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Rodrigo Mantovani e Big Creek Slim mergulham no blues tradicional

Combate Rock

22/03/2019 07h00

Marcelo Moreira

Todo baterista sofre para montar e desmontar seu instrumento quando vai tocar em algum lugar, assim coo é complicado transportar o instrumento. Na base da piada, o baixista Rodrigo Mantovani também reclama quando precisa levar seu imenso contrabaixo acústico para algum lugar. Mas o sacrifício compensa: quem vê o instrumentista brasileiro tocando de forma concentrada e precisa, não imagina o quanto ele se diverte fazendo blues.

O contrabaixo imenso é a grande arma que Mantovani apresenta para ter se tornado um dos músicos brasileiros mais requisitados no Brasil e no exterior para fazer blues e jazz, tendo tocado com os principais nomes do gênero no Brasil e também com alguns dos artistas estrangeiros mais importantes da atualidade.

Para quem acompanha o músico brasileiro, seus trabalhos mais conhecidos em CD são a parceria com Celso Salim em "Diggin' the Blues", no qual divide os créditos, e "Let Them In", da cantora paulista Bia Marchese, álbum no qual é produtor e diretor musical  – é também o diretor musical da banda que acompanha a moça.

E eis que a parceria mais nova do baixista é internacional. "First Born" é a primeira colaboração de Mantovani com o guitarrista dinamarquês Big Creek Slim, álbum lançado no Brasil pela onipresente e necessária Chico Blues Records.

A parceria é internacional, mas não "muito": Slim, cujo nome verdadeiro é Marc Rune, é um músico que perambulou bastante pelos Estados Unidos para respirar e tocar blues.

De forma improvável, foi parar em São Paulo anos atrás por sugestão de amigos brasileiros empolgados pelo renascimento do interesse pelo gênero no Brasil e na cidade. Deveria ficar algum tempo apenas antes de voltar para a Dinamarca. Acabou permanecendo por três anos, fixando residência primeiro em Santa Catarina, e depois no Rio Grande do Sul.

Gringo cativante e gentil, ávido por conversar e fazer amizades, tocou com todos os músicos importantes do blues brasileiro – não é à toa que "First Born" tem as participações dos irmãos Igor Prado (guitarra), Yuri Prado (bateria) e do excelente pianista e tecladista gaúcho Luciano Leães, além do trumpetista Sidmar Viera.

O álbum é de uma beleza singela em sua simplicidade. Cantor de voz rouca, Big Creek Slim é um guitarrista de bons recursos e obcecado por timbres clássicos. Seu desempenho no dobro (violão com corpo de aço) é elogiável, buscando uma sonoridade diferente e mais profunda, ao estilo do brasileiro Celso Salim, hoje radicado em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Já Mantovani mostra muito talento e certo virtuosismo. É o baixista que segura a onda em qualquer ambiente, mantendo o ritmo e fornecendo a base e apoio para que o guitarrista desempenhe sem preocupações.

É blues de gringo? Sem dúvida, e a dupla nunca quis diferente. É blues da melhor qualidade, com sentimento e classe, eficiência e técnica.

O desfile de clássicos do gênero faz com que a possibilidade de escorregões seja mínima. No caso de "First Born", não há nenhum.

"Baby, Please Don't Go", clássico eterno imortalizado por Muddy Waters e que ganho versões eletrizantes de roqueiros como o AC/Dc, se transforma em uma balada agressiva e dramática, tendo o baixo de Mantovani como contraponto perfeito para a guitarra acústica lamuriosa de Creek.

"Rollin' & Tumblin"' é outra versão em que o blues se torna visceral, quase folk, com um trabalho vocal bem feito e boas soluções de arranjos para uma canção que todo mundo conhece. Na mesma linha a dupla segue em "Million Years Blues", do Sonny Boy Williamson, e "Motherless Children", de Blind Willie Johnson.

Das 16 canções do álbum, 6 são de Big Creek Slim. Nas canções autorais, o guitarrista e cantor se arrisca um pouco mais, tentando linhas melódicas menos óbvias, como na faixa-título e na pungente ""I Love My Baby".

Já "Teddy's On a Sunday Night", que abre o trabalho, Slim e Mantovani ensaiam um pequeno duelo, onde o vocal mais forte é utilizado meio que para dar o tom do que o CD pretende.

O mercado fonográfico ainda sofre muito com as consequências da crise econômica e os segmentos undeground, digamos assim, encontram muito mais obstáculos, tanto que é nítida a diminuição de lançamentos de de CDs de blues e jazz desde 2017.

Diante desse panorama, a chegada de "First Born" é digna de celebração. Tem gringo na parada? Até tem, mas com certeza é um dinamarquês que está mais para habitante de Porto Alegre e São Paulo do que de Copenhague.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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