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O passado asombra: Nova Zelândia acerta ao cancelar shows de Phil Anselmo

Combate Rock

19/03/2019 19h10

Marcelo Moreira

Phil Anselmo, vocalista do Down e ex-Pantera (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Phil Anselmo passou recentemente pelo Brasil com sua banda The Illegals. Quem foi aos shows se surpreendeu com o peso e com a orientação mais para death metal. Ele está cantando de forma diferente, o que não agradou a todos.

Até onde pudemos observar, o ex-vocalista do Pantera não deu entrevistas por aqui e se limitou a cantar na América do Sul, Passou ao largo de qualquer polêmica, principalmente de suas bobagens em relação ao nazismo e a supremacia branca.

Faz tempo que ele vociferou bobagens em shows e fez saudações nazistas, mas mas o passado vai assombrar o cantor eternamente, a julgar pela decisão tomada pelos produtores de shows da Nova Zelândia, com apoio do governo daquele país.

Poucos dias após o ataque terrorista contra a população muçulmana na cidade de Christchurch, que matou 50 pessoas e feriu ao menos 48, a presença de Phil Anselmo foi repudiada, já que sua apologia ao supremacismo branco poderia incitar apoios, manifestações e até nova escalada de violência. O único preso até agora pelo atentado é um imbecil australiano de 28 anos que se diz de extrema-direita, supremacista em guerra contra outras raças.

Ben Mulchin, responsável pela turnê da banda na Nova Zelândia, disse publicamente não se sentir confortável para realizar as apresentações à luz dos acontecimentos recentes.

Em comunicado à "Billboard USA" e reproduzido pelo site da Rolling Stone Brasil, o produtor explicou os motivos que o levaram a cancelar os shows. "Este é um momento muito sério para a história da nossa nação e para toda a raça humana. Intolerância e ódio precisam ser identificados, reduzidos, arquivados e, idealmente, educados para se transformar em compreensão e empatia."

Não dá para condenar a decisão tomada pelo produtor da turnê. Anselmo paga pelo passado, por mais que tenha se "comportado" recentemente. Tem passado ao largo de qualquer tipo de polêmica.

No entanto, foi cobrado por muita gente desde 2016 a respeito de suas opiniões e de suas declarações. Uma vez declarou que estava bêbado quando fez a saudação nazista, e seu pedido de desculpas careceu de sinceridade e foi tímido, segundo a imprensa norte-americana. E não se retratou a respeito das declarações fazendo apologia dos supremacistas brancos norte-americanos, que são racistas e violentos.

Na época, em comunicado, o ex-vocalista do Pantera, Phil Anselmo, pediu desculpas por ter gritado "white power" ("poder branco", expressão comumente associada a supremacistas) e feito uma saudação nazista no final da execução da faixa "Walk". O caso aconteceu durante o Dimebash, celebração anual ao guitarrista da banda, Dimebag Darrell, morto em dezembro de 2004.

"Estou aqui para responder todas as críticas que tenho recebido e que mereço completamente", escreveu nas redes sociais. "Estava no Dimebash, era extremamente tarde da noite, houve muita conversa entre eu e aqueles que amavam o Dime e muitas emoções rolaram, piadas do backstage acabaram indo para o palco. Foi feio, desnecessário e qualquer um que conhece minha natureza verdadeira sabe que não acredito em nada disso."

Até que ponto se pode misturar política e rock – ou cultura – a ponto de cancelar shows e eventos e até mesmo inviabilizar uma carreira? Até que ponto a decisão neozelandesa pode influenciar negativamente na carreira de Anselmo ou de outros artistas que apoiam ideologias e comportamentos inspirados no fascismo e na extrema-direita?

Não há respostas fáceis, já que existe todo um contexto no caso neozelandês – e o cancelamento dos shows foi uma medida prudente para o momento. Só que isso vai respingar na carreira do cantor. Ao menos por enquanto, outros cancelamentos podem ocorrer em razão as ideias repulsivas do artista.

O Brasil foi condescendente demais ao recebê-lo em fevereiro passado? Não, até porque não havia fato imediato que estimulasse protesto neste sentido. Ninguém lembrou de suas polêmicas extremistas e nazistas na época. Daqui para frente, entretanto, é possível que haja senões em eventuais novos shows do cantor por aqui.

Aparentemente, as desculpas de Anselmo não foram suficientes para afastar o fantasma do fascismo e do extremismo de sua carreira.

Geralmente temos defendido que é um equívoco e pode ser muito injusto com um artista confundir a obra com seu comportamento nas redes sociais e fora dos palcos.

Esquerdistas, por exemplo, elegeram Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, como alvos prediletos devido aos comentários antipetistas e direitistas, quando não preconceituosos – e vão além fazendo questão de ignorar trabalhos relevantes e importantes que fizeram.

Da mesma forma, seres ignorantes execram Caetano Veloso e Chico Buarque pelo apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a causas de esquerda – chegaram ao ponto de chamar Chico Buarque, um artista fantástico, de músico medíocre.

Quando se fala em apologia ao fascismo, ao nazismo e preconceito racial, com apoio ao supremacismo branco, a questão muda de figura, não só por serem prática criminosa em muitas partes do mundo, mas porque são comportamentos abjetos e execráveis, totalmente opostos ao que significa o rock..

É bem desagradável que o passado assombre e atrapalhe a carreira de um artista (outrora) idolatrado como Phil Anselmo, mas não dá para condenar os promotores da Nova Zelândia pelo cancelamento dos shows.

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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