'Tommy' vai da orquestra ao cinema, passando pelo teatro
Combate Rock
01/08/2019 06h50
Marcelo Moreira
Uma obra ampla, totalmente adaptável para o teatro e para o cinema, quando não para a Broadway. "Tommy" foi foi uma obra encarada por muito ceticismo pelo próprio estafe do da banda inglesa The Who, mas foi a insistência do próprio autor, o guitarrista Pete Townshend, que possibilitou o seu lançamento, em 1969. Todos sabiam que poderia ser a redenção da banda endividada, ou o seu fim prematuro após sete anos de carreira.
O roteiro/enredo era pueril e confuso, até mesmo incompreensível, esotérico e indecifrável para alguns. Para outros, era o suprassumo da cultura psicodélica e um produto poderoso para ser explorado em outros formatos – cinema, teatro, musical, livro, história em quadrinhos…
Anos depois o Kiss levaria isso a extremos, mas foi a banda The Who que potencializou, de forma inédita e pioneira, as possibilidades mercadológicas de um um produto criado para ser um álbum de rock.
A primeira grande produção extra-álbum foi o musical teatral desenvolvido em Londres com uma orquestra sinfônica. O objetivo inicial era apenas registrar em álbum duplo "Tommy" com uma orquestra com um elenco estelar, como se fosse uma ópera/musical. Fez tanto sucesso que se tornou a base de um musical com atores/cantores londrinos.
Intitulado apenas "Tommy", o projeto foi lançado em álbum em 1972 tendo como base a execução musical da London Symphony Orchestra, conduzida por David Measham e arranjos de Will Malone, dois maestros conhecidos na Grá-Bretanha.
O trabalho foi primoroso e contou com a participação de estrelas do rock nos vocais, como Steve Winwood, Rod Stewart, Rchie Havens, Maggie Bell (cantora do Stone the Crow) e Sandy Denny (cantora do Fairport Convention), além de Pete Townshend, guitarrista do Who e autor de "Tommy", e o cantor da banda, Roger Daltrey.
O imenso sucesso da versão com orquestra e depois do musical londrino estimulou a megalomania de criar um roteiro para um filme. O cineasta Ken Russell encampou a ideia e demorou dois anos para conseguir apoio e financiamento na Inglaterra para uma produção considerada excêntrica, exótica e cara.
Após muita discussão, Pete Townshend e os empresários do Who apoiaram, o projeto – o compositor até compôs duas novas canções a pedido do diretor.
Proganizado por Oliver Reed e Ann-Margret, a superprodução teve bom desempenho nos cinemas, mas aquém do era esperado – a crítica variou de condescendente a implacável, por conta da megalomania e da falta de uma solução considerada "aceitável" para o roteiro considerado confuso.
No entanto, é unânime a constatação que a melhor coisa do filme, além da trilha sonora com as músicas do álbum, é a interpretação do vocalista Roger Daltrey como Tommy – tanto que sua atuação forjou uma carreira razoavelmente bem-sucedida no cinema inglês e norte-americano nos anos seguintes e até o começo da década de 2000.
O filme também teve a participação de Elton Johjn, Eric Clapton e Tina Turner, além do ator Jack Nicholson, em breve aparição com um médico.
Eric Clapton aparece cantando a faixa "Eyesight to the Blind" no papel de um pregador, tendo os outros três integrantes do Who como "banda de apoio" e assistentes.
Keith Moon, o baterista da banda, aparece como o tio Ernie, cruel e mau. Tina Turner deu um show como a prostituta Acid Queen na faixa homônima, e Elton John se destacou mais ainda como o desafiante de Tommy no campeonato de fliperama em "Pinball Wizard".
"Tommy" foi um sucesso estrondoso no cinema e influenciou diretamente na estética de "The Wall", de Alan Parker, lançado em 1982, e "Quadrophenia", de 1979, tambpem baseada em um álbum duplo do Who.
Tommy também virou musical da Broadway nos anos 90, com roteiro do próprio Pete Townshend – montagem que passou pelo Brasil em elogiadíssima produção, sendo que em São Paulo ficou quase um mês em cartaz no Olympia.
Neste ano, em março, mais uma versão do musical foi montada e passou pelo Brasil, com performances em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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