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Eric Gales e Gary Clark Jr exaltam o blues moderno em novos CDs

Combate Rock

10/05/2019 07h00

Marcelo Moreira

Um mentor apaixonado pelo discípulo, que não perde a oportunidade de louvar o trabalho dele; um discípulo reverente, atento e generoso, sempre disposto a ouvir e ensinar. E assim a guitarra vai empurrando o blues à frente com uma genial mistura de estilos e sempre surpreendendo.

Se o norte-americano Joe Bonamassa é o grande nome do gênero hoje, sempre passeando entre o jazz, o blues tradicional e o hard rock, são os compatriotas Eric Gales e Gary Clark Jr. que estão abusando da ousadia e da criatividade para renovar a música ianque.

Os dois guitarristas negros gostam de peso, gostam de escalas diferentes e riffs muito fora do comum e demonstraram isso em seus novos trabalhos, lançados no começo de 2019.

"Gary é sensacional, um sopro de criatividade fora do comum na fora como toca e compõe. Sou fascinado pelo trabalho dele, que é uma das melhores coisas que já surgiram nos últimos anos", diz Gales sobre o amigo em uma entrevista concedida ao Combate Rock há alguns anos em São Paulo.

Já para o site da revista norte-americana Rolling Stone, Clark cita Gales como uma enorme inspiração, seja pessoal ou musical. "Ele foi um dos caras que expandiu os limites da guitarra."

"The Bookends" é o CD de Eric Gales recém-lançado. O canhoto fez uma visita ao passado e lá buscou elementos para tornar o seu blues visceral e enérgico ainda mais potente.

Aos 44 anos de idade, o mestre já é um veterano que transborda sabedoria. São quase 30 anos de carreira solo ou ao lado dos irmãos guitarristas e baixistas, mas sua marca é inconfundível: toque sutil e elegante, mas forte e contundente, incorporando o melhor de Stevie Ray Vaughan e Jimi Hendrix.

É o que podemos ver na excelente faixa "Something's Gotta Give", que abre o trabalho novo após uma breve "Intro". É rock, mas é blues e mais um monte de coisa, com um peso extraordinário.

"Whatcha Gon' Do" e "How Do I Get You" promovem um interessante casamento entre o blues tradicional e a música moderna, com fraseados cortantes e arranjos sólidos que vão da soul music ao rhythm & blues.

E a usina de riffs não para nas ótimas "Reason For a Change" e "Resolution", além da magistral versão de "With a Little Help From My Friends", dos Beatles, com o músico dividindo os vocais com a cantora Beth Hart.

É uma boa versão, com efeitos alucinantes de guitarra e uma condução surpreende e ousada da melodia, apesar da semelhança com a versão de Joe Cocker.

"Bookends" é uma exploração interessante e essencial por novos caminhos dentro do blues, ainda que haja algum excesso na incorporação de elementos da música negra moderna, em especial o hip hop. Gales consegue reunir várias texturas sonoras sem descaracterizar o hard blues que marcou a sua carreira

Gary Clark Jr. é um fenômeno do mesmo calibre e, de muitas maneiras, segue os passos do colega mais velho em seu novo trabalho, "This Land", que está sendo aclamado como o seu mais importante trabalho até aqui.

Os entusiastas do guitarrista afirmam que não há limites para a criatividade e a capacidade de fusão de estilos americanos promovidos pelo músico. Talvez ainda não seja a sua obra definitiva, mas o que ele cometeu no último trabalho é de altíssima qualidade.

Clark avançou bastante nas experimentações e nas misturas, mas a guitarra é o fio condutor de todas as experiências. O resultado é muito bom, embora talvez não contundente quanto seus trabalhos anteriores.

Não é um disco fácil de ouvir. Requer uma atenção maior do que que normalmente dispensamos a uma audição de CD, mas é altamente prazeroso quando descobrimos uma série de texturas diferentes e inusitadas.

"This Land", a música, e seu clipe impactante, dão o tom do que vem pela frente, com guitarras distorcidas e efeitos alegóricos de alto calibre, tudo sobre uma base rítmica de rhythm & blues  e hip hop. É forte, é pesado e intenso. É político, é furioso e direto.

"What About Us", a faixa seguinte, não alivia e segue forçando a barra (no bom sentido). Letra forte, questionando valores da América e sobre a vida que as pessoas querem para o futuro daquele país. É mais rocn'n'roll com um toque de soul music, mas tem dois solos  dilacerantes.

"I Walk Alone" e "Got to Get Up" apostam em um formato mais tradicional de blues, com guitarras lancinantes e vocais mais diretos e dramáticos, enquanto que "Gotta Get Into Something" aborda de uma forma mais moderna o blues rock, com um riff veloz e pesado. É uma música festeira e para cima.

As experimentações também ficam de lado na bela "When I'm Gone", uma balada soul com ares sessentistas que remetem às obras de Sam Cooke e Smokey Rosbinson.

"The Governor" traz Clark fazendo uma reverência ao country folk em um a guitarra acústica com um timbre apaixonante embalado por um efeito slide contagiante. Na mesma pegada, a singela "Got My Eyes On You" cria um efeito sombrio meio acústico, meio eletrônico, mostrando a versatilidade do artista.

Gary Clark Jr. certamente é um dos gigantes da música pop da atual geração e merece muito crédito por estar colocando o blues de volta ao topo da música pop.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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