, não entendeu muito bem a proposta da banda, e nem estava ali para isso, mas muita gente importante se interessou pelo som do grupo.
"In the Court of the Crimson King", o álbum de estreia, foi lançado há 50 anos e ainda impressiona pela proposta radical e pela qualidade da música criada e executada.
Robert Fripp, o guitarrista com ar de professor universitário, tinha a pretensão de ser um estilista musical – algo que acabou se realizando nos anos seguintes em seus mais variados projetos.
Inteligente e culto, mirava diversos compositores eruditos modernos para cria ruma música que chamou de "diversificada". "Fazemos música para a cabeça, não para os pés", disse anos depois em uma entrevista.
Fripp valorizava a improvisação e a liberdade criativa,. mas dentro de parâmetros que considerava aceitáveis dentro de uma estética avançada – ou progressista, termo em voga na época.
Se Pink Floyd, The Move e Moody Blues expandiam as possibilidades da música psicodélica na Grã-Bretanha na segund a metade dos anos 60, caberia a The Nice (banda de Keith Emerson) e King Crimson promover o encontro do jazz e da música erudita com o rock naquele momento.
Listado frequentemente como um dos álbuns mais influentes do rock, "In the Court of Crimson King" é uma obra mágica, mas difícil. As músicas são pesadas, anárquicas, mas ao mesmo tempo dotadas de arranjos e passagens intrincadas e inusitadas para uma música pop ainda baseada nas canções, como em 1969.
Muitos críticos não hesitam em cravar que o álbum é o ponto de partida, de fato, que se convencionou chamar de rock progressivo (ou progressista).
Foi a banda que projetou o baixista e vocalista Greg Lake, cantor classudo com voz de veludo, que ficaria famoso no trio Emerson, Lake & Palmer.
Também impulsionou a carreira de Pete Sinfield, letrista e responsável pela iluminação nos shows, que Fripp fazia questão de considerar integrante da banda.
Completavam o time o tecladista Ian MacDonald e o baterista Michael Giles, que tinha tocado com Fripp em uma banda anterior (Giles, Giles & Fripp).
O som era difícil e não muito acessível, mas produziu clássicos eternos do rock, como a faixa-título e a maravilhosa e pesada "21st Century Schizoid Man", além da sutil e melancólica "Tomorrow" e da fantástica "Epitaph".
Assídua frequentadora de Buenos Aires – já lançou um álbum ao vivo gravado na cidade em 1994 -, a banda finalmente tocará no Brasil pela primeira vez no Rock in Rio desde ano, com remota possibilidade de fazer duas apresentações em São Paulo na mesma época.
Será a oportunidade para conferir ao vivo a genialidade do Kring Crimson, que eventualmente toca duas músicas do primeiro álbum ao vivo na atual turnê.
In The Court of the Crimson King (Full Album) from D W on Vimeo.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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