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Vanguart faz bela homenagem a Bob Dylan em novo CD

Combate Rock

15/07/2019 17h00

Muitos consideram que "tributos" a certos artistas não passam de preguiça de músicos em compor álbuns autorais – há até quem diga que não passa de puro oportunismo.

São inúmeros os exemplos de gente que gravou CDs inteiros em homenagens aos ídolos – Beatles, Jimi Hendrix, Bob Dylan e Led Zeppelins são os campeões de citações e homenagens.

Quando alguém decide grvar canções de Dylan, então, é bom ter cuidado. Não é o caso da banda brasileira Vanguart, que escolheu 16 temas do compositor e cantor norte-americano que fogem um pouco do tradicionalismo e dos grandes hits – quer dizer, mais ou menos.

"Vanguart Sings Bob Dylan" é um CD interessante, em que a banda mostra ecletismo e inteligência na escolha de repertório e arranjos. Talvez náo faça muita dferença na discografia do grupo, mas o guitarrista e vocalista do grupo, Helio Flanders, teceu alguns comentários pertinentes a respeito da nova empreitada do Vanguart:

"Quase vinte anos atrás, tive minha primeira desilusão amorosa. Na mesma semana, adquiri uma cópia de um disco do Bob Dylan para acompanhar aquele coração partido que eu carregava. O álbum era "Blood On The Tracks".

Aos soluços, nunca me esqueci de ouvir a primeira faixa que terminava com os versos 'Nós  sempre sentimos o mesmo / apenas vimos as coisas de um ponto de vista diferente'. Das ironias da vida, esta mesma canção é "'Tangled Up In Blue', que abre o álbum lançado agora com minha banda: 'Vanguart Sings Bob Dylan' (Deck). 

Robert Allen Zimmerman, hoje prêmio Nobel de Literatura, com 38 discos de estúdio lançados, foi cantado desde o início de sua carreira por artistas como Rolling Stones, Nina Simone, Joan Baez, Peter Paul & Mary, e uma lista que endossaria o cheque de seu Nobel e de qualquer pesquisador de música popular como um dos maiores compositores de todos os tempos.

Se sua belicosidade poética chocara os Estados Unidos desde o lançamento de 'The Freewheelin', Bob Dylan, em seu segundo álbum que já trazia clássicos como 'Blowin' in the Wind' e 'Master of War', tampouco poderia dizer que seus versos foram menos sagazes e pungentes em Cuiabá, no coração do Brasil, onde o Vanguart nasceu.

Dylan sempre foi o maior dos atalhos de comunicação entre e a poesia e o homem comum, cantado como o grande valor a ser compreendido na sociedade, algo que já havia sido apontado um século antes por Walt Whitman, e quase contemporaneamente a ele nos anos 1950, pela geração beat, de quem Bob era completamente fã. 

Após quatro discos autorais em 11 anos, o Vanguart se enfurnou no estúdio Tambor, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2018, junto do produtor Rafael Ramos para registrar seu primeiro álbum não-autoral.

Dezesseis canções do bardo americano foram gravadas de modo ao vivo, dando ênfase a seus primeiros 15 anos de carreira, com exceção para 'Make You Feel My Love', do álbum de 1996, 'Time Out of Mind'. Foi uma experiência surreal voltar o coração musical a canções que fizeram parte de nossa adolescência e vida adulta.

Não saberia dimensionar o tamanho da emoção ao revisitar os clássicos do primeiro álbum dele que ouvi, o mesmo do começo deste texto, como 'Simple Twist of Fate' e 'You're A Big Girl Now', assim como 'Restless Farewell', de seu terceiro trabalho 'The Times They Are A-Changing', escrita aos vinte e tantos anos por Dylan, que Frank Sinatra disse, ao completar 80, ser a canção que parecia ser a história de sua vida inteira.

Também impossível não se impactar ao ver minha parceira Fernanda Kostchak (violino, voz) cantar de modo irrepreensível a tradicional "House of the Risin' Sun" e tocar seu violino em canções do disco 'Desire' como 'One More Cup of Coffee' e 'Hurricane', esta última em incansável interpretação vocal de David Dafré (guitarra, lap steel e voz).

Outros clássicos como 'It's All Over Now, Baby Blue' e 'I Shall Be Released' ficaram a cargo de meu escudeiro dos vocais Reginaldo Lincoln (baixo, bandolim, guitarra, voz), que mais uma vez assumiu os microfones com maestria. Junto de nós estava Julio Nganga nos pianos e órgãos hammond, e os dois bateristas Kezo Nogueira e Pedro Gongom, se revezando entre as canções mais delicadas e mais rock and roll.

Os cinco dias em que registramos essas 16 canções foram certamente um "escape" dentro do dia a dia de uma banda, onde não existiram os extenuantes ensaios, as pendências harmônicas, a busca pelo take perfeito.

Assim como Dylan nos ensinou de maneira errática, a música é contar uma história, é redesenhar uma sensação. Se isso soa quase óbvio hoje, agradeça a Bob. 

A importância de um disco do Vanguart tocando Dylan, para além de celebrar a obra do compositor, é enorme, pois ao mesmo tempo que nos faz compreender de onde viemos também nos mostra que podemos ir muito além de bandeiras e gêneros fincados dentro da música e seus limites.

Para mim, as canções de Dylan não falam sobre a revolução e sim sobre refletir acerca dela. Não falam sobre a violência e sim sobre a liberdade. Faz compreender por que a poesia ainda é a força capaz de abrir mentes e congelar guerras individuais e coletivas. Enquanto os ventos seguirem soprando, a resposta continuará lá."

Tracklist:

1.     Tangled up in Blue

2.     Don't Think Twice It's All Right

3.     Just Like a Woman

4.     It's All over Now, Baby Blue

5.     Simple Twist of Fate

6.     I'll Keep It with Mine

7.     You're a Big Girl Now

8.     The House of the Rising Sun

9.     I Shall Be Released

10.  Ballad of a Thin Man

11.  Hurricane

12.  Like a Rolling Stone

13.  One More Cup of Coffee (Valley Below)

14.  To Make You Feel My Love

15.  Restless Farewell

16.  Blowin' in the Wind

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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