Marcelo Moreira

Os Dead Kennedys, em sua formação atual, protagonizaram uma das páginas mais nojentas e vergonhosas da história do rock. O cancelamento da turnê brasileira que ocorreria em breve é o encerramento de um episódio inacreditável que depõe contra o próprio rock e contra o Brasil.

Depois de quase uma semana de polêmica a respeito do do cartaz dos shows brasileiros, extremamente crítico ao governo absurdo de Jair Bolsonaro (PSL) e à condição sociopolítica do país, a banda decidiu não mais tocar na América do Sul.

É uma vergonha em todos os sentidos, para a banda, para os fãs e para os promotores do evento. Pelo histórico da banda e pelas músicas que lançaram desde 1980, é um vexame que a "repercussão" da arte aprovada para os shows tenha sido o estopim para que os Dead Kennedys ficassem com medo de tocar por aqui.

na nota oificial divulgada via redes sociais nesta sexta-feira, dia 26 de abril, o grupo sucumbe à reação positiva e negativa diante de um cartaz mais do que pertinente e direto e, amedrontada e acovardada, informa que a miniturnê está cancelada por conta da "preservação da segurança dos fãs e de todos os envolvidos no evento".

A desistência dos shows dos Dead Kennedys é provavelmente a segunda pior coisa que já acometeu o rock brasileiro, depois do vergonhoso fracasso do Metal Open Air, em 2012, no Maranhão.

É claro que os integrantes do grupo sofreram algum tipo de pressão de seres inomináveis de extrema-direita por conta do cartaz crítico ao abominável governo Bolsonaro e à abominável onda de direita conservadora que assola essa terra infeliz.

No entanto, ceder a essa pressão é jogar no lixo uma história de 40 anos de punk rock  de contestação e de protesto. É vergonhoso que um grupo de rock importante jogue no lixo uma história tão rica e relevante.

Já havíamos dito que a polêmica do cartaz não tinha sido boa para ninguém, da banda aos fãs, passando pela imprensa e pelos promotores. O resultado final, entretanto, incinerou qualquer resquício de credibilidade que tinha restado aos Dead Kennedys. Que nunca mais pisem na América do Sul, e que rapidamente entendam que não podem mais continuar existindo.