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Heavy metal Brasil: Holiness aposta no peso, e a Nervosa, na fúria

Combate Rock

14/08/2018 06h44

Marcelo Moreira

Peso, melodia e fúria. As meninas decidiram mergulhar nas guitarras com som grandioso e denso, além da melodia colocada em primeiro plano – ao menos no caso da banda gaúcha Holiness. Já o trio feminino Nervosa lança novo CD cada vez mais insano e violento.

Stefanie Schirmbeck é a bela voz que embala "Missing Pieces in Time", o segundo CD da banda. É um trabalho que remete às mudanças importantes que envolveram a Holiness – a volta para o Rio Grande do Sul após anos morando em São Paulo e o nascimento do filho da cantora.

A primeira coisa que salta aos ouvidos são as guitarras muito pesadas, bem mais do que no primeiro álbum, que era baseado em um heavy tradicional misturado com um symphonic rock.

Agora tudo é mais sombrio, mais denso e mais intenso. As guitarras estão com uma afinação bem mais baixa, e o baixo estoura nos falantes, bem mais "na cara".

São várias as influências, que vão de Epica e After Foverer até Evanescense. Em algumas faixas, a avalanche sonora quase soterra o vocal de Stephanie, mas a moça segura bem a onda e mostra talento e feeling na faixa-título, em "Reflection" e na ótima "Breaking the Silence".

"Missing Pieces in Time" é uma nítida evolução em relação ao bom disco de estreia, "Beneath the Surface" (2010), tanto em produção, assinada por Wagner Meirinho e Tiago Assolini, como no instrumental.

As baterias de Cristiano Reis estão bem equilibradas e conseguiram um bom entrosamento com o pesado e gordo baixo de Gabriel Astolfi. A lamentar apenas a demora para que a banda conseguisse voltar ao mercado com um novo CD.

Recomeço? Infelizmente não. A cantora revelou recentemente, em entrevista ao portal Deusas do Rock, que a Holiness não existe mais.

"Missing Pieces in Time" demorou três anos para ser gravado e lançado, um período considerado turbulento dentro da trajetória dos gaúchos.

Sem dar detalhes, Stefanie dá a entender que esse período, que coincidiu com o nascimento do filho Johann e com a volta a Erechim, cidade natal da banda, foram definitivos para a decisão de acabar com o grupo.

No momento, a cantora retomou as aulas de canto e técnica vocal e criou um projeto acústico para tocar versões de clássicos do rock em eventos corporativos.

Agressividade ao extremo

As meninas estão furiosas. O que era agressivo ficou mais violento, mais insano e mais tenebroso. A banda Nervosa radicalizou e abraçou o death metal em seu novo álbum, "Downfall of Mankind", que está sendo lançado nesta semana – europeus e japoneses já estão curtindo o álbum há mês.

O trio de meninas de São Paulo navega na contramão de um mercado cada vez mais restrito. Se uma banda underground outrora bem-sucedida, como o Matanza, encerra as atividades por conta de problemas internos e dificuldades de mercado, então podemos deduzir que a coisa para o heavy metal está bem mais complicada.

As meninas estão se dando bem, mas não significa que elas atingiram o olimpo. Com uma demanda crescente de shows internacionais, a banda ainda tem de ralar bastante para garantir o espaço que conquistou.

Se a porrada já tinha sido grande com o álbum "Agony", de 2015, a desgraceira subiu de tom no novo CD, que é o melhor dos três até agora.

A crítica social e política permeia as letras, mas uma música chama bastante a atenção, a única em português. E Fernanda Lira se mostra orgulhosa de "Cultura do estupro".

"Foi uma feliz parceria com o João Gordo, dos Ratos de Porão. Ele escreveu a letra e foi preciso e certeiro. A música transborda indignação e tem o tom feminista necessário para que haja a denúncia. Eu sou feminista, a banda é, e estamos sempre pronta para gritar contra a violência, a injustiça e o feminicídio", diz Fernanda.

Nervosa (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Fear, Violence and Massacre", "Never Forget, Never Repeat" e "Kill the Silence" são os destaques do bom álbum da Nervosa. Não é algo surpreendente, mas mostra uma alta qualidade.

Prika Amaral alterna momentos inspirados nos solos com uma usina de riffs bem executados. Boa guitarrista, mostra uma técnica mais apurada, com muitos méritos na busca por novos timbres e por mais peso. Soa mais rápida, mais violenta, mais pesada. Com o baixo mais presente, quase como uma base, o som que já era encorpado ganha mais volume.

Se Brendan Duffey, o produtor de "Agony", deixou o conjunto mais homogêneo, como uma sonoridade "sólida", ou seja, compacta e sem muitas brechas, desta vez o trio optou por algo mais orgânico, com as guitarras mais na cara, com tudo bem alto, na cara.

"Downfall of Mankind" é uma obra que impulsiona definitivamente a banda para o primeiro time das novas bandas de música extrema da atualidade.

A perseverança calcada na brutalidade é um dos fatores dos sucesso da Nervosa, algo que certamente aprenderam com o veterano e igualmente brutal Krisiun. Portanto, que aproveitemos cada segundo do terremoto sonoro que é o novo álbum.

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Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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