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Roger, do Ultraje, abusa da desumanidade e perde o que restava de dignidade

Combate Rock

02/03/2019 14h46

Marcelo Moreira

Não há controvérsias a respeito da contaminação da obra por conta das polêmicas envolvendo os autores, por mais que haja algumas contestações. Separar autor e obra é necessário, mas isso não é possível em algumas situações.

Roger Rocha Moreira, vocalista, guitarrista e líder do Ultraje a Rigor, sempre perdeu a compostura fora da música quando decidiu se envolver em discussões públicas sobre política. Conservador assumido, é deselegante, mal educado e desinformado, além de não ter a menor vergonha de passar vergonha nas redes sociais.

Enquanto emite as suas bobagens inconsequentes a respeito de direita, esquerda, governo Bolsonaro e prisão de Lula, é visto apenas como um artista que foi relevante, mas que envelheceu muito mal e que não passa de um rabugento enclausurado em seu casarão aos 62 anos de idade.

Entretanto, mesmo para um rabugento chato de meia idade que adora acreditar em fake news e disseminá-las, há alguns limites, até para que o artista se preserve de situações extremamente constrangedoras (por mais que ele não se dê conta).

Ao fazer comentários presunçosos e de extremo mau gosto a respeito da morte do neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o menino de sete anos morreu em consequência de uma meningite -, Roger perde os últimos resquícios de dignidade.

O recente documentário sobre o Ultraje a Rigor, lançado em janeiro e de autoria de Marc Dourdain, demonstrou como o ranço  e o ódio podem contaminar uma obra que deveria ser analisada em razão de sua qualidade (ou falta de), e não por conta das bobagens que um dos personagens fala.

O documentário é sobre a banda, e Roger é apenas um dos entrevistados, embora o mais importante. O filme teve poucos espectadores no circuito comercial, fato comemorado por desafetos do guitarrista e por esquerdistas em geral.

Quanto mais velho, mais fica difícil defender Roger e seus méritos artísticos, que não são poucos. O observador atento e letrista esperto e ágil dos anos 80 deu lugar a um artista que abdicou do trabalho autoral, contentando-se em servir de muleta para um programa ruim de entrevistas no fim de noite – o Ultraje se rebaixou atualmente a ficar como banda de apoio no programa The Noite, de Danilo Gentili.

De letrista ferino, dono de ótimas sacadas e ironia corrosiva, o líder do Ultraje transformou-se em um rancoroso, desrespeitoso e ressentido (mau) comentarista de redes sociais, sempre com argumentos risíveis e recorrendo a palavrões, xingamentos e desqualificações quando é desmascarado e tem as ideias rebatidas e destroçadas – ou seja, sempre.

Azedo, despudorado e sem educação, virou uma caricatura do artista reacionário e conservador que parece ter perdido a capacidade de pensar e debater.

Como já dizia o velho sábio de boteco, o problema não é ser de direita ou conservador; o problema é ser desinformado, propagar ódio e mentiras e ser muito mal educado.

Pior ainda é o caso de alguém que já teve alguma relevância artística  e que se acreditava ter inteligência acima da média. O caso é muito triste, pois nem se tornar uma paródia de sim mesmo o músico conseguiu.

Mais triste do que a perda da dignidade, algo que, certamente, não preocupa o músico, é a sua desumanidade e falta de compaixão. Roger se torna uma pessoa digna de pena, alguém pelo qual as pessoas nutrem desprezo e indiferença. Provavelmente é dessa forma que será lembrado.

 

 

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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