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Rockfest, uma prévia de gala para a maratona do Rock in Rio

Combate Rock

30/09/2019 21h00

Flávio Leonel – do site Roque Reverso

O primeiro Rockfest fez jus ao nome e trouxe uma verdadeira festa do rock n' roll para a capital paulista. Realizado no Allianz Parque no sábado, 21 de setembro, o festival apostou em bandas internacionais veteranas e com público para encher as áreas disponíveis da Arena do Palmeiras.

Num sábado com temperatura amena e tempo parcialmente nublado em relação aos últimos dias abafados e secos em São Paulo, as bandas Scorpions, Whitesnake, Helloween e Europe trouxeram praticamente tudo que os fãs esperavam.

Os brasileiros do Armored Down abriram o Rockfest ainda no período da tarde, quando o Allianz Parque ainda tinha o público chegando para o evento.

Headliner do festival, o Scorpions justificou essa condição com um grande show, estando muito acima das demais bandas, já que trouxe o melhor som, os melhores efeitos de telão e uma performance de banda principal.

Em contrapartida, o Whitesnake esbanjou carisma; o Helloween foi o grupo que trouxe o som mais pesado e rápido do evento; e o Europe surpreendeu boa parte daqueles que sempre consideraram a banda como uma mera emplacadora de hits fáceis.

Scorpions (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Tal qual o cenário visto no Solid Rock de 2018, os organizadores do evento no Allianz Parque optaram pela não utilização da capacidade total da arena palmeirense, que abriga um número próximo ao de 50 mil pessoas em shows. No Rockfest, as Cadeiras Superiores não foram usadas, deixando o número de fãs restrito aos setores de Pista Vip, Pista Comum e Cadeira Inferior.

A decisão ajudou a trazer uma sensação de casa lotada, já que os espaços vazios eram raros nos setores com público na arena. Entre as reclamações dos fãs, especialmente nas redes sociais, ganhou disparado a escolha da cerveja do evento, seguida pelas filas em alguns banheiros. Entre os elogios, a pontualidade dos shows foi algo que mereceu citação pela maioria dos presentes.

Domínio do Scorpions

Visitante já costumeiro de terras brasileiras, o Scorpions voltou a São Paulo novamente como headliner, repetindo condição que já havia acontecido no Skol Rock, em 1997, e no Live N'Louder, em 2005. Se, nas ocasiões anteriores, o fato de ser a banda principal da noite havia sido mais do que justificado pela performance e pela qualidade musical, em 2019, no Rockfest, esses dos fatores ganharam a companhia de um trabalho excelente de efeitos de palco, principalmente no telão.

A banda subiu ao palco por volta do horário das 22 horas. Na verdade, "desceu", já que, num efeito vindo do telão, as imagens davam conta de um desembarque dos músicos de um helicóptero fictício. O som, por sua vez, só foi melhorar após as duas músicas iniciais: "Going Out With a Bang" e "Make It Real", menos badaladas que os hits tradicionais do grupo.

Vale destacar que, em "Make It Real", o telão trouxe um efeito com uma imagem da bandeira do Brasil ao fundo (veja a foto que acompanha este texto), repetindo a técnica usada no bom show que o grupo fez no Credicard Hall em 2016.

Scorpions em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Os clássicos começaram com "The Zoo", que trouxe som e efeitos de luzes espetaculares. Com tantos anos de estrada, dá gosto entre os fãs da boa música ver uma banda tão entrosada.

Klaus Maine (vocal) é o oposto daquele frontman que agita e levanta o público. Discreto e parado em seu canto, ele se concentra em entregar uma voz que surpreende, se for lembrada a idade do sujeito: 71 anos. O agito fica por conta do irrequieto Rudolf Schenker, que não para um segundo e também surpreende, na mesma faixa de idade de Maine.

É Schenker que conduz o som do Scorpions e tem no grande parceiro Mathias Jabs (guitarra) o apoio para trazer o som poderoso do grupo. Paweł Mąciwoda (baixo) e o excelente Mikkey Dee (bateria) fazem a chamada "cozinha", com destaque maior para o ex-batera do Motörhead, que, sem dúvida alguma, acrescentou muito para o som do Scorpions desde que entrou para a banda.

Após "The Zoo" e antes do medley "Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train", o Scorpions trouxe a sempre bela "Coast to Coast", que emociona os fãs, especialmente quando os guitarristas, o baixista e Klaus Meine (também empunhando uma guitarra) se posicionam em frente ao público. No Allianz Parque, essa aproximação foi maior por causa de uma bem sacada passarela que atravessava boa parte da Pista Vip.

Clássicos sempre são bem-vindos, mas músicas mais recentes de qualidade também. E a faixa "We Built This House", do álbum mais recente do grupo, "Return to Forever" (2015) tem cara de clássico, refrão de clássico e jeitão de clássico, mas não chegou a bombar em rádios como costumava ser na época que o Scorpions emplacava hits. Desde que foi lançada, porém, ela vem sendo presença obrigatória nos shows e vem ganhando a simpatia dos fãs.

A apresentação teve espaço para um momento acústico belíssimo, já que trouxe o Scorpions executando "Send Me an Angel". Com o público fazendo a voz do refrão, o Allianz Parque se intensificou na emoção, que foi mantida com o ultraclássico "Wind of Change", tão importante no contexto político da queda do Muro de Berlim na década de 90 e tão necessária nos tempos conservadores atuais.

Depois de o agito ter retornado na sempre simpática "Tease Me Please Me", o show ganhou em peso com o solo de bateria do Mikkey Dee. Não bastasse a qualidade do músico, os efeitos de luz se intensificaram e a bateria foi elevada por cabos a uma altura de mais de 4 metros, numa ação rara em palcos brasileiros, mas que sempre empolga demais quando isso acontece. No final do solo de Dee, as capas de álbuns da carreira do Scorpions ficaram ao fundo do telão, gerando mais um efeito contagiante para o show.

Europe (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A alucinante "Blackout" e o clássico "Big City Nights" mantiveram o público em êxtase e fecharam a primeira parte da apresentação. Após o brevíssimo descanso, o Scorpions voltou ao palco para executar dois de seus maiores hits: nada menos que "Still Loving You" e "Rock You Like a Hurricane". A primeira emocionou o mais frio dos fãs, enquanto a segunda fez muita gente pular, mesmo depois de tanto tempo de festival.

Fim de show e a sensação de quero mais ficou forte, pois alguns clássicos ficaram de fora, como "Always Somewhere" e "Bad Boys Running Wild".

O saldo final, porém, foi de mais uma apresentação de alto nível do Scorpions. Para quem já viu o grupo outras vezes, como este jornalista, a sensação, pelo menos nos shows realizados no Brasil, é de que a banda não tem performances ruins, mas apenas positivas.

A diferença em relação às bandas anteriores do Rockfest foi grande, muito mais pelo qualidade acima do normal do Scorpions do que por alguma inferioridade dos outros grupos.

O carisma do Whitesnake

Querida pelo mesmo tipo de público que aprecia o Scorpions, o Whitesnake estava com o jogo ganho desde que subiu ao palco. Com seu hard rock classudo e ótimos músicos, o grupo desfilou vários clássicos da carreira.

Foi do álbum "Whitesnake" (1986), porém, que a banda trouxe a maioria das faixas no show. "Bad Boys", que abriu a apresentação, "Still of The Night", "Give Me All Your Love" e "Is this Love" estavam lá para fazer o público cantar junto do começo ao fim.

De outros álbuns, também não ficaram de fora as obrigatórias "Love Ain't No Stranger" e "Here I Go Again", que ficaram entre as mais bem tocadas da noite.

A despeito dos músicos de alto calibre, o que chamou a atenção na apresentação do Whitesnake foi a voz do lendário David Coverdale. Por mais que ele se esforçasse e tentasse, e muito, entregar uma voz perfeita, os efeitos da idade (ele completou 67 anos um dia depois do show) estão cada vez mais nítidos, com ele trazendo uma voz bem mais rouca do que a que marcou sua carreira.

O clássico "Still of The Night", por exemplo, ficou prejudicado, já que as difíceis notas da música ficaram longe de serem alcançadas.

Entretanto, como é um mestre do palco, Coverdale ainda entregou a diversão que um show de hard rock exige. A simpatia e esforço para satisfazer o público ficaram claros desde a camisa com detalhes da bandeira do Brasil até a bandeira que ele pegou do público para deixar pendurada num pedestal de microfone.

Destaque no show também para a performance de outro veterano, o baterista Tommy Aldridge. Já tradicional, o solo de bateria deste monstro das baquetas deixou muitos de boca aberta, com direito ao momento no qual ele tocou o instrumento com as mãos.

Num dos grandes momentos da apresentação na Arena do Palmeiras, o grupo trouxe, para fechar com chave de ouro, o clássico "Burn" do Deep Purple. Com a banda super entrosada e Coverdale tirando notas do fundo da alma, foi sensacional estar presente naquele momento, já que era uma lenda fazendo cover de outra lenda, que já teve o vocalista nas suas fileiras justamente na época de lançamento do clássico álbum de mesmo nome.

Dignidade, carisma, simpatia e diversão são palavras ótimas para resumir mais uma apresentação do Whitesnake em São Paulo.

O peso do Helloween

Não que as demais não tiveram momentos pesados, mas a presença do Helloween deixou clara a diferença entre hard rock e heavy metal para quem não estava familiarizado. Fazendo um revival de toda a longa carreira, a banda alemã uniu o peso à velocidade e entregou um show bom de ser visto.

Com um verdadeiro rodízio de vocalistas importantes para sua história, o grupo emocionou os fãs presentes com algumas músicas que marcaram o heavy metal. Michael Kiske, Andi Deris e Kai Hansen proporcionaram aos fãs momentos inesquecíveis.

Desde a abertura, com "I'm Alive", passando por "Ride the Sky", pelo momento de êxtase e vibração, com "Power", e o encerramento apoteótico com "I Want Out", os três vocalistas e os demais músicos reunidos para a chamada turnê "Pumpkins United", que passou pelo Brasil em 2017, trouxeram uma performance digna e até certo ponto rara, já que poucas são as bandas que têm a coragem de deixar o ego de lago para uma reunião deste tipo.

Helloween (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A boa surpresa com o Europe

Corajosa também pode ser a classificação para a apresentação que outro veterano, o Europe, fez no Rockfest. Surpreendendo muitos daqueles que sempre criticaram o hard rock extremamente pop que marcou boa parte da sua carreira, a banda entregou um show muito digno e que enriqueceu a experiência do público presente no Allianz Parque.

Desde a super balada "Carrie", passando pela boa música "Cherokee" e encerrando o show com o hit gigante "The Final Countdown", o que se viu na Arena do Palmeiras foi uma performance de qualidade e sem exageros.

O vocalista Joey Tempest, empolgado com o show e a reação do público, até teve tempo para descer para a plateia e abraçar e cumprimentar os fãs.

Festa do rock

O que ficou do Rockfest foi a verdadeira festa do rock, num momento cheio de notícias tristes no Brasil e no mundo. Alguns podem até criticar momentos de alienação nestes períodos, mas uma noite recheada de hits, clássicos e baladas do bom e velho rock n' roll só faz bem para os corações e mentes que perseguem a diversão tradicional do estilo musical.

O público ainda ficou sabendo durante o festival que um símbolo da festa do rock, o KISS, voltará ao Brasil em maio de 2020. Pela reação das pessoas após o anúncio nos telões, São Paulo terá mais uma festa no ano que vem garantida. E lá se vai mais dinheiro em show de rock…

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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