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Woodstock é uma ideia poderosa que estimula a esperança

Combate Rock

15/08/2019 16h41

Marcelo Moreira

Woodstock se tornou sinônimo de sonho – e de pesadelo, para alguns. É um nome mítico, de um lugarejo perdido no interior do Estado de Nova York que se transformou no paraíso por meros três dias. E continuou embalando vários sonhos depois, décadas depois, por mais emboloradas e embaçadas que essas ideias se tornaram.

O festival de agosto de 1969 foi o auge de uma era e, ironicamente, o começo do fim de tudo. Catapultou carreiras, e começou a sepultar outras. Inaugurou, curiosamente, alguns modos diferentes de vida ao mesmo tempo em que enterrou comportamentos e "ideologias".

Entretanto, o nome remete diretamente ao sonho que embalou uma geração que achava que poderia se libertar das amarras de um mundo dominado pelo espectro da guerra, da corrida armamentista e da repressão comportamental de todos os tipos.

O tempo passou, mas o sonho permaneceu no ideário de quem buscava algo diferente e dissonante, divergente e radicalmente extremo em uma sociedade que ainda isolava quem pensava de modo diverso em plena democracia, que reprimia a liberdasde feminina e desprezava quem maerginalizava o dinheiro e o sucesso.

Dez anos depois do incônico encontro musical que mudou, para bem e para o mal, o comportamento cultural do Ocidente, aqueles devaneios caíam como uma bomba quando a dramática versão de "With a Little Help From Friends", de Joe Cocker, estourava nos falantes.

O sonho virava pesadelo nos guinchos violentos e lancinantes na violenta versão do hino nacional norte-americano que a guitarra de Jimi Hendrix gritava.

A distopia dava lugar á esxperança quando The Who bradava "See Me Feel Mee", o belíssimo e transtornado final da ópera-rock "Tommy", enquanto o passado idílico ganhava forma na beleza caipira das canções de Creedence Clearwater Revival.

O sonho dominava tudo quando era possível escutar as canções belas, mas duras, de Joan Baez, que contrastavam com a suavidade melancólica de Crosby, Stills & Nash, que teve a participação de Neil Young em algumas músicas.

Havia entretenimento, claro, com o rock pesado do Mountain e o rock'n'roll acelerado e veloz do Ten Years After, que ajudaram a colorir um evento que dava muito valor às mensagens.

Santana e Grateful Dead impuseram a diversidade sonora e étnica no festival, enquanto que Sly & Family Stone deixaram claro que não estavam ali para brincar – era o black power arrebentando tudo para reforçar a diversidade.

Qualquer som daquele festival é um caminhão de reminiscências e de múltiplas sensações. Escutando posteriormente (e vendo o documentário) sobre a apresentação dos Rolling Stones quatro meses depois em Altamont, na Califórnia, as cores de Woodstock ficam ainda mais fortes.

Naquele minifestival dos Stones, tudo deu errado e um espectador negro morreu esfaqueado por um integrante dos Hell's Angels, que faziam a "segurança".

Se a análise se estender por mais seis meses e teremos uma das últrimas edições do festival inglês dsa Ilha de Wight, edição que contou com Miles Davis, Bob Dylan, The Doors, Jimi Hendrix, The Who, Emerson, Lake & Palmer e muitos artistas grandes e famosos.

Sob o prisma de "mesmo pacote", é possível que percebamos o auge, a decadência e o fim real dos anos 60, com a decadência dando o tom em termos políticos, culturais e musicais.

Os Beatles já não existiam mais, enquanto que Hendrix e Janis Joplin morreriam mesnos de dois meses de pois do festival inglês. Jim Morrison, dos Doors, logo lhes faria companhia.

Rolling Stones e os então novatos de Led Zeppelin estabeleceriam novos patamares de sucesso e hedonismo, levando de carona muitos outros astros setentistas.

O negócio tomaria conta do rock e enterraria aquela era do flower power – mas não exterminaria aquele sonho de paz, prosperidade e luz que aquele povo de Woodstock buscava.

Parafraseando um pensamento que se tornou uma praga hoje em dia, Woodstock se tornou mais do que um sonho. É uma ideia, tanto que se tornou sinônimo de uma era ou de uma geração.

Era difícil para um garoto de 15 anos entender a profundidade da questão ao ver o filme do festival – ou excertos dele. Foram necessários mais dez anos para que o contexto ficasse mais claro – e mais encantador.

Do ponto de vista artístico, muitos dos artistas que lá estiveram não têm boas lembranças do festival, e até desdenham de sua importância histórica.

Mas a ideia é persistente e não larga as várias gerações posteriores. Woodstock é uma ideia poderosa 50 anos depois que propicia esperança e renovação, principalmente na era de Donald Trump e Jair Bolsonaro. As guitarra de Jimi Hendrix naquela manhã de segunda-feira, 18 de agosto de 1969, nunca me deixa esquecer disso.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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