'Daisy Jones & The Six': uma história sem ousadia soterrada por clichês
Combate Rock
14/07/2019 06h37
Marcelo Moreira
Às vezes a compulsão para o consumo prega algumas peças na gente, especialmente em livrarias e nas poucas lojas de CDs e DVDs que restaram. Olhamos a capa de um livro, de cara sabemos que não será lá essas coisas, mas alguma coisa nos compele a comprar. A maioria das vezes é um erro, mas em outras, uma surpresinha.
"Daisy Jones & The Six" é uma dessas suspresinhas, recheadas de clichês e de lugares-comuns, que rendem um passatempo agradável.
O livro foi editado pela Paralelas é um lançamento deste mês de junho e tem o rock como tema principal, mas no fundo é um romance de amor.
A ideia não é original. A jornalista e escritora Taylor Jenkins Reid fez uma pesquisa competente na recriação do ambiente roqueiro dos anos 60 e 70 e mostrou bom domínio dos termos ligados à música e dos procedimentos ligados a turnês e gravações de estúdio. No entanto, faltou ousadia e um freio no uso dos clichês e situações caricatas do rock.
A história da fictícia história da banda The Six e a sua posterior associação copm a cantora Daiy Six foi estruturada na forma de uma série de entrevistas com músicos, produtores, empresários, parentes de músicos, cônjuges e até mesmo pessoas periféricas, como atendentes de bares e de hotéis.
Quem conduz as entrevistas é uma jornalista/pesquisadora que conta a história separadamente da banda Dunne Brothers (que no futuro se transformará no The Six) e da ex-groupie Daisy Jones, que se tornará uma das cantoras mais requisitadas da América.
O auge é quando as duas carreiras ascendentes se cruzam na mesma gravadora e empresários e produtores decidem juntar as partes por sugestão de um jornalista da revista Rolling Stone após uma extensa reportagem de capa com ambas as partes.
O que deveria ser um estrondo e o começo de uma nova fase para ambos os artistas se torna um estorvo e o fim de tudo. História simples, basiquinha e leve, sem muita firula, embora tente dar cores dramáticas ao roteiro com as relações amorosas que rodeiam os músicos.
Taylor Reid teve bastante trabalho ao tentar resumir em apenas uma banda milhares de histórias de trajetórias roqueiras, e foi competente nisso. A questão é que ela privilegiou os clichês e acabou por não apresentar nada de novo. Faltou-lhe o talento da romancista que envolve o leitor e o surpreende.
Então temos a banda dos irmãos desajustados e pobres que são músicos talentosos e começam a fazer sucesso, mas que são muito diferentes, sendo que o mais velho, Billy, é o compositor e dono do grupo, o chefão.
Tem o guitarrista solo invejoso e encrenqueiro, o baixista desencanado, o baterista malucão e o irmão guitarrista que idolatra Billy. Tem a tecladista feminista que odeia cantadas baratas que se envolve com o irmão do "chefe" mas nção quer assumir o compromisso. Há o produtor genial que sabe tudo de mercado e de estúdio e o empresário que banca a babá de todos. E tem a mulher de Billy, que não se mete na carreira do marido, mas é o ponto fundamewntal da história.
Do outro lado, a personagem que tenta sintetizar tudo o que uma estrela do rock representa: rica, ignorada pelos pais artistas, solitária, geniosa, precoce, genial e personalidade forte.
Bêbada e drogada desde os 15 anos de idade, incapaz de compaixão, obcecada por sexo e prazeres mundanos, compositora autodidata e groupie mais do qwue conhecida em Los Angeles no início dos anos 70 até que tem seus "talentos" musicais descobertos por um namorado músico, que logo é descartado quando ela começa a ficar famosa.
Quando Daisy Jones é convidada para fazer um dueto com The Sixs em um single, surge uma conexão imediata entre ela e a banda, e mais ainda, entre ela e o líder, Billy Dunne, que é casado e tem três filhas. É uma relação de amor ódio, de inveja e ciúmes, de possessão e egoísmo.
Após uma turnê conjunta, em que Daisy e sua banda abrm os shows para The Six, vem a ideia de que a cantora tem de gravar um disco com o grupo e entrar oficialmente na formação. O álbum resultante é um sucesso absoluto, mas a união é explosiva demais. Marca o auge de todos, e o começo de um fim rápido para tudo.
Leve e ligeiro, é um bom entretenimento, mas acaba sendo um pouco frustrante pelo amontoado de clichês e por reprisar um monte de histórias que recheiam as milhares de biografias de astros que estão nas prateleiras.
Poderia ser uma oportunidade para que a literatura rock gerasse uma obra com um pouco mais de conteúdo. Lamentavelmente, é apenas uma historinha de amor e compreensão tendo uma banda de rock como pano de fundo – uma história que a escritora vende de uma forma e entrega de outra, com nenhum glamour ou requinte.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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