Topo

Carlos Lopes e a Tupi Nambah são as vozes roqueiras contra o atraso

Combate Rock

25/01/2019 06h49

Marcelo Moreira

Carlos 'Vândalo' Lopes (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Não se trata apenas da sobrevivência da comunicação em papel. É uma questão de sobrevivência de ideias. Da sobrevivência da espécie. Ter nascido no Brasil fez toda a diferença."

Esse manifesto foi escrito em agosto de 2018, mas nunca foi tão atual como agora, final de janeiro de 2019, aniversário de São Paulo, em uma época de trevas e de erosão de ideias e de inteligência

As frases estão no número 1 da revista Tupi Nambah, um manifesto de resistência cometido pelo cantor, compositor, quadrinista e artista gráfico Carlos Lopes, fundador das bandas Dorsal Atlântica (heavy metal), Mustang (rocn'n'roll" e Usina Le Blond (soul music).

Além de tudo isso, Lopes também é educador. O primeiro e, por enquanto, único número da revista que mistura histórias em quadrinhos e cultura em geral, é uma ode à liberdade de expressão, de opinião, de imprensa e de ideias, justamente em um momento em que o governo brasileiro de viés autoritário e inspiração fascista inicia uma já anunciada guerra contra o conhecimento e a cultura, apoiado por governos estaduais inomináveis como os de São Paulo e Rio de Janeiro.

É muito importante que louvemos neste momento uma publicação contestatória e crítica quando, no mesmo dia, um deputado federal reeleito, Jean Wyllys (PSOL-RJ), ex-jornalista que se declarou homossexual e ex-integrante do lixo chamado Big Brother Brasil, anuncia que renuncia ao cargo e decide morar no exterior para escapar das ameaças de morte de milicianos cariocas e de um povo nojento e asqueroso que o abomina simplesmente por ser quem é.

O anúncio de Wyllys foi "comemorado" pela "excrescência" que se diz presidente da República e seus filhos igualmente nojentos. A tal da democracia que todos diziam que existia no Brasil foi seriamente corroída com a série de violências cometidas contra um parlamentar eleito.

Não se pode dizer que foi algo surpreendente, já que há dois anos a excrescência que foi eleita presidente da República vomita ameaças contra minorias – negros, homossexuais, quilombolas, LGBTIs, mulheres, índios e qualquer um que conteste o lixo conservador que prega a religião acima de tudo, a pátria acima de nada, que bandido tem que ser exterminado (seja lá o que entendam ser "bandidos") e que oposicionistas, principalmente "comunistas", têm de ser varridos e eliminados.

No caso específico do grupo perigoso que assumiu o poder na esfera federal e em governos estaduais, trata-se apenas de ignorância. Não há base teórica ou ideológica que sustente as "ideias" desse gente – muito menos em relação ao suposto guru desses coitados, um autodenominado filósofo que mora nos Estados Unidos que ficou conhecido pelo analfabetismo político e pela indigência intelectual e cultural.

A revista Tupi Nambah, com textos, desenhos, imagens, quadrinhos e roteiros de autoria de Carlos Lopes, é um sopro de criatividade e resistência em um momento grave da vida político-econômico-social deste Brasil infeliz dominado pelas trevas, pelo retrocesso e pela irrelevância em todos os sentidos.

A crítica política e social é ácida e contundente, com forte viés de protesto e de esquerda, passando por uma verdadeira aula de história e de sociologia enfocando a vida brasileira a partir da Segunda Guerra Mundial.

A obra cometida por Lopes é de uma importância crucial para entender o momento em que vivemos, sem retoques ou eufemismos.

Depois de lançar "Canudos", em 2017, o mais recente álbum da Dorsal Atlântica, um dos grandes álbuns da história do heavy metal brasileiro, a revista Tupi Nambah certamente é a sua mais contendente mensagem política a respeito das trevas em que o Brasil mergulhou desde a campanha eleitoral de 2018.

Ouso dizer que é a única voz roqueira no país a se posicionar de forma contendente – partindo diretamente para o confronto, sarcasmo e pancadaria – e crítica contra o mundo bolsonaro seus acéfalos asseclas, puxa-sacos e indigentes mentais que o apoiam.

Carlos Lopes é alvo do preconceito, reacionarismo, conservadorismo e ídio há muito tempo – quase 40 anos. O bolsonarismo não será páreo para ele – ainda bem.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Carlos Lopes e a Tupi Nambah são as vozes roqueiras contra o atraso - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Mais Posts