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Protesto político no Lollapalooza faz o rock despertar contra retrocessos

Combate Rock

07/04/2019 20h07

Marcelo Moreira

Foi preciso um gringo e uma cantora desaforada, mas ainda com pouco cartaz, para levar o rock a se manifestar e se posicionar diante das trevas políticas que assombram o Brasil.

E teve de ser em um festival com cara de gringo para que isso acontecesse. O Lollapalooza Brasil foi um sopro de esperança para quem imagina que o rock tenha algum tempo de discurso para protestar contra os desmontes na cultura, nas políticas públicas de assistência social e na destruição da educação.

Parte expressiva do público, nos três dias de festival, entoou gritos e xingamentos contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que ostenta os piores índices de aprovação de um presidente da República desde o retorno das eleições diretas presidenciais, em 1989.

Oliver Sykes, vocalista da banda inglesa Bring Me the Horizon (um hardcore fraquinho, mas que muita gente achou que era heavy metal), puxou vários coros e palavrões contra o ocupante do Palácio do Planalto, contando com a ajuda providencial em suas tentativas de falar português da esposa, que é brasileira.

Uma apresentação, aliás, surpreendente, já que o Lolla BR é um festival pouco afeito à música pesada, por mais que um dia, anos atrás, o Metallica tenha sido uma das atrações.

Assim como no Rio de Janeiro, Sykes não economizou fúria contra os políticos brasileiros e a onda de retrocessos que está atingindo o nosso cotidiano.

Nos três dias, no autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, foram várias as manifestações contra o governo federal e contra o governo do Estado de São Paulo, capitaneado por João Doria (PSDB), outrora entusiasta das hostes bolsonaristas, ams igualmente conservador e flertando com a extrema-direita.

Já a cantora carioca Letrux, que está longe de fazer rock – é uma artista em ascensão dentro do cenário pop/música eletrônica no Brasil -, foi muito mais contundente do que os roqueiros de plantão dentro e fora do festival.

Ela puxou coros contra Bolsonaro e a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba há um ano. Foram vários xingamentos contra o atual presidente e muitas palavras a favor das mulheres e dos direitos humanos, aprofundando o respeito que muita gente tinha pela moça.

Foi sintomático que essas manifestações ocorressem no final de semana que marcava um ano da prisão de Lula e de vários protestos no país contra os "ataques orçamentários" e cortes na cultura e no entretenimento.

O rock ainda mantém a sua timidez nos protestos contra as políticas públicas que vão impactar diretamente nas artes, no entretenimento e na cultura.

É uma cegueira preocupante, que beira o descaso. O rap e o samba, assim como a MPB, têm dado respostas contundentes à onda de extrema-direita e de criminalização do meio artístico apenas e tão somente por criticar e condenar as políticas abjetas do governo federal em tempos de bolsonaros e coisas similares.  O rock não vê perigo e não está nem aí.

Que as manifestações no Lolla BR despertem os roqueiros hibernados e sonados para os tempos sombrios em que estamos vivendo.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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