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Novidades do rock pesado: Javali, Flowerleaf e Fabiano Negri

Combate Rock

20/02/2019 06h41

Marcelo Moreira

O ano começa pesado para o que podemos chamar de underground do rock brasileiro, cada vez mais segmentado e restrito a nichos. Nas vertentes mais pesadas, temos boas novidades que surgiram em em janeiro, com Javali, Flowerleaf e Fabiano Negri.

O trio de Americana (SP) mudou quase tudo para 2019: nome, imagem  e sonoridades. O Javali, que antes era Pop Javali, não deixou para trás os quatro CDs de estúdio e um ao vivo lançados em 25 anos de estrada.

Toda a história está impregnada na persistente banda que mostrou um hard rock competente e de muita qualidade, tanto que rendeu turnê europeia e CD ao vivo gravado em Amsterdã, na Holanda.

"Estamos uma nova fase, tanto na banda como em nossas vidas. Os 25 anos de experiências nos palcos foram fundamentais para que tornássemos o que somos hoje, mas agora estamos mais fortes", afirma o baixista e vocalista Marcelo Frizzo.

"Resilient", de 2017, é o último álbum como Pop Javali e mostrava uma grande evolução em termos de sonoridade e produção, ficando m ais pesado e eclético. O trio se reinventa como Javali no recém-lançado EP "Life Is a Song".

O hard rock cede lugar a um hard'n'heavy mais denso e eloquente, onde as guitarras de Jaéder Menossi se sobressaem ainda mais, estando "na cara", com um timbre que em alguns momentos lembra ao da guitarra estridente e estrondosa da banda norueguesa Chrome Division.

Já o baixo de Frizzo ganha mais relevância, provavelmente inspirado em gente como Jack Bruce (Cream) e John Entwistle (The Who), ambos já mortos. O volume está mais alto, enquanto que os fraseados estão menos velozes, fazendo quase que uma base para a guitarra.

Entwistle, aliás, parece ter servido de inspiração para o vocal, já que Frizzo evita as notas mais altas e aposta em tons mais graves para sua voz. É uma mudança e tanto para quem era fã, por exemplo, do ótimo CD "The Game of Fate".

A bateria de Loks Rasmussen  talvez tenha sofrido a maior mudança. Mais mais quente e mais grooveada, também foi gravada em tons mais altos, onde os pratos ganham preminência, demonstrando uma urgência e uma rapidez que nunca antes tinha sido observada nos trabalhos do Pop Javali.

As mudanças são sensíveis, já que quem assumiu a produção foi Edinho Júnior, com masterização feitra por Thiago Bianchi, o vocalista do Noturnall. Quando Andria Busic pilotava os botões era nítido que o som ficava mais polido e "encaixado". Agora a coisa é mais reta e urgente, com mais peso e guitarras mais altas.

"Runaway" é a melhor das seis faixas, com uma produção mais moderna e deixando a guitarra conduzir quase de forma espontânea.

"Empty Promises" é um hard rock básico e feito para ouvir em uma viagem longa de carro, enquanto que "Singing Along é mais melancólica, mas com um grande solo de guitarra. Ouça também "Dancing in the Fire", que tem um clima mais festivo e irônico.

De São Paulo temos uma boa surpresa, o duo Flowerleaf, formado pela cantora Vivs Takahashi  e pelo baixista Marcelo Kaczorowsky. Músicos promissores, não tiveram medo de arriscar ao fazer um metal sinfônico, mesclando influências que vão de Nightwish, Within Temptation, Epica e até mesmo After Forever.

É um risco porque se trata de um subgênero saturado desde o fim da década passada na Europa e que tem preconceito arraigado entre os apreciadores do gênero no Brasil. Aqui exige-se nada menos do que alguém melhor do que Tarja Turunen (ex-vocalista do Nightwish), que é uma "aberração" da natureza, no bom sentido, já que é de longe a melhor cantora no estilo e provavelmente uma das melhores cantoras da história da música pop.

Já vimos esse filme antes, sendo que mais recente "vítima" foi a banda carioca Lyria, que segue firme na estrada e lançou no ano passado seu mais recente CD.

"Stronger", do Flowerleaf, não apresenta nada de original em relação aos concorrentes europeus, mas tem diferenças que talvez agradem ao público sul-americano: explora mais outras vertentes do metal e faz com que a voz de Vivs transite com fluência e naturalidade pelo power metal, pelo metal tradicional e até mesmo com thrash.

De forma corajosa, a dupla apostou em um estilo que ainda guarda ranço no público brasileiro, e cometeu um ótimo trabalho, especialmente nos arranjos de guitarra e orquestração – trabalho árduo de Rapahel Gazal, guitarrista e produtor.

"Not My Fault" é um dos destaques, a mais pesada do disco, provavelmente para acomodar a participação da estupenda cantora Mylena Monaco, da banda de thrash/death Sinaya, com uma mistura equilibrada de música sinfônica e música extrema. A combinação das vozes foi boa.

A banda também escolheu bem os dois primeiros singles, "Girls in Pearls" e "Firesoul", que representam bem a grandiosidade do álbum e das músicas. Nunca foi fã de metal sinfônico, mas "Stronger" me chamou a atenção por conta da mescla de subestilos do rock pesado, além da voz excelente de Vivs Takahashi.

Também do interior de São Paulo ressurge o cantor e multi-instrumentista Fabiano Negri, que mal esperou esfriar o seu último álbum, o ótimo "The Lonely Ones", lançado no começo do ano, que era um projeto folk-acústico.

Seu novo projeto chama-se "Cursed Artist", que será álbum conceitual abordando nde pretende abordar o ato de criar uma obra de arte em si e as dificuldades que um artista – no caso, um músico – precisa enfrentar para compor, gravar, lançar e "vender" sua arte em um mercado/sistema povoado por tubarões.

Ele está soltando uma canção a cada dois meses enquanto finaliza o trabalho. A primeira, a faixa-título, um rock que esbarra no hard recheado de arranjos muito bons e uma guitarra cortante e forte, é uma boa amostra do que Negri pretende. Os solos se destacam, especialmente o do final.

"Cursed Artist", a música, é uma síntese da obra conceitual, com uma letra metafórica, mas ao mesmo tempo reveladora. Com pleno domínio da arte da composição pop, Negri faz um balanceamento elogiável de gêneros e subgêneros musicais.

O novo single, recém-divulgado, é "Lies Behind the Mask", é mais ousado e pesado. Abusa das guitarras e dos solos incandescentes, em um rockão com cara de setentista – ecos de Mott the Hoople, Humble Pie, The Faces, Bad Company, Deep Purple…

Antigamente, na Galeria do Rock, esse som se chamava "hardão", com uma cozinha feroz e barulhenta e guitarras estridentes, tudo envelopado por ótimas linhas de teclados.

O novo single talvez seja mais a cara do novo trabalho de Fabiano Negri, o que aumenta, e muito, as expectativas daquele que pode ser o seu melhor trabalho.

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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