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Diário de Rio das Ostras: a explosão do blues e do jazz

Combate Rock

30/06/2019 06h54

Eugênio Martins Júnior – do blog Mannish Blog

Lucky Peterson (FOTO: CEZAR FERNANDES/DIVULGAÇÃO)

Domingão, copão de breja na mão, solzão e sonzão. O melhor blues do mundo fechou a edição de 2018 do Rio das Ostras Jazz e Blues (ROJB).

Não vi o show do Segundo Set Instrumental no palco São Pedro. Como regra, fiquei escrevendo a matéria do dia anterior e recuperando meus corajosos rins e fígado.

O show do Lucky Peterson que seria no palco da Praia da Tartaruga foi transferido para o da Lagoa do Iriry, mais aconchegante e com uma vibe maravilhosa.

Roy Rogers entrou primeiro e fez o mesmo set da noite anterior, só que ali pertinho. Revelando todos os truques para quem se habilitar a tocar slide guitar. É, sem dúvida, um dos maiores do mundo nessa técnica. Em todos os anos de festival, nunca vi a platéia da concha acústica de Iriry tão vibrante.

Rogers esquentou o público para o timão que veio depois. Lucky Peterson e seu crew composto por três brasileiros, Fred Barley (bateria), Bruno Falcão (baixo) e Flávio Naves (teclado), mais o canadense Shawn Kellerman (guitarra) e a norte-americana Tamara Tramell (voz).

Alternando entre a guitarra e o órgão Hammond B3, Peterson mostrou porque é um dos maiores guardiões da tradição do blues. Quando foi para a guitarra, Naves assumiu o Hammond e botaram fogo no recinto.

Um dos truques que os blueseiros têm é descer tocando no meio da galera. E os brasileiros adoram. Ok, é mesmo muito legal. Max a galera tem de entender que não pode atrapalhar o músico. Ele está ali tocando e você não pode puxá-lo pelo braço, pelo pescoço, colocar a mão no instrumento e até, subir no palco.

Galera, vamos ter um pouco mais de educação. Não deixa a cachaça tomar conta, não. Não sabe beber, não beba tanto. O palco é território do artista. Só ele pode estar ali. Não seja um idiota.

Pense: se você está filmando, alguém também pode estar te filmando ou fotografando. Enfie o seu telefone celular no bolso e curta o show. E mostre um pouco de respeito por uma lenda do blues.

É assuntando aqui e ali que a gente vai coletando as informações. Com motoristas de um aplicativo apurei que muitos vieram de outras cidades – Campos, Cabo Frio e até Rio de Janeiro – para trabalhar no feriadão de Corpus Cristi no Rio das Ostras Jazz e Blues (ROJB). Muitos começavam às 18h e iam até às 6h do dia seguinte.

A dona da pousada me disse que 85% dos leitos da cidade estavam ocupados. Mas que já houve dias melhores, chegaram a ficar completamente lotados e que, quando isso acontecesse, os moradores ainda podem alugar quartos para os turistas.

Roy Rogers (FOTO: CEZAR FERNANDES/DIVULGAÇÃO)

Um político local me disse que os prefeitos podem mexer em tudo o que quiserem, menos no festival de jazz e blues.

Com 18 anos de idade, o ROJB atingiu a maioridade com todos os percalços que isso gera. No começo, falta de patrocínio e público. Ao longo dos anos, mudanças de prefeito e até tentativa de ingerência. Atualmente, uma crise econômica que atingiu em cheio o setor cultural. A queda de arrecadação com royalties do petróleo na região e, novamente, o fantasma da falta de patrocínio.

Também o pouco apreço do Governo Federal atual e de seus apoiadores pela cultura levaram à difamação descabida aos programas de incentivo fiscal, entre eles, a Lei Rouanet. Parece que os culpados por todos os problemas do país são os artistas.

"A crise já bateu forte em 2016 e eu paguei do meu bolso. Sabia que se o festival parasse ia acabar. Foi uma resistência mesmo", conta o produtor Stênio Mattos, criador do ROJB.

Sentindo o momento difícil, mas também a importância da continuidade do evento que dá vitrine à música instrumental, as atrações nacionais abriram mão dos seus cachês para que o ROJB acontecesse.

Em 2017 a cidade sentiu na pele o que é ficar sem o festival. Reagiu. Incentivou-o a continuar em 2018, ainda que menor.

É só olhar a grandiosidade do festival e o que ele entrega, para perceber que ali está um filão que pode ser explorado econômica e turisticamente por qualquer prefeitura do Brasil.

A cultura gera inúmeros retornos. Para se ter uma ideia, a senha do wi-fi da pousada onde fiquei hospedado era "cidadedojazz", prova de que o festival já foi agregado ao dia a dia local. Por causa desse festival, fundou-se um curso de produção cultural que já rende frutos maduros na cidade.

"O Ministério da Cultura tem de ter seus recursos, está na Constituição. O controle desse dinheiro é o fundamental e isso não ocorre. Esse festival cumpre o que a lei manda, gratuidade total, projetos sociais, ativa a economia local. Outra coisa, o festival é apolítico. Talvez por isso, a longevidade", conta Stênio.

Em parceria com o festival, a Fundação Getúlio Vargas informa que o ROJB injeta 11 milhões na cidade em apenas cinco dias. "Esses números provam que a cultura dá retorno, sim", diz Stênio.

Palco Iriry, em Rio das Ostras (FOTO: CEZAR FERNANDES/DIVULGAÇÃO)

O resumo é que o festival que começou com pequenos palcos espalhados pela cidade, hoje é o maior do país. Já foram cinco dias de festa, recebendo os melhores artistas de jazz e blues do mundo e do Brasil. Com orçamento que já chegou a 6 milhões de reais gastos.

Hoje são quatro dias de shows. O ROJB voltou melhor do que as últimas três anos. Também foi assuntando que eu soube que a edição de 2020 já está quase fechada. Que venha melhor e mais forte que todas. E eu estarei lá pra contar tudo de novo. VIVA A MÚSICA.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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