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Após 50 anos, 'Aluê' traz Airto Moreira de volta ao Brasil

Combate Rock

27/08/2018 06h58

Eugênio Martins Júnior – do blog Mannish Blog

Nos anos 60 o samba brasileiro invadiu o DNA do jazz, do funk e do rock. Não tem vacina e nem cura. Nosso batuque é conhecido faz tempo e Airto Moreira é um dos responsáveis por isso ter acontecido. Usando uma palavra tão na moda, um "influenciador".

Apresentado por Joe Zawinul a Miles Davis, tocou no disco Bitches Brew, que consolidou as bases do fusion jazz, a revolução musical inventada pelo trumpetista de Saint Louis e que, na época, muita gente não entendeu.

Com Chick Corea gravou os dois primeiros discos de seu Return To Forever, o primeiro disco homônimo e Light as a Feather, já com sua esposa, a cantora Flora Purim.

A lista de participações e parcerias é imensa, inclui Cannonball Adderley, Lee Morgan, Paul Desmond, Dave Holland, Jack DeJohnette, John McLaughlin, Keith Jarret, Al Di Meola, George Duke e tantos outros.

O retorno ao Brasil marca a gravação de Aluê, disco lançado pelo selo Sesc em 2017 com temas novos e antigos: "Aluê" (Airto Moreira e Flora Purim), "Lua Flora" (Flora Purim e José Neto), "Sea Horse" (Jossé Neto) e "Misturada", "Rosa negra", "I'm Fine, How Are You?", "Não Sei Pra Onde, Mas Vai" e "Guarany" (Airto Moreira).

O time de bambas inclui Diana Purim (voz), José Neto (guitarra), Vítor Alcântara (sopros), Fábio Leandro (piano), Carlos Ezequiel (bateria e produção).

Eugênio Martins Júnior – Você está com um CD lançado recentemente, o Aluê. Gostaria que falasse sobre ele. Como surgiu a ideia e a oportunidade?

Airto Moreira – Aluê foi uma ideia do produtor Carlos Ezequiel. Ele foi aos Estados Unidos e nós ensaiamos. Quando chegamos aqui ensaiamos mais e gravamos pelo selo Sesc. Os músicos são muito bons.

EM – As músicas de Aluê foram gravadas ao vivo e em um único take. Gostaria que falasse sobre isso.
AM – Sempre achei que o primeiro take é o melhor de todos. Mesmo que a gente grave mais dez.

EM – Ano passado o disco Quarteto Novo fez 50 anos. Um marco. Gostaria que falasse sobre isso.
AM – Na época foi o projeto mais importante que fizemos e ainda existem pessoas que gostam dele.

EM – Gostaria que você falasse sobre o disco Bitches Brew. Você participou das faixas Great Expectations e Little Blue Frog. Como foram as sessões?
AM – As sessões do Bitches Brew foram muito boas. Gostei muito de fazer.

EM – Gostaria que falasse sobre a banda Weather Report que foi a que abriu a minha cabeça para o jazz fusion nos anos 80 e que tenho todos os discos.
AM – Não tenho muito o que falar. Gravei o primeiro disco deles, mas nunca toquei ao vivo com o Weather Report.

EM – Mais do que nunca entramos de cabeça nas batidas eletrônicas. Há convivência pacífica entre as batidas orgânicas de Airto Moreira e as novas batidas?
AM – Não sei se há convivência pacífica porque nunca usei máquinas. As máquinas ficam de um lado e eu de outro.

EM – O grupo Fotografia Sonora gravou o CD Viva Airto, uma homenagem a você. 
AM – Gravamos há um ano. Eu estava aqui no Brasil e eles me chamaram. Foi muito bom, pessoas boas e bons músicos. É a primeira vez que tocaremos ao vivo juntos.

EM – Quem vai, não digo ocupar o lugar, mas seguir os passos de Airto Moreira, Naná Vasconcelos, Paulinho Costa, Robertinho Silva, Laudir de Oliveira?
AM – Quem vai seguir os passos? Não acho que alguém segue os passos de alguém. Cada um tem seu estilo e toca o que gosta. Assim ficamos mais criativos e não seguindo passos. E quem vai ocupar eu não sei. Algumas pessoas que você mencionou já não estão mais por aí e não tenho a menor ideia.

Flora Purim

Eugênio Martins Júnior – O disco Return to Forever faz parte da vida de ambos. Gostaria que falasse sobre esse disco e essa época. Vocês estavam no meio da revolução que se tornou o fusion.
Flora Purim – O disco realmente faz parte das nossas vidas. Foram dois discos muito bons. Uma época que o Chick Corea começou escrever músicas mais melódicas e nós estávamos no meio da revolução que se tornou o fusion de verdade.

EM – Em 1967 você foi estudar música nos Estados Unidos e isso não era comum. Como se deu isso?
FP – Em 1967 não era comum. Fui para sair da ditadura militar, pois havia censura da música de Vandré, Chico, Gil, Caetano. Tinha 22 anos e achei que não teria futuro num país que censurava a liberdade de expressão.

EM – Vocês saíram do Brasil na década de 60, quando o país passava por forte turbulência política (uma ditadura militar). Após 50 país se encontra mais uma vez em um encruzilhada ideológica, política e cultural. Como vê o Brasil hoje com o olhar estrangeiro?
FP – Estou no Brasil há seis anos. Não olho pro Brasil como um estrangeiro. O país está passando por uma grande dificuldade. Tenho esperança que se elegerem os candidatos certos, talvez melhore.

EM – Por outro lado, chegaram aos Estados Unidos do flower power sessentista. Deve ter sido uma transição curiosa. Poderia falar sobre isso?
FP – Chegar aos Estados Unidos no final dos anos 60 nos permitiu verificar uma revolução lá também. O flower power foi uma transição interessante, liberdade total. E foi assim que a gente começou a ouvir Jimi Hendrix, Janis Joplin, nos aproximamos ao Grateful Dead, com os quais colaboramos muito. Foi muito interessante influenciarmos e sermos influenciados.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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