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Miles Davis e 'Kind of Blue': a vanguarda que influenciou tudo

Combate Rock

25/08/2019 07h00

Marcelo Moreira

Música de vanguarda jamais será popular, mas sempre será capaz de mudar o mundo. A máxima está explícita em quase todas as páginas do livro "Kind of Blue: Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música", do jornalista inglês Richard Williams, editado no Brasil pela Casa da Palavra.

E nada melhor do que comemorar dos 60 anos do álbum maravilhoso do que revivend a obra em si e recomendando o livro ótimo que foi publicado no Brasil pela primeira vez em 2014.

Denso, didático e metódico, o livro é referência na análise das principais obras do jazz contemporâneo e faz um passeio interessante pela música popular do século XX e a vanguarda de vários estilos.

O ponto central da obra é a genialidade do álbum "Kind of Blue", que Miles Davis gravou com seu quinteto em duas sessões no primeiro semestre de 1959.

No ano em que a obra completa 60 anos de gravação, ainda ecoa por vários segmentos como uma das influências mais importantes para os artistas que vieram depois dele – e é bom lembrar que fazia parte da banda do trompetista que é quase um sinônimo de jazz o visceral saxofonista John Coltrane.

Williams deixa claro que é um apaixonado por jazz e viciado na obra de Miles Davis, mas se mostra conectado com o rock e com a música erudita.

Além de descrever minuciosamente como funcionaram as sessões de gravação e os difíceis relacionamentos dentro da banda, elabora com habilidade uma contextualização de toda uma era de criatividade extrema no jazz, e faz uma reverência ao compositor e maestro Gil Evans, um dos principais colaboradores do trompetista norte-americano.

É interessante a reconstituição da carreira de Davis entre 1949 e 1959, recriando os ambientes que levaram ao surgimento de um dos clássicos da música.

"Kind of Blue" ganhou em 2009 uma reedição em CD triplo com extras e material bônus, e sua força reside na extrema objetividade e na sutileza com que a música foi elaborada. Os extras são tão bons quanto o material original.

A segunda parte do livro tem menos fluência, mas é importante por evidenciar como a obra de Davis influenciou músicos no rock, no jazz e na música erudita ao longo dos últimos 55 anos -e não só na música, mas também na estética das artes plásticas e até na literatura.

Escuute as principais peças de John McLaughlin (guitarrista britânico), Keith Jarrett (pianista norte-americano), Phillip Glass (compositor erudito norte-americano), Brian Eno (compositor britânico, ex-Brian Ferry e produtor do U2), Jimi Hendrix, Soft Machine (pioneiros do jazz rock na Inglaterra)  e muitos outros para observar a presença de "Kind of Blue".

Expandindo os horizontes, o autor consegue conectar mundos aparentemente distintos, que vai das inquietantes paletas de pintura de Picasso, Matisse e Yves Klein, que influenciaram o humor de toda uma cultura que valorizava imensamente a cor azul, ao blues e os outros sons que melhor traduziam o que era ser cool.

Mostra também como o legado de Davis está presente nas longas improvisações da banda The Allman Brothers aos concertos do Grateful Dead, passando pelo riff mais copiado de James Brown e da rebeldia atormentada e fascinante de Pete Townshend e seu The Who. 

Infelizmente a leitura é um pouco árdua para quem não é iniciado no mundo musical além-rock do século XX. A profusão de nomes e termos técnicos de música pode afetar a fluidez do texto, mas nada que seja intransponível.

O livro de Richard Williams é muito interessante para quem quer entender um pouco da evolução da música popular e da de vanguarda dos últimos 60 anos. 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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