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Violência em forma de música: há 40 anos o metal se transformava em cultura

Combate Rock

08/07/2019 06h39

Marcelo Moreira

"Como esses caras podem querer fazer uma revolução se não sabem tocar?"

Em variados momenos, a bibliografia do rock registra indignações desse tipo em relação ao punk rock. Ninguém discutia as motivações, a energia e a fúria. Mas muita gente questionava: custava aprender o básico do básico para tocar?

A mesma pergunta foi feita em lugares distantes da Inglaterra. Em Birmingham, o Judas Priest ia bem, mas ainda não era gigante, e o vocalista Rob Halford se perguntava o que era aquela zona.

Mais longe, em Sheffield, Peter Bifford, da novata Saxon, não se conformava com a tosqueira punk, da mesma forma que Steve Harris, em Londres, com o pesado e também punk Iron Maiden.

E foi então que personagens distantes, que não se conheciam, resolveram aliar a fúria punk com a violência sonora, mas com gente que sabia tocar e ousar. E então nasceu a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), um movimento descoordenado, mas que seria fundamental para "criar" um subgênero dentro do rock que até então era conhecido como rock pauleira, o famoso hard rock setentista criado por bandas como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath.

Ninguém sabe definir ao certo quem criou o heavy metal e quando ele surgiu. Mas todo mundo sabe quando e onde o subgênero tomou de assalto a música pop em contraposição à basoneira disco e à tosqueira punk: foi em 1979 que o Saxon lançou o seu primeiro álbum misturando hard rock de inspiração norte-americana com riffs mais pesados e (in)tensos.

Foi também naquele ano que a fita demo do Iron Maiden chamada "Soundhouse Tapes" tomou conta do underground roqueiro da Grã-Bretanha e mostrou ao mundo uma nova forma de protesto, de violência sonora e de rebelião.

Para muitos, o punk rock não passava de rebeldia contra o sistema e contra um monte de coisas que os próprios punks não sabiam dizer o que era. O heavy metal inglês, por sua vez, tinha cara, coragem e conceito: era rebelião e tinha propósito. Mais do chocar, queria dominar.

O Judas Priest fazia parte do rock pauleira setentista, mas viu que a nova onda estava chegando para ficar. Mergulhou de cabeça e apadrinhou todos os que vieram em seguida, da mesma forma que o Motorhead de Lemmy Kilmister. E o som pesado tomou conta da Europa e, pouco depois, dos Estados Unidos.

A brincadeira entre os metaleiros da época era a de que os punks se limitavam a chutar as canelas, enquanto que os bandos do metal queriam arrancar cabeças.

A diferença entre as motivações e as ambições foi determinante para o futuro roqueiro daqueles caras: o punk rock praticamente morreu em 1982, enquanto pequena parte se transmutava em new wave e outras "situações" underground. Já o heavy metal cresceu e voou, se tornando parte indestrutível e indissociável do rock.

Judas Priest, Saxon e Iron Maiden são a cara mais visível da NWOBHM, desde sua concepção até a sua formatação. Só que a onda varreu a música pop na forma de avalanche sonora trazendo bandas que até hoje inspiram fãs em todo o planeta.

A lista é grande e interminável: Def Leppard, Venom (as duas bandas não necessariamente se inserem por conta da estética, mas sim pelo oportunismo, já que estavam no lugar certo e na hora certa), Witchfynder General, Tank, Satan, Demon, Tygers of Pan Tang, Blitzkrieg, Diamond Head…

O punk rock foi uma ruptura necessária e fundamental para a sobrevivênvia do rock e da própria música pop, mas foi o metal de 1979 que levou a ruptura adiante e manteve a chama da rebelião e da rebeldia na base da extrema distorção e do som muito pesado.

A importância da NWOBH é tanta que levou um baterista amador dinamarquês a abandonar o tênis profissional para transformar uma banda barulhenta de quintal em um dos gigantes da história do gênero musical  e, de quebra, criar um novo tipo de som e subgênero dentro do próprio heavy metal.

Lars Ulrich escutava todas as bandas britânicas de metal entre 1979 e 1981, o que o levou a pendurar as raquetes e comprar uma bateria nova em Los Angeles e, junto com o guitarrista James Hetfield, transformar o Metallica em monstro do heavy metal e a criar o thrash metal.

O punk transformou a cultura ocidental? O metal também, e foi muito mais além. Assim como o punk, criou um novo modo de vida. Melhor ainda: criou uma nova forma de vida, uma nova forma de cultura – peso em forma de arte, protesto em forma de entretenimento, violência em forma de música.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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