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Ousado e corajoso, 'Helping Hands' é um acerto na carreira do Metallica

Combate Rock

21/02/2019 06h51

Marcelo Moreira Foi uma luta árdua para resgatar a credibilidade e a vontade de fazer musica nova boa. Com "Hardwired", lançado há três anos, o Metallica mostrou que estava vivo e em forma.

Só que, de certa forma, ao vivo e no estúdio, parecia que a banda estava enfastiada, algo que jamais ocorreu a grandes nomes do rock. Depois de um grande álbum, o que viria depois? Como encarar turnês de dois anos e meio à beira dos 60 anos de idade?

Em recente artigo para o Combate Rock, o jornalista Thiago Rahal Mauro perguntava: depois do recém-lançado álbum acústico, o que falta mais para o Metallica?

Será que ainda há interesse em correr para continuar no topo, como o Iron Maiden fez no ótimo CD duplo "The Book of Souls"?

O grupo ainda tem lenha para queimar e mostrou que pode ser ousado ao lançar um acústico ao vivo, mas com roupagens bem diferentes para alguns clássicos e músicas pouco usuais no seu repertório de palco.

"Helping Hands… Live & Acoustic at Masonic" foi gravado em novembro do ano passado em San Francisco, na Califórnia, a cidade que define a identidade e o som da banda – que foi formada em Los Angeles, mas que se mudou para Frisco por exigência do baixista então recém-contratado Cliff Burton, no começo dos anos 80.

A ideia era fazer algo diferente e que provocasse reações diversas. É o caso de "Disposible Heroes", que manteve o clima denso e sombrio mesmo sme o peso descomunal das guitarras e do baixo trovejante.

"When a Blind Man Cries", do Deep Purple, vai na mesma linha: uma balada folk blues dramática, intensa, com uma interpretação formidável do vocalista e guitarrista James Hetfield.

"Turn the Page", de Bob Seger, resgata o clássico do country rock dos anos 70 e aprofunda as referências musicais da banda, assim como a épica "Veterans of he Psychic Wars", do Blue Oyster Cult. É rock engajado e majestoso, com a fúria mantida mesmo empunhando violões.

"Enter Sandman" e "The Fourseman" são necessárias para relembrar quem eles são: são versões pesadas e interessantes, assim como outra versão para música de banda setentista – "Please Don't Judas Me", do Nazareth, em grande performance de toda a banda, com destaque para o sutil e virtuoso solo de Kirk Hammett.

Foi surpreendente também ver arranjos bacanas e retrabalhados para "All Within in My Hands" e "Bleeding Me", que ganharam novos contornos dramáticos e furiosos.

A intenção nunca foi redefinir a carreira, e isso fica claro na versão boa, mas sem muita criatividade, de "Hardwired", a versão menos arrojada de todas as músicas do álbum.

Entretanto, é nela que a banda mostra que tem pleno domínio de seus desígnios, com coragem suficiente pra cometer heresias em cima de seu som e de seus clássicos sem temer o tribunal dos fãs e das redes sociais.

A crítica europeia, em sua maioria, aprovou o acústico arrojado. Já os fãs, na América e no Velho Mundo, nem tanto. Muita gente reclamou: "Cadê o peso?" Gente, é um álbum acústico…

Isso me lembrou a passagem do Deep Purple com orquestra e Ronnie James Dio pelo Brasil, em 2000. Um bando de imbecis gritou por vários minutos, no antigo Via Funchal, em São Paulo, que queria rock enquanto a banda e os convidados tocavam com a orquestra. Claro que foram repreendidos por seguranças e quase agredidos por outros espectadores que sabiam o que estava acontecendo.

Tudo bem que é fácil ter coragem quando se é uma das cinco ou seis maiores bandas de rock e metal do mundo mesmo beirando os 40 anos de carreira.

Ainda assim, o Metallica faz questão de surpreender e de ousar, mesmo que o tiro possa dar muito errado. Faz parte, e é assim que aprendemos a gostar e a respeitar o quarteto que ajudou a criar e a moldar o que veio a se tornar o thrash metal.

"Helping Hands" é um ponto importante na carreira do grupo e certamente será lembrado como um ponto de ousadia na discografia do grupo.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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