Subalternos e Garotos Podres: o punk sobrevive e ainda fala bem alto
Combate Rock
26/04/2019 06h41
Marcelo Moreira
Não está fácil ser punk em 2019, mas com certeza está muito maias difícil ser cidadão nestes temos sombrios. O diagnóstico é cirúrgico e guitarrista e vocalista Alberto Rinaldi, o Deedy, não economizou adjetivos para mostrar o desagrado e a preocupação com o Brasil da segunda década do século XXI.
"Ser punk é um ato de resistência, para ficar no clichê batido, mas também é muito mais do que isso. Modo de vida? Significado social? Tem tudo a ver e muito mais. Nunca foi fácil e ninguém disse que ia ser", diz o músico por telefone após fazer o filho bebê dormir em uma tarde paulistana cinzenta.
O que pode fazer da vida um rapaz pobre e raivoso a não ser cantar e tocar em uma banda punk? A analogia com a letra de "Street Fighting Man", uma das mais fortes canções dos Rolling Stones, cai bem na trajetória de Deedy, que se divide entre as bandas Garotos Podres e Subalternos (na qual é o vocalista,. além de guitarrista), além de trabalho paralelo.
Se o mundo está louco e a sociedade brasileira está em parafuso diante de um (des)governo federal de orientação conservadora, as coisas parecem caminhar de uma forma mais positiva dentro do punk nacional, ao menos diante da perspectiva das duas bandas.
Os Garotos Podres embarcaram para o Chile na Semana Santa para alguns shows em locais bacanas e o Subalternos se preparam para tocar pela segunda vez consecutiva no Rebellion, aquele que é considerado um dos mais importantes festivais punks do mundo em Blackpool, na Inglaterra.
"Diante de tantas dificuldades que a gente enfrente desde sempre para tocar por aí, e ainda por ser banda punk, posso dizer que estamos em um momento especial. Decidimos entrar com a cara e a coragem para concorrer a uma vaga no Rebellion, mandamos nosso material, fizemos um cadastro e os caras gostaram de nós e nos convidaram para tocar em 2018. Acho que agradamos, pois faremos sete shows lá em quatro dias neste ano", afirma Deedy.
O grupo já tem um álbum lançado no ano passado e já prepara singles e EPs para os próximos meses. "O mundo da música mudou demais, as pessoas ouvem música de outra forma e não estão dispostas a pagar o que quer que seja, só que os custos de estúdio, masterização, prensagem, capa e outros não só não diminuíram como subiram. Fica proibitivo para bandas como a nossa investir dinheiro em álbum para pouco ou nenhum retorno. O single é a soluição."
Este é o motivo pelo qual os Garotos Podres não deverão, ao menos por enquanto, pensar em lançar em novo material tão cedo. Deedy é guitarrista da nova formação desde a banda decidiu voltar a fazer shows em 2017 sob a liderança de José "Mao" Rdorigues, o vocalista icônico da banda punk mais celebrada do Brasil.
Em 2011, a formação da época "rachou" por questões políticas, já que Mao sempre foi um ativista de esquerda, além de professor universitário de história. Curiosamente, a banda sempre foi associada à música de protesto no Brasil de teor esquerdista, mas, exceto Mao, os demais integrantes eram conservadores em termos políticos – tanto que alguns sempre que podiam se manifestavam a favor da Polícia Militar paulista e de políticos identificados com a direita política.
Após o racha, Mao saiu e montou o Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos, enquanto os Garotos Podres recrutaram outro vocalista, mas a banda não durou muito, praticamente deixando de existir a partir de 2013.
Esperando um tempo de maturação, o icônico vocalista decidiu recuperar o nome há dois anos com uma nova formação, para sorte de todos nós e segue na tarefa complicada de reconstrução do nome do grupo.
"A resposta que estamos tendo está magnífica desde aqueles shows de retorno com o nome em 2017, mas demanda tempo para que os Garotos Podres deixem para trás o período em que a identidade autoral e política seja resgatada. A questão das gravações, por conta dos custos, está nos forçando a optar por singles, mas ainda não há uma definição em relação a isso", relata Deedy.
Com a movimentada carreira dos Garotos Podres e dos Subalternos neste ano de 2019, seria possível imaginar que o punk rock, mesmo no underground, está fervilhando por aqui?
Para Deedy, as dificuldades são as de sempre e que afetam todas as bandas de rock undeground: custos financeiros altos, poucos lugares para tocar e uma conjuntura ainda mais adversa após os resultados das eleições presidenciais e estaduais do ano passado.
Mas haveria chances para que, um dia, tenhamos um evento tão bem organizado e importante como o Rebellion no Brasil? "Sim, dá para fazer. O Rebellion tem uma organização profissional impressionante, são mais de 300 bandas por edição. Temos condições de fazer algo semelhante, é só ver como funcionam o João Rock, o Abril Pro Rock, o Porão do Rock. Seria um sonho poder participar de algo parecido com bandas punks no Brasil."
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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