Maestrick: 'Evolução e maturidade são coisas que andam lado a lado'
Combate Rock
19/08/2018 06h49
Julio Verdi – do blog Ready to Rock
O soberbo trabalho novo do Maestrick, que é de São José do Rio Preto (SP), literalmente deu muito trabalho. Meticulosa e detalhista, a banda fez questão de alinhavar toda a concepção da obra e de gravar de forma metódica e sem descanso.
O resultado é excelente, com arranjos sofisticados e um conceito diferente e inusitado. O vocalista e pianista Fábio Caldeira e o baixista Renato Montanha contam como foi o processo de composição, gravação e produção de "Espresso della Vita: Solare".
Ready to Rock – Como é a sensação, após longos anos de ver finalmente "Espresso della Vita – Solare" ser lançado?
Renato Montanha: É a mesma sensação de ver um filho nascer, nos proporcionando uma alegria gigantesca de poder mostrar ao mundo o nosso modo de expressar nossos pensamentos e sentimentos com música. É uma das coisas mais gratificantes do mundo.
Fábio Caldeira: Sinceramente, a minha ficha ainda não caiu. Porque a gente passa tanto tempo compondo, produzindo, depois gravando, aí decidindo as artes… "de repente" chega o lançamento e você assusta. Mas o sentimento em comum aqui é a gratidão. Por mais uma vez, termos tido condições de fazer o nosso melhor em cada detalhe desse novo disco.
RR – Vocês conseguiram um disco rico em composição, carregados de diversos elementos e variações, mas ao mesmo tempo direto e objetivo. Como isso aconteceu?
Montanha: Nós passamos anos compondo, testando e tentando chegar a um resultado final honesto fazendo diversos ensaios e pré-produções, para mostrar a historia do "Solare". Fizemos muitos testes e audições de todas as músicas para tudo "estar nos trilhos" para todos poderem entrar na primeira estação conosco e seguir viagem.
Fábio: Tudo foi de forma natural. E digo isso porque nós não estamos preocupados em sermos ninguém nem nada além de nós mesmos. A gente quer apenas pintar a nossa vizinhança, a nossa terra, as experiências que nós e as pessoas próximas a nós tiveram e tem. A música é uma consequência disso, eu penso, e aí quando um conceito de música aparece, nós procuramos ao máximo, deixa-la o mais visual possível, e isso faz com que tenhamos muito zelo, porque tudo que tem que dialogar.
RR – Que peso teve a participação de Adair na produção para fazer com que tanta complexidade gerasse um disco de tão alto nível?
Fábio: Olha, foi como se ele fosse parte da banda desde a primeira conversa que tivemos. Pessoalmente, ele se identifica muito com a abordagem artística do Maestrick, então foi fácil ele se integrar e aí colocar todo o seu conhecimento em prática.
Montanha: O Adair teve um grande peso pois além de gravar as guitarras ele tinha que fazer tudo soar no seu devido lugar (e nós usamos muitos instrumentos). Nós usamos várias camadas de arranjos, como se fosse um bolo mesmo, e é muito complexo fazer tudo soar quando temos varias frequências sendo disputadas e o Adair fez isso com maestria.
RR – Se "Unpuzzle!" já dava sinais que estávamos diante de um disco excepcional de estreia, "Solare" foi mais além. Mostrou um amadurecimento impressionante em termos de criação. Como vocês, de dentro da banda enxergam isso?
Montanha: Vejo isso como uma evolução de um trabalho árduo que estamos fazendo, nós sempre fomos abertos a escutar novas sonoridades e ouvir feedback das pessoas para melhorar a nossa forma de passar o que sentimos em música. Pode-se dizer que sempre estamos fazendo uma reciclagem de ideias.
Fábio: Muito obrigado mesmo por pensar isso. A verdade é que somos um bando de curiosos. Gostamos muito de estudar, de pesquisar, cada um dentro da vertente artística e musical que mais lhe interessa. Isso por si só, eu creio, já contribui para um movimento de amadurecimento, que por sua vez, traz uma maior percepção de quem somos, do que realmente queremos e do que precisamos para alcançar isso.
RR – Em "Solare" vemos momentos orquestrais, diversidade musical universal, elementos musicais brasileiros, e ainda assim traz a cara do metal da banda. Imagino que tenha sido por demais trabalhoso encaixar tudo isso ao longo das músicas?
Montanha: Nós sempre trabalhamos com vários estilos para manter as personalidades variadas dos integrantes da banda e não é a coisa mais fácil do mundo de se fazer, mas sempre buscamos ter um pé no rock e mostrar que a música é universal e pode-se ter mesclas interessantes.
Fábio: Nós temos muitas coisas em comum, mas acho que a chave está nas coisas que não temos em comum, porque isso faz com que tenhamos que nos adaptar e buscar uma reinvenção constante. E sobre ser trabalhoso, eu olho pelo lado de que é necessário, então se é a estrada que temos que percorrer para fazer o que gostamos da melhor forma possível, que seja.
RR – Qual a sensação de ter conseguido um contrato com major japonesa Marquee/Avalon?
Fábio: Primeiramente, de gratidão imensa. É um grande sonho realizado, uma grande honra e uma grande responsabilidade, pois temos que continuar seguindo com os valores que temos, com muito respeito e amor.
Montanha: Foi uma explosão mental, sempre sonhei em entrar no mercado asiático e antes de lançar o disco conseguir uma gravadora do calibre da Marquee/Avalon foi algo que até hoje estou digerindo.
RR – O álbum foi lançado no mundo todo. O que esperar que esse fato eleve a carreira da banda para um nível maior de reconhecimento?
Montanha: Eu acredito que o importante é que o mundo tenha a possibilidade de escutar nosso material para que possamos ir pessoalmente mostrar o que temos a oferecer em performance.
Fábio: Nós estamos atentos para o que vier, mas o principal é mantermos o foco e seguirmos um passo de cada vez. Assim o próximo degrau, seja lá qual for, será natural e uma simples consequência.
RR – Em outubro estão programados 15 shows na Rússia, Suíça, Itália, Alemanha. Qual a expectativa?
Fábio: Vai ser sensacional! Estamos muito felizes e ansiosos. Será uma experiência incrível e pretendemos fazer um documentário de toda a tour pra lançarmos posteriormente.
Montanha: As melhores possíveis, estou com um frio na barriga por ser a primeira tour europeia mas vamos levar o nosso melhor e vamos abrir nossos corações no palco para que o público assista nosso show com a honestidade que passamos nas músicas.
RR – Como se dará a escolha do repertório em relação às novas músicas, uma vez que não será possível reproduzir ao vivo em muitas delas todos os elementos gravados?
Montanha: No show de estreia tocaremos o "Solare" na íntegra e colocaremos algumas musicas que sabemos que o público gosta de ver ao vivo do "Unpuzzle".
Fábio: Mesmo que as músicas tenham muitos elementos, se você tirar tudo e deixar só guitarra, baixo, bateria, teclado e uma voz, elas vão funcionar também. É uma preocupação que temos quando estamos compondo. Além disso, nós tocamos com o metrônomo o show inteiro, então todos os elementos das músicas estarão lá. Não deixaremos de tocar nada, mas elementos como sonoplastias, e algumas percussões e coros, como o de 32 vozes da "The Seed", vão para o "VS", como é feito normalmente em grandes shows.
RR – Depois do disco sair no Brasil, como tem sido a recepção dos brasileiros que tiveram contato com o disco?
Fábio: Está sendo sensacional! A galera está abrindo o coração para o disco e tendo, cada um da sua forma, uma experiência. Essa foi nossa intenção desde o começo. Isso estreita nossa relação com o público, afinal, o que é de um trem, sem seus passageiros?
Montanha: Foi maravilhosa, várias pessoas comentam de aspectos que gostaram do disco físico, de algum detalhe no encarte e isso é muito empolgante para mim.
RR – Uma pergunta que tenho que fazer. A música da banda está cada vez mais rica e variada. A linha de frente do Maestrick, ao longo dos últimos anos, tem sido Fábio, Heitor e Montanha. Como uma banda de heavy metal (que tem a marca progressiva como referência) não possui um guitarrista fixo?
Montanha: Por enquanto não encontramos o guitarrista fixo mas faremos mais audições para selecionar um guitarrista em breve e temos o Neemias Teixeira nos teclados como membro fixo da banda.
Fábio: Muitas pessoas acham que ter uma banda é só conseguir tocar as músicas, ir em ensaios e fazer shows. Mas, isso é apenas, e repito, apenas, uma pequena parte de todo o trabalho. Encontrar pessoas que estão dispostas a entender isso e a trabalhar com o afinco, profissionalismo e responsabilidade não é fácil. Com muita alegria seremos daqui pra frente, quatro na linha de frente, como o Montanha disse. Mas estamos fazendo ensaios com guitarristas desde o ano passado, então no momento oportuno, encontraremos alguém, como encontramos o Neme (Neemias Teixeira). E para os shows que já temos, contaremos com um convidado, o guitarrista Vitor Mancini, de Ribeirão Preto.
RR – Tenho a sensação de que todos na banda participam do processo de composição das músicas? Como se dá isso?
Fábio: Sim, todos participam. Nós somos quatro pessoas que convergem para o mesmo lugar. Mesmo que a mesma pessoa traga 10 ideias, todos darão opinião sobre ela. E de alguma forma, nós sabemos muito bem onde cada um se sente mais à vontade. Seja criando um riff, um groove, uma melodia, variação harmônica, nós confiamos uns nos outros e sempre fazemos o que é melhor pra música.
Montanha: Todos temos voz livre para mostrar ideias e trabalhar nelas. Quando um traz uma ideia nós a tratamos com respeito e tentamos fazer algo com ela, todos dão sugestões para transformar esta ideia em algo que se torne uma música, as vezes a ideia de bateria se torna um riff de guitarra por isso que todos participam das composições.
RR – A previsão é que a carreira da banda tenha altos voos daqui pra frente. Como será para os músicos, mantendo residência em São José do Rio Preto? Há planos para uma mudança residencial geográfica?
Montanha: Não há previsão para nos mudarmos, hoje em dia conseguimos nos locomover e trabalhar sem ter que morar em um grande polo como São Paulo e Rio Preto é a nossa cidade de coração.
Fábio: Muito tranquilo. Tudo o que estamos fazendo e faremos, sempre acontece depois de muito planejamento. Então, não importa se teremos que ficar um mês ou mais fora, seja onde for e por qual razão. Iremos, mas voltaremos pra casa. Eu acho que ter um lugar pra voltar que você ama, é uma das coisas que tornam as viagens especiais.
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Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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