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Houve 'comemoração' pela doença de João Gordo: o fosso está mais fundo

Combate Rock

13/08/2019 07h00

Marcelo Moreira

Existe uma crise política grave e duradoura no Brasil, que envolve questões éticas e de comportamento, mas que também se espalha para outras áreas, transformando-a em uma crise social.

Não existe mais cordialidade, nem condescendência, muito menos solidariedade. Sobrou apenas o ódio. É o que podemos observar nas redes sociais, que deram voz a gente incapaz e desprovida de bom senso.

As recentes manifestações a respeito do problema de saúde de João Gordo, vocalista dos Ratos de Porão, demonstram que o fosso em que a sociedade brasileira se meteu é profundo.

João Gordo foi internado pela segunda vez em 30 dias por conta de uma pneumonia que se mostra crônica, forçando a banda a cancelar shows e turnê europeia. O cantor tem um histórico de problemas de saúde neste século, mas tem demonstrado valentia e resistência.

No entanto, por seu notório engajamento antifascista e pelos direitos humanos/civis, virou faz tempo alvo de ativistas e apoiadores da extrema-direita, o que levou a manifestações de "comemoração" por sua internação nas redes sociais em muitos grupos.

Isso é algo extremamente nojento, revelando uma indigência intelectual e uma atitude calhorda de parte da sociedade brasileira – parcela expressiva dessa gente que torce pela morte de João Gordo é formada por músicos e apreciadores de rock e metal que se dizem "conservadores".

É uma atitude abjeta e condenável, da mesma estirpe daquela atitude nojenta tomada por dejetos humanos de extrema-esquerda que "comemoraram" a morte do filho do então governador paulista Geraldo Alckmin em um acidente de helicóptero anos atrás.

Não se trata mais de exigir algum tipo de sensibilidade e bom senso de gente que adotou o ódio como impulso de vida no cotidiano deste século. É apenas uma mera constatação de que a falência social brasileira e latino-americana é uma realidade e de que falhamos enquando sociedade civilizada.

Não dá para medir a profundidade do problema em outros países de nosso continente – exceto na Venezuela e a Nicarágua, que são países socialmente convulsionados e emprobrecidos por suas ditaduras de cunho esquerdista há alguns anos.

Argentinos com bom senso e bem informados insistem em dizer que o país está em um buraco tão profundo, social e politicamente, quanto o do Brasil. Algo parecido ocorre no Peru e no Equador, assim como em El Salvador. Fogem um pouco dessa realidade Uruguai, Chile e Costa Rica.

Vibrar pelo infortúnio de alguém é mais do que pobreza de espírito. É mau-caratismo em seu estado mais puro.

João Gordo tem um legado impostantíssimo no rock brasileiro e internacional, pra não falar de sua coragem política ao assumir posturas antifascistas e contra o autoritarismo em pleno período de ditadra militar e pós-ditadura, quando o aparato repressivo do Estado ainda estava bastante atuante seguindo os preceitos ditatoriais.

O fosso social no Brasil, de cunho político, aumenta cada vez mais e as chances de ser diminuído são nulas. A democracia é a primeira a sofrer com suas consequências.

Continuamos defendendo que a intolerância, de qualquer tipo, não pode ser tolerada em nenhuma circunstância. Intolerância se combate com intolerância para que a democracia seja preservada.

O problema é que o silêncio da maioria com bom senso, mesmo que tenha errado redondamente ao votar no atual presidente, se recusa a admitrir o erro e prefere a omissão em vez de propor a reconstrução de pontes. Infelizmente, não esperemos por dias melhores.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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