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Há 25 nos morria Ray Gillen, que cantou no Black Sabbath e Badlands

Combate Rock

28/11/2018 06h56

Marcelo Moreira

O constrangimento era imenso. O rapaz chegou ressabiado para ensaiar com a banda com um nome poderosíssimo, mas em decadência, enquanto o titular era mantido longe e sem saber da tramoia.

Era novato, tinha sido indicado às pressas, mas agradou rapidamente o chefão, um guitarrista com fama de generoso e rigoroso. Mas quando efetivamente mandariam o vocalista embora?

Foi neste clima que o norte-americano Ray Gillen praticamente caiu de pára-quedas bem no meio da turnê "Seventh Star", do Black Sabbath então esfacelado e reconstruído.

Ele começou a ensaiar com a banda sem que o inglês Glenn Hughes soubesse – este estava no auge dos excessos de álcool e drogas, o que estava inviabilizando a turnê.

O que Gillen não sabia era que assumiria os vocais, para surpresa do mundo, no sétimo show daquela turnê realizada no mês de março de 1986.

Hughes descobriu a presença do "substituto" e foi tirar satisfações com o chefão, o guitarrista Tony Iommi, e um dos empresários da banda. Houve briga, um soco no rosto do vocalista irado, sangue jorrando e a demissão consumada.

Ray Gillen é um dos personagens fascinantes do lado B do rock e do heavy metal. Era um cantor desconhecido em sua cidade que, literalmente, ganhou as luzes do mundo do rock da noite para o dia, por mais que sua passagem pelo Black Sabbath tinha sido breve, assim como foi breve a sua estada neste mundo. Há 25 anos, ele morria em consequência de complicações da aids, aos 34 anos de idade.

Foi um daqueles talentos que surgem literalmente do nada e que acertam na primeira chance que obteve, de fato. Nascido em Nova York em 1959, já cantava na escola e tinha o reconhecimento dos amigos e do bairro. Cantou rock em diversas bandas, mas tinha desenvoltura excepcional no blues e na soul music.

Os elogios a sua voz era fartos, mas nada acontecia. Ele via vários amigos e outros artistas se darem bem, ou relativamente bem, no show business e estava cansando de esperar a sua vez. Já tinha passado dos 20 anos e nada rolava no rock para ele.

A primeira metade dos anos 80 estava passando e, enfim, surge a chance de cantar na banda Rondinelli, do baterista norte-americano Bob Rondinelli.

O único álbum gravado, em 1985, foi engavetado e a formação foi desfeita. Gillen estava para decidir que rumo tomaria na vida quando o telefone tocou pedindo urgência para ensaiar com uma banda "grande e famosa".

Com o Black Sabbath a coisa não foi fácil, mas Gillen segurou a onda e foi elogiado por suas performances – Em um CD lançado sem a autorização da banda, "The Ray Gillen Years", há cinco faixa ao vivo em que ele detona, especialmente na versão ao vivo da balada blues "Heart Like a Wheel".

Quando chegou a hora de finalmente começar a gravar um novo álbum, as coisas começaram a azedar. O vocalista não gostou das músicas e não se entendeu direito com Iommi no estúdio. Gravou o álbum "The Eternal Idol", mas não seguiu as orientações que Iommi e os produtores deram.

Sem clima, viu uma oportunidade de criar uma nova banda, onde ele seria a estrela que já achava que era – infelizmente, ainda não era. Aceitou o convite de John Sykes, ex-guitarrista do Thin Lizzy e do Whitesnake, para fundar o Blue Murder e abandonou o Black Sabbath.

Suas vozes foram apagadas das fitas principais do álbum e substituídas pelas de Tony Martin, o inglês que o substituiu – e o cantor que mais tempo ficou no Sabbath depois de Ozzy Osbourne, se considerarmos que o Heaven and Hell, com Ronnie James Dio, não era mais Black Sabbath.

A voz diferente, bluesy, potente e rasgada parecia ser a ideal para o Blue Murder, mas, surpreendentemente, Gillen foi demitido e Sykes assumiu os vocais por "questões mercadológicas", algo que nunca foi completamente explicado.

Demorou um ano e meio até que ele se ajeitasse com Jake E. Lee, ex-guitarrista de Ozzy Osbourne, para criar a banda Badlands, uma extraordinária formação de hard'n'heavy. Havia um boom de bandas de hard rock no finalzinho dos anos 80 e a banda parecia que seria a próxima grande coisa.

Por um tempo até que foi, mas inexplicavelmente não estourou como todo mundo esperava entre os anos de 1990 e 1991. O interesse foi murchando pelo Badlands, que sumiu sem que as pessoas notassem, infelizmente, após dois álbuns.

O grande vocalista de rock que deveria ter sido acabou ficando no quase. Tentou ainda outros projetos, como o Sun Red Sun, até que descobriu que estava infectado com o vírus HIV. Pouco tempo depois, morreu em decorrência da aids, em 1º de dezembro de 1993.

Assim como a trajetória Tim "Ripper" Owens, ex-Judas Priest, rendeu um filme (bem ruim, por sinal), a de Gillen certamente seria um drama de grande apelo no cinema. Talento desperdiçado? Tire as suas conclusões nas boas versões de músicas que ele cantou:

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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