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Ozzy Osbourne, 70 anos: a cara e o espírito do heavy metal

Combate Rock

05/12/2018 06h15

Marcelo Moreira

Ozzy Osbourne em show do Black Sabbath no Brasil (FOTO: LUCAS HALLEL/T4F)

Nem ele sabe como ainda está vivo. Nem ele sabe como resistiu a cinco décadas de heavy metal se submetendo a todo tipo de excesso etílico e de drogas, algo comparável só á trajetória do imortal Keith Richards, guitarrista dos incabáveis Rolling Stones.

Ozzy Osbourne conseguiu atingir a mesma marca que o amigo Lemmy Kilmister, do Motorhead, morto há três anos: chegou aos 70 anos de idade com fôlego, apesar das escorregadas no álcool e nas drogas e nas polêmicas familiares.

Mais do que imortal e "imorrível", Ozzy é o bastião da resistência de um subgênero musical em constante mutação e sob saraivada de críticas.

Ele não gosta de falar sobre isso, mas é o maior símbolo do heavy metal – que sobrevive com boa saúde, apesar das pancadas certeiras ocasionais.

Ian Gillan e Glenn Hughes são as vozes do rock ("Silver Voice" e "The Voice of Rock", respectivamente), Ronnie James Dio ganha todas as votações de melhor cantor de rock e metal, mas é Ozzy que aparece na mente de todos como a personificação de um modo de vida, daquele mundo idílico que adolescentes de algumas gerações sempre sonharam em pertencer.

"É meio contraditório que eu ainda esteja aqui – às vezes acho um milagre, mesmo eu jamais tendo planejado chegar a essa idade cantando nos palcos", disse o cantor em entrevista coletiva recente quando esteve em São Paulo.

É claro que ele sabe que sempre esteve longe de ser o melhor. Entretanto, foram raras as vezes em que deixou de ser o maior de todos.

Como imaginar que aquele moleque delinquente de Birmingham, que ganhava uns trocos como flanelinha no estádio do Aston Villa, que trabalhou em metalúrgica e em um matadouro, que abandonou a escola e admitiu algumas vezes que não era "tão inteligente", se transformaria na personificação do metal?

Quem diria que o louco Ozzy seria um dos responsáveis por criar o heavy metal ao lado dos companheiros do Black Sabbath?

E como seria loucura imaginar que um Ozzy gordo e ainda mais louco, já fora da banda, superaria os episódios pitorescos e bizarros que protagonizou nos palcos, como morder um morcego vivo? Ou arrancar a cabeça de uma pomba viva em uma reunião de executivos de gravadora?

Pior ainda: o que dizer – e ter de engolir – Ozzy e família protagonizando um reality show de TV meio mambembe, em que muitas vezes era retratado como um pai roqueiro debiloide à beira da senilidade?

Não foram poucas as lambanças, mas as vitórias foram muito mais numerosas e significativas, principalmente para quem o viu nas duas vezes em que veio com o Black Sabbath nos últimos anos e na recente turnê brasileira deste ano.

Seus shows solo deste século são previsíveis, assim como as suas "escorregadas" no palco e as gafes cometidas aqui e ali. Só que, quando entra no palco, vira Ozzy, o mito que personifica o heavy metal.

É a própria história viva, bem à frente, que grita o seu mágico "I Love You All" e que manda uma série de hinos que hipnotizam e que levam à insanidade. Não foram poucos os que, no show paulista deste ano, bradaram chorando na pista: "Você é a razão de eu gostar de música e de rock".

Ozzy faz 70 anos e já deu adeus ao Black Sabbath. Já ensaia a retirada dos palcos para não muito breve, mas não tenhamos ilusões: o Rei das Trevas, aquele que assustou pais e professores dos anos 70 e 80, alucinou, emocionou, exagerou e engrandeceu nossas vidas por meio século, está se despedindo, ainda que devagar.

Afinal, fica cada vez mais caricato vê-lo cantar "Paranoid" quando ele se equilibra na sobriedade e na vidinha pacata (nem tão pacata assim) de avô na Califórnia.

Ozzy Osbourne, assim como John Lennon, Freddie Mercury, Ronnie James Dio, Jimi Hendrix e até memos Kurt Cobain, é um símbolo do nosso tempo. Agradeçamos o privilégio de poder desfrutar tal coisa.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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