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O legado de Marcelo Yuka: uma alma armada e uma voz contra a violência

Combate Rock

19/01/2019 21h55

Marcelo Moreira

Marcelo Yuka (FOTO REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

A alma de Marcelo Yuka estava armada, como ele bem escreveu em uma das letras do grupo O Rappa. E foi armado e indignado que o ex-baterista, agitador cultural e ativista político deixou a vida neste sábado.

Inquieto e explosivo, conseguiu manter a relevância artística mesmo após a saída do grupo e se tornou uma referência no rock brasileiro em relação à arte engajada.

As notícias não era boas sobre a saúde dele desde o ano passado, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Debilitado, ainda suportou outro derrame em 2 de janeiro deste ano, mas que acabou levando à morte, aos 53 anos, quase 20 dias depois.

Entre os músicos de primeiro escalão que se expuseram política e socialmente nos últimos anos, Yuka ombreava a linha de frente com Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube) e Dinho Ouro Preto (Capital Inicial). Desde o início estiveram no combate ao discurso de ódio e estímulo à violência perpetrados por apoiadores da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL)

E de violência Marcelo Yuka entendia bem, infelizmente, já que desde 2000 estava preso a uma cadeira devido a tiros que levou durante uma tentativa de assalto no Rio de Janeiro.

A mesma violência que ele combatia e denunciava todos os dias em sua cidade natal, tão maltratada e vilipendiada por políticos corruptos que apoiavam e se beneficiavam da mesma violência.

Não poderia ser diferente o fato de ser de Yuka a principal – e mais contundente – voz artística no ato em homenagem à vereadora Marielle Franco, do PSOL, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018.

"Marielle Gigante" ocorreu em abril do ano passado, tendo como atração principal o Planet Hemp, mas Yuka foi um dos convidados especiais e deu o seu recado. "A violência destrói tudo, destrói qualquer noção de civilidade. A violência desarticula a sociedade."

Após a tragédia do assalto de 2000, o baterista saiu do Rappa meses depois e criou o F.Ur.T.O., um combo que misturava música, ativismo político e cultura. Yuka cresceu como figura importante e mostrou que a vida não se resume a denunciar e fazer barulho: na vida temos de fazer acontecer.

A candidatura a vice-prefeito pelo PSOL em 2012 talvez tenha sido a face mais midiática de sua atuação, ofuscando um pouco os projetos sociais aos quais dava apoio e promovia.

Reconhecido como bom letrista e ótimo compositor, tornou-se uma figura das mais importantes entre os artistas contemporâneos, ainda mais em tempos problemáticos de atentados constantes à cultura e ao entretenimento de qualidade.

Yuka era contestador, polêmico e ávido por debates. É um daqueles seres humanos que adorávamos repudiar, em muitas vezes, que era absolutamente necessário para ouvir e refletir.

Uma vida foi muito pouco para Marcelo Yuka exercer sua verve revolucionária. A violência não o calou, só o fez mais forte e mais instigante. Que seu legado e a memória de sua luta preencham a lacuna de sua ausência.

 

 

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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