A ascensão meteórica de Elton John vira tema de livro
Combate Rock
12/04/2019 06h30
Marcelo Moreira
Seria um interessante conto de fadas onde o moleque nerd e rechonchudo que ficava de lado, tocando piano, finalmente ganha o estrelato. Só que a realidade sempre dá um jeito de "colocar" as coisas nos devidos lugares, ou seja, de piorar tudo.
Este poderia ser um pequenino resumo de "Captain Fantastic – A Espetacular Trajetória de Elton John nos anos 70" (Ed. Benvirá), livro do jornalista Tom Doyle sobre o um dos maiores astros que o rock já teve.
Diferente da tradição dos jornalistas ingleses que escrevem sobre artistas de rock – equilibram os fatos com fartas doses de interpretação e opinião, além de grande contextualização cultural -, este livro é mais enxuto e foca nos fatos em si, com as devidas explicações, mas sem maiores explanações.
E também uma grande vantagem sobre a maioria das obras concorrentes: o próprio artista resolveu colaborar ao conceder horas de entrevistas e, aparentemente, sem restrições a qualquer o assunto.
O resultado é um livro saboroso e praticamente livre de hipóteses ou teorias: Elton John não só chancelou as informações como as corrigiu com a sua versão, esclarecendo vários pontos importantes de sua história.
O período retratado é a ascensão meteórica de Elton John e seu companheiro de composição, o letrista Bernie Taupin, entre 1970 e 1976, e o período de lenta "aterrissagem" a partir de 1978, quando o pianista e cantor começa a sentir "velho e ultrapassado" com a chegada do punk rock.
Com dados e informações sobre o mercado fonográfico da época, Doyle retrata com fidelidade os bastidores de como Elton John passou de um tímido e talentoso instrumentista de banda de blues a um dos mais esplendorosos astros da música pop, com todas as suas manias e seus excessos no palco e no vestuário – e a dificuldade do músico em conciliar as personas astro pop x Reginald Dwight, o nome verdadeiro e que, fora dos palcos, tentava viver além da fama.
Mesmo com a colaboração do artista, não é uma obra autorizada. Doyle não alivia e vai fundo nas passagens mais complicadas e pesadas, como os chiliques consrangedores de Elton John nos ensaios e nos shows, o abuso de drogas e álcool e as dificuldades em lidar e ocultar a homossexualidade.
Um dos assuntos mais complicados foi quando decidiu abandonar a namorada grávida, em 1970, e cancelar em seguida o casamento marcado. Com delicadeza, mas sem amenizar o comportamento de Elton John, Tom Doyle expõe o drama que o pianista viveu, chegando a chorar de desespero às vezes.
Entretanto, o autor do livro é bem mais comedido quando simplesmente esquece da namorada grávida no restante da obra, assim como ao se referir ao relacionamento de Elton com o empresário John Reid, que cuidou da carreira do músico por mais de 15 anos, mesmo após os dois terminarem a vida conjugal em 1976.
"Captain Fantastic" também tem o mérito de esclarecer muitos fatos a respeito da parceria entre Elton e Taupin, que durou de 1968 a 1977 e produziu dezenas de grandes hits da história da música pop.
Com base nas declarações dos dois especialmente para o livro, Doyle descartou todas as ilações e pensamentos externos sobre a relação profissional e mostrou tanto o amor fraterno dos dois e as razões que levaram ao afastamento de uma dupla de compositores muito sintonizada e entrosada.
Um detalhe que talvez tivesse merecido um pouco mais de atenção é a facilidade com que Bernie Taupin tinha para escrever letras sobre qualquer assunto e perfeitamente afinadas com o universo da música pop. É uma espécie de genialidade poucas vezes vista no mundo da cultura.
Taupin não sabia música nem tocar nada, e nem era um estilista como John Lennon ou Pete Townshend, muito menos um poeta como Bob Dylan, mas tinha uma habilidade e sensibilidades únicas entre os compositores de música pop.
É um livro dinâmico, com uma narrativa intensa e sem floreios, que traça um panorama muito interessante sobre a carreira de Elton John e o mundo musical daquela época.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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