Blues: Nuno Mindelis, Celso Salim e Igor Prado brilham em novos trabalhos
Combate Rock
15/12/2018 07h06
Marcelo Moreira
A crise deu uma desanimada no pessoal do blues nacional, em que pese a ainda boa quantidade de shows e festivais que ocorreram neste ano. Entretanto, houve menos lançamentos do que no ano passado.
Por isso devemos saudar as guitarras blueseiras em 2018, que estão capitaneando a lista de bons trabalhos lançados em 2018.
Nuno Mindelis, Celso Salim e Igor Prado são os guitarristas brasileiros mais celebrados nos Estados Unidos atualmente – o cearense Artur Menezes também está indo bem, divulgando seu mais recente trabalho, "Keep Pushing".
Coincidentemente, os três músicos colocaram trabalhos de alta qualidade no mercado e os elogios estão fartos. Não é à toa: seus lançamentos são realmente muito bons.
Mindelis é o nome mais conhecido, até por ter a carreira mais longeva. O veterano guitarrista angolano radicado no Brasil acaba de lançar "Live at Suwalki Festival", seu primeiro CD ao vivo.
Gravado no ótimo festival polonês no meio do ano, chega ao mercado graças a uma campanha de financiamento coletivo.
O resultado é bem bacana, até porque o show registrado traz boas novidades, como a incorporação de canções africanas no repertório, além de uma versão muito interessante de "Mas Que Nada", de Jorge Benjor (Jorge Ben, quando foi lançada).
Nuno Mindelis é um daqueles músicos cuja precisão e delicadeza na execução impressionam e encantam. Os poloneses que o digam, diante dos fartos elogios dados ao brasileiro.
O repertório foi muito bem montado, privilegiando seus álbuns mais conhecidos, "Texas Bound" (gravado com a Double Trouble, que acompanhava Stevie Ray vaughan, só isso!) e "Angels & Clowns", o mais recente trabalho.
Com a inclusão de medleys para agilizar e otimizar a apresentação, o guitarrista imprimiu um dinamismo interessante com misturas improváveis, como um tributo a B.B. King e outros entremeados por canções angolanas perfeitamente adaptadas ao blues. Também houve espaço para um trecho de "A Rã", de Jooão Donato e CaetanoVeloso, que se transformou em um jazz bem gostoso.
"Texas Blues" foi o principal cartão de visitas, já que é um blues vigoroso e potente. Já "It's All About Love", mais acelerada, virou um rock competente e dançante, que agradou em cheio o público europeu.
O medley que começou com "They Call Me the Beast" foi outro ponto alto do show, onde a banda que o acompanhou – Marcos Klis (baixo), Alex Bessa (teclados) e Dhieego Andrade (bateria) deram um espetáculo à parte.
O brasiliense Celso Salim decidiu encarar nova temporada em Los Angeles e se tornou um respeitado músico na cena blueseira da cidade, ganhando prêmios regionais e se tornando muito requisitado na Costa Oeste norte-americana.
"Mama's Hometown" é o seu novo trabalho, o sexto de uma carreira de quase 25 anos no Brasil e nos Estados Unidos. Instrumentista de toque fino e som cristalino, oscila entre o blues tradicional e o blues rock com maestria, com solos espetaculares.
Houve quem o criticasse afirmando que sua pegada é muito americana, bem longe das tradições de guitarristas brasileiros blueseiros que temperam sua música com elementos brasileiros. Não há sentido em debater tal coisa, já que o blues é universal e não há uma obrigação em adicionar elementos "nativos".
Se Mindelis e André Christóvam, assim como Otávio Rocha (Blues Etílicos) inauguraram essa tradição, não há o porquê de exigir essa "brasilidade" de outros ótimos instrumentistas.
Igor Prado, Artur Menezes, Edu Gomes (ex-Irmandade do Blues), Maurício Sahady e muitos outros buscaram a mescla com os elementos de brasilidade, mas os que caminharam para o blues rock – Cristiano Crochemore, Fernando Noronha, Rodrigo Campagnolo – não necessariamente adotam essa postura.
Celso Salim preza a execução precisa e tem uma noção primorosa de como uma guitarra blues deve soar. Ouça "Mad Dog", a primeira faixa, e terá a exata noção de como o cidadão é um exímio instrumentista.
"Mama's Hometown" é o mais diferente e diversificado álbum da carreira de Salim. Há blues tradicional, blues rock, pitadas de soul e um clima bem sereno de country blues em algumas faixas. "Let It Burn" tem uma riqueza sonora impressionante, assim como os detalhes e os arranjos da estupenda "No Need to Be Alone".
Os vocais principais, desta vez a cargo do amigo Rafael Cury, deram outro clima à maioria das músicas, ressaltando a versatilidade do guitarrista ao passear por diversos estilos – outro ponto alto é a tradicional canção "In My Time of Dying", onde Salim brilha no dobro, o violão com corpo de aço.
Por fim, temos Igor Prado, paulista de São Caetano do Sul, que colocou nos meios digitais a sua nova canção, que certamente fará parte do próximo álbum.
Canhoto e especializado em um blues mais grooveado, mas também com trabalhos bem consistentes na área tradicional, Prado tem ótimo trânsito no mercado norte-americano, fato consolidado com a indicação para concorrer ao principal prêmio do 37th Memphis Blues Awards 2016, na categoria de artista novato.
Não ganhou o prêmio, mas o prestígio o catapultou para os principais palcos do blues nos Estados Unidos, onde faz frequentes turnês com a sua Igor Prado Band.
O que ninguém esperava era que o exímio e arrojado bluseiro deixasse um pouco de lado o que costuma para fazer para mergulhar na experimentação.
Com a participação do baterista e produtor Sorry Drummer, uma fera do hip-hop nacional, Prado cometeu uma versão para um clássico do soul e do blues, "Lay Around and Love on You", onde a guitarra dialoga com batidas eletrônicas e outros arranjos diferentes.
O resultado é bem interessante, por mais que haja estranheza na primeira audição. O balanço é contagiante, remetendo a sonoridades setentistas da black music. É dançante, é soul e ficou muito bom.
Em depoimento ao Blog Gustavo Cunha, o guitarrista paulista afirmou que buscou inspiração em trabalhos de artistas modernos do rhythm & blues e soul, como Lenny Kravitz e Bruno Mars, além de lembrar um trabalho que sempre admirou, "Family Style", dos irmãos Jimmie e Stevie Ray Vaughan.
A parceria entre os dois deverá render um trabalho mais amplo e consistente, que terá como característica essa busca de Prado por uma sonoridade com muita mistura de elementos tradicionais e modernos. A primeira amostra agradou bastante.
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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